CACÁ
DINIZ
Produtor executivo
O
senhor trabalhou em diversos filmes dos Trapalhões. Como surgiu
o primeiro convite para trabalhar com eles?
A
partir das relações de trabalho com profissionais que faziam parte da “família cinematográfica Os
Trapalhões”. A energia que rolava era luminosa e, durante as filmagens de Os Vagabundos Trapalhões,
aproximei-me do cinema que eles faziam.
Eu queria fazer parte daquele mundo. Surgiu pelo Cinema.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com eles, o senhor já acompanhava os seus
filmes?
Sim.
A televisão foi o veículo de apresentação e convivência, os filmes
desenvolveram uma relação de respeito e amizade.
O
senhor é um dos profissionais que tiveram uma longa parceria profissional com o
quarteto. A que se deve essa longa parceria?
A
felicidade de estar nessa aventura, parceria profissional no sentido mais amplo
e prazer de fazer parte do time, incluindo os profissionais que acompanhavam Renato
Aragão nas diferentes áreas de entretenimento que atuavam (circo, teatro popular,
televisão), enfim era todo “o dia a dia”
de preparação, filmagem e exibição que estimulava querer fazer mais filmes.
Que
de fato, um produtor como o senhor, fazia quando trabalhava com Os Trapalhões? Onde
começava e terminava o seu trabalho?
Começava
no momento em que o Renato Aragão sinalizava que era hora de começar, feito uma
partida de futebol: vestia a camisa e fazia de tudo para jogar os noventa
minutos e, se fosse necessário, jogar a prorrogação e ir para a disputa nos
pênaltis, comemorar com a galera nos cinemas.
Os
filmes tinham como público-alvo só as crianças?
Por
natureza, crianças e cinema se parecem, não como público alvo, mas como essência
da diversão que se estende ao longo da vida.
Os Trapalhões sempre
tentaram criar longos vínculos com profissionais (cineastas como J. B. Tanko,
José Alvarenga Júnior, entre outros). Isso era uma ideia do Renato, de trabalhar
com quem já conhecia?
É a
característica mais gratificante perceber que o Renato Aragão, o produtor sério,
e o palhaço Didi fazem o possível e o que for necessário para manter todos os
profissionais na roda-gigante do processo de criação e execução dos filmes.
Isso exige uma grande capacidade de determinação e energia.
O
cinema dos Trapalhões lançou
diversos profissionais, sejam eles atrizes, atores e técnicos de cinema. Essa
era uma diretriz que Renato colocava para vocês?
Não
como uma colocação, mas como o exercício constante de criação e renovação, procurando
novos caminhos, realização do imaginário pessoal, teimosia de criança.
Quais
as suas principais lembranças de bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
A
simplicidade no relacionamento profissional, algo próximo das brincadeiras da
infância.
Que
tem a dizer do ator Carlos Kurt? Ele tem uma participação muito ativa no cinema
dos Trapalhões.
As
personagens do universo dos Trapalhões oferecem
dezenas de oportunidades de permanência. O ator Carlos Kurt representa essa característica;
e suas atuações se enriqueciam, a cada nova participação.
Dedé
Santana tinha muito interesse na área de direção. Ele dirigiu alguns filmes dos
Trapalhões.
Como avalia o trabalho dele como cineasta?
Dirigir
um filme dos Trapalhões é
um exercício de barganha com o Renato Aragão. Para o Dedé Santana, o desafio
era ainda maior, pois a troca de interesses se fazia também com o Mussum e o
Zacarias.
Qual
foi o melhor diretor dos filmes dos Trapalhões
e por quê?
Todos.
Porque é prazeroso o trabalho, ver as salas de cinema cheias e ver crianças, hoje
adultos, vivendo o imaginário como se tivesse acontecido ontem.
O
cinema dos Trapalhões tinha
como caracteristica a paródia de filmes, contos ou clássicos da literatura
estrangeira. Era uma fórmula que sempre seguiam e deu muito certo. Os críticos
diziam que eles ficavam numa zona de conforto e nunca ousavam. Qual é a sua
análise a respeito?
Zona
de conforto é algo inimaginável para quem faz cinema. Mais de cento e vinte
milhões de pessoas foram aos cinemas, os filmes continuam sendo exibidos. Gerações
se revezaram, diante das palhaçadas do grupo. Esses são os críticos que se
redescobrem há mais de quarenta anos.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Os
quatro com suas particularidades se completavam, e o Renato trabalhava com
segurança para a manutenção desse perfil.
Renato
Aragão tem fama de ser superprofissional, atento do roteiro ao cartaz do filme,
perfeccionista. Isso procede?
Sim,
é procedente. Devo acrescentar que essa busca era feita com muito cuidado e
reflexão, considerando a realização de suas ideias e agregando sugestões de todos
os demais.
Acredita
que o cinema era a grande paixão do Renato, mais que a televisão? Na sua visão,
de onde vinha essa característica tão profissional do Renato? Dedé, Mussum e Zacarias
eram preocupados somente em atuar?
Sim,
vinha do conflito pessoal entre o advogado com formação acadêmica e o menino
travesso que persiste dentro dele. Dedé, Mussum e Zacarias se divertiam com a
confusão que esse conflito gerava e atuavam expondo este paradoxo.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
A
rejeição é parte do processo de criação, é parte das diferenças e diversidades de
situações que envolvem realizações pessoais e exposição pública. E dissolvesse com
o tempo.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Diversão
infantil que atende aos desejos de sonhar, transgredir as regras do universo adulto
e levar à condição humana seriamente bagunçada.
Tião
Macalé era considerado o quinto Trapalhão.
Quais as lembranças dele?
Não
participei dessa convivência profissional. Como espectador, divertia-me muito;
mas não existiu um quinto Trapalhão.
Os Fantasmas Trapalhões marcou
certas rupturas na produção cinematográfica do quarteto. As filmagens passaram
a ser feitas, em sua maioria, em um universo fechado, ou seja, em estúdio.
Cenários e figurinos pré-fabricados se tornaram mais presentes, facilitando a
produção. Isso foi proposital?
É
fundamental entender esse movimento. Foi proposital, mas não por esses motivos.
A criação dos argumentos e roteiros, responsabilidade do Renato, exigiam magia.
A engenharia de arte e produção desenvolveram ferramentas e atitudes com às
quais estávamos identificados e atendiam ao próprio grupo serem vistos nesse
formato.
Outra
mudança é com o dito cinema “social”
dos Trapalhões,
típico de vários filmes anteriores como Os Trapalhões e o Mágico de Oróz.
De quem foi a ideia de seguir nessa diretriz?
O
cinema é social por legitimidade, por atestado de nascimento. As diretrizes, análises
pueris e fantásticas não se encaixam nesses condicionamentos racionais.
Os Trapalhões tinham
também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a
intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de
espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo,
tornou-se frequente, a partir desse filme, a presença de personalidades da tevê
como, por exemplo, o grupo Dominó e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer,
pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
É da
natureza do cinema ser infantil, ser juvenil, ser adulto. Não se obedece a uma
exigência, faz-se com prazer e da melhor forma possível.
O
senhor acompanhou Renato Aragão em filmes solos, os mais recentes. Na sua visão,
que mudou em Renato Aragão e o seu cinema, daquele tempo e o de hoje?
Não
foi o Renato Aragão e seu/nosso cinema que mudou. O time não é aquele que nos
encantava com suas palhaçadas. Não se explica ou se justifica, apenas sentimos
sua presença e sua ausência.
Gostaria
que contasse uma história curiosa, desconhecida, que o senhor tenha sido
testemunha ocular.
As
cenas de brigas e de conflitos físicos eram uma constante no dia a dia das
filmagens. Numa delas, o diretor empolgou-se e entrou numa de filme de Ação; e a
sequência foi perdendo a graça. O Renato (Didi) em cena, parou tudo e explicou que
esse não era o filme que estava roteirizado: a gente bate, a gente briga; mas é
carinhosamente.