quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Rafael Spaca


O CURTA-METRAGEM NO CENTRO DAS DISCUSSÕES

Por Camila Lopes Val

No último dia 21 de agosto o blogue Os Curtos Filmes (http://oscurtosfilmes.blogspot.com/) comemorou três anos de existência, porém, engana-se quem pensa que Rafael Spaca, radialista formado na Universidade Metodista de São Paulo, começou a desenvolver o trabalho nesse tempo.

Sua experiência profissional forjou uma ideia que iniciou quase dois anos antes, quando ingressou como animador cultural do SESC. Foi lá que desenvolveu o projeto ‘Hora do Curta’, onde exibiu mais de cem filmes em um ano e meio de atividade que começou a olhar com mais atenção para o curta-metragem.

“Exibimos filmes de vários locais do país e à medida que as exibições começaram a ganhar mais simpatia do público que, a priori, tinha uma resistência ao formato, comecei a identificar falta de informação e divulgação ao curta-metragem”.

Seus ciclos começaram a ganhar destaque na programação do SESC e conseqüentemente matérias começaram a ser publicadas em vários jornais, revistas e até televisão.

“Lembro que a Revista E (publicação editada pelo SESC SP) deu grande destaque para o ciclo que programei sobre o trabalho do Fernando Sabino como cineasta”. O ciclo que Rafael Spaca se refere é uma série de documentários que o escritor realizou junto com David Neves sobre a intimidade de gênios literários brasileiros. “Ali eu vi que poderia contribuir para a nossa cultura cinematográfica elaborando uma tribuna de discussão em torno do tema”, conclui.

As idéias começaram a ganhar corpo e o intuito era oferecer ao público um serviço diferente. A internet, infestada de sites e blogues (muitos não duram seis meses de existência) de tudo quanto é tipo, não tinha um blogue que debatesse, discutisse e desse espaço para profissionais de todas as áreas do cinema.

“Comecei a entrevistar pessoas que eu já conhecia, afinal, como o blogue não estava na internet ainda, muitas pessoas não quiseram falar com uma pessoa que representava um projeto que não estava concretizado”.

Com o acúmulo de entrevistas, todas elas feitas pessoalmente com um pequeno gravador, Spaca decidiu que era hora de lançar o blogue.

“Minha primeira entrevistada foi a Helena Ignês (atriz, musa do cinema marginal), fui até a sua casa e conversamos sobre cinema por um bom tempo”. Dali em diante Spaca se encontrava com atores e diretores antes ou depois das sessões teatrais na capital e em produtoras de cinema. Essas entrevistas eram feitas entre uma folga a outra do seu trabalho.

Os deslocamentos eram grandes e tudo foi feito de transporte público, o que tornava a rotina bem cansativa.

O blogue registra, desde 2008, entrevistas inéditas e exclusivas sobre cinema com personalidades da área, desde diretores, como Toni Venturi e Kiko Goiffman, passando por atrizes, como Bianca Rinaldi, Simone Spoladore, até produtores da chamada Boca do Lixo, como Antonio Polo Galante. O enfoque é sempre para o curta-metragem e esse ano a página atingiu a marca de 200 entrevistados.

Também oferece aos leitores a série “5 Estrelas da Boca”, uma espécie de fotonovela que narra, em primeira pessoa, as histórias de cinco expoentes da Boca do Lixo. A primeira homenageada foi Nicole Puzzi (protagonista de filmes como ‘Ariella’; ‘Eros, o deus do amor’), cujas fotos de sua trajetória artística podem ser conferidas no blog. Nomes como Débora Muniz (‘A quinta dimensão do sexo’; ‘Gata da Noite’) e Zilda Mayo (‘Tara das cocotas na Ilha dos Pecados’; ‘Pecado Horizontal’) serão contemplados nas próximas edições, que acontecem anualmente.

Desde julho o blogue conta com quatro colunistas: Rejane Arruda (pesquisadora e atriz); Carlo Mossy (produtor, roteirista, diretor e ator); Nilson Primitivo (cineasta) e Kassandra Speltri (atriz e figurinista) que irão publicar mensalmente, artigos dedicados ao cinema.

O blogue também realiza um trabalho de memória, onde Spaca resgata textos e lembranças de um dos maiores nomes do cinema nacional: Rubens Francisco Lucchetti (roteirista de filmes do Zé do Caixão e Ivan Cardoso).

A síntese é uma das suas marcas registradas. Além de abordar o curta (metragem que pode variar de quinze a vinte minutos no máximo), suas entrevistas são compostas de no máximo seis questões. “Fiz isso pensando no dinamismo da internet, cada vez mais veloz, eu mesmo não gosto de ler textos longos no computador!”.

Mas haverá uma exceção, “estou preparando um material histórico, extenso, sobre R.F.Lucchetti”. Esse material Spaca não revela em detalhes, mas está há quase dois anos trabalhando nisso. “Devo publicar no final do próximo ano”. Eles se comunicam por cartas, o que torno o trabalho mais moroso, mas fez com que se aproximassem e hoje são grandes amigos. “Lucchetti é uma figura extraordinária, a homenagem é mais do que justa”, diz Spaca.

Nesses três anos de existência o blogue acumula uma média de visitação diária de 3 mil pessoas, um público composto por estudantes, profissionais de comunicação (rádio, Tv e cinema), jornalistas e amantes da cultura em geral.

Sua paixão por cinema não se restringe a elaborar ciclos e mostras pelo SESC e a sua tribuna na internet, Spaca já realizou dois curtas e tem planos para dirigir mais. “quando fiz o Tarifa R$2,30 e Tarifa R$2,30 – o retorno, enviei o link para dois cineastas e pedi a opinião a respeito”.

O curta foi filmado de seu aparelho celular e é um traveling que segue do terminal Parque Dom Pedro até o terminal Sacomã, os cineasta fizeram o seguinte comentário:
‘Rafael, você se comporta como um digno discípulo de Kiarostami. Parabéns!’Jean-Claude Bernardet (cineasta, crítico e escritor)‘Assisti ao Tarifa R$2,30 e gostei do seu radicalismo. "Minimalista" não no sentido da repetição, mas da célula única, faz com que nós, ao invés de nos relacionarmos com a cidade/paisagem através da janela, nos relacionemos com nós mesmos assistindo a cidade/paisagem através da janela. Mergulho interior através da imagem exterior.’Lina Chamie (diretora cinematográfica)
Cada vez mais citado, o blogue repercute e cresce a cada dia. Prova disso é a parceria com o FIIK, que irá permitir ao público a utilização de seu conteúdo e troca de saberes.

Seu fôlego para o trabalho nos permite dizer que será um dos nomes para o futuro.


Íntegra da matéria publicada na Revista ‘Cinema Caipira’, setembro de 2011.