Moacyr Scliar é um dos maiores nomes da nossa literatura.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Uma importância muito grande. Vários excelentes cineastas que conheço fazem ou fizeram curtas, assim como vários escritores fazem ou fizeram conto. Tanto o curta como o conto não são apenas uma introdução a um gênero mais longo; tem sua autonomia própria, capaz de transformá-los inclusive em obras-primas.
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
É uma questão de mercado: não dá para fazer uma sessão de cinema com um curta ou com vários curtas. Curtas não aparecem na premiação do Oscar. Daí o menor interesse da mídia (geral, não especializada) no gênero.
O senhor escreve conto e assim trabalha com a síntese. O conto é o parente mais próximo do curta-metragem?
Como disse acima,vejo uma equivalência entre conto e curta. Nos dois casos a síntese é fundamental, e isto exige um talento muito especial.
Como é trabalhar com a síntese?
É descobrir aquelas poucas palavras, ou aquelas poucas cenas (no caso do curta) que vão transmitir ao leitor ou ao espectador uma mensagem abrangente, resumindo, por exemplo, o drama de uma vida inteira.
Um dos seus romances, ‘Sonhos Tropicais’, foi adaptado para o cinema, sob a direção de André Sturm. O que achou da adaptação do seu livro? Qual é o ganho e a perda ao transpor uma obra literária para o cinema?
Gostei da adaptação de "Sonhos Tropicais", capta muito bem a trajetória de Oswaldo Cruz. Na transposição de um livro para a tela tudo pode acontecer: um livro bom pode dar um filme ruim, um livro bom pode dar uma filme bom, um livro ruim pode dar um filme bom e um livro ruim pode dar um filme ruim. É outra linguagem, que exige um talento diferente do talento literário.
Tem algum projeto no cinema?
Sim, está sendo produzido um documentário sobre minha obra. Ah, sim, e sou um escritor cinéfilo: escrevo como quem está olhando o mundo e a vida através da lente de uma câmera...