Com trabalhos respeitáveis no teatro e cinema, Djin é uma atriz de destaque no cenário brasileiro.
Qual é o grande barato de um curta-metragem?
O curta-metragem possibilita fazer todas as experiências, você pode em um curta colocar suas idéias, a sua criatividade de uma forma muito mais abrangente com custo, entre aspas, zero, isso a gente já está começando a fazer com o longa, imagina ter uma câmera na mão, conseguir fitas HD ou mini DV, uma turma bacana, com uma idéia bacana e fazer as vezes um filme realmente criativo, original, inventivo, porque o curta, ele possibilita você, a exercitar sua imaginação, sua criatividade, sua linguagem, e já num longa é um pouco mais complexo, não falando da questão financeira, estrutural de como fazer um longa-metragem, mas também a questão de estrutura mesmo, do roteiro, de como manter um história interessante, então o curta ele é a porta de entrada para você se tornar um criativo e bom cineasta.
O curta tem um poder de síntese muito grande. Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo? Passar uma mensagem em tão pouco tempo de metragem?
Esse é que é o lado interessante e contraditório, ao mesmo tempo você fala, ah isso é fácil fazer um curta, mas tem esse outro lado, esses dias eu estava pensando no ‘Festival do Minuto’, como é que você conta uma história, não de uma forma, enfim, você pode contar de diversas formas, pode não ser uma história linear, pode ser uma história que não seja uma história, mas que passe sensações, que passe imagens, em um minuto, como é que você consegue em um minuto passar uma idéia, ou uma sugestão, o que você consegue passar em um minuto. Isso é um exercício fabuloso, porque como é que você conta sua proposta em tão pouco tempo, e o curta-metragem é mais ou menos isso, as vezes você tem 10 minutos, mas como é que você sintetiza um pensamento, uma idéia em um tempo mais curto, de uma forma objetiva, criativa interessante, eu acho que quando é bem feito, é fabuloso.
Para uma atriz, para um diretor, ele gosta de ver o seu filme sendo visto por milhares de pessoas, e o curta é meio marginalizado, tem pouco espaço, agora recentemente com sites, como o ‘Porta Curtas’ e o próprio Youtube! consegue dar uma alavancada. O que você acha que tem que fazer para o curta ser mais visto mais visto, tanto pelo público quanto pela crítica dos jornais que não saem quase nada de matéria?
Esse público, jovens, o público mesmo, não só pessoas relacionadas a nossa área, a área audiovisual, mas se interessam pelo curta, eu vejo amigos meus que se formaram em áreas distantes da área digamos assim, cultural, e tem interesse em curtas, acho que a questão maior é a forma de ser colocada, entre aspas, no mercado, na verdade o curta não vem com essa proposta de você ganhar dinheiro, de você ficar rico, enfim, já é difícil com o longa, imagine com o curta, é você conseguir inserir ele dentro da própria programação da semana, teve uma época que no espaço Unibanco estava exibindo em certos horários uma sessão de curtas, incentivar cada vez mais, inserção dos curtas-metragens antes dos filmes, como foram feitos nos festivais, em todos os festivais você vai ver um longa-metragem, mas se antes não tiver dois curtas, então isso é um exercício que deve ser feito por esses pensadores e pelo Ministério da Cultura, pelo Audiovisual que insira mais, não uma coisa obrigatória, mas prazerosa de ter dentro da programação dos cinemas.
O que te faz aceitar participar de um curta, de fazer um curta, o que te leva a fazer?
Sempre é a proposta, o que é o tema, como é feito, escolha uma linguagem, para mim sempre me chama atenção o personagem e o contexto, o que está propondo, qual é a mensagem, se tem mensagem, se não tem mensagem, se é uma linguagem menos convencional, isso é o que acho que atrai sempre um ator a querer fazer um trabalho.
O curta, isso eu tenho visto com as próprias pessoas do meio, ele é marginalizado até pelas pessoas, às vezes o diretor começa com o curta, ganha projeção, vai para o longa e nunca mais volta para o curta, uma atriz quando ela não está com uma peça, não está em uma novela, não está com um filme em longa, ai aparece de fazer um curta, aí ela faz, assim, mas nunca é uma coisa que está em primeiro plano. Você acha que o curta é considerado até um gênero menor pelas pessoas do próprio meio?
Não, acho que um gênero menor não, claro que eu não posso responder por todos, mas isso é uma pena se o pensamento for assim, pelo contrário, como eu volto a dizer, é um exercício interessantíssimo e quantos maravilhosos grandes cineastas não fizeram um curtas, melhores que muitos longas, então é ingênuo você achar o diretor, claro que há uma tendência dos diretores começaram através do curta e depois exercerem enfim, longa-metragem, mas você pode ter a chance de trabalhar com um cara extremamente talentoso, criativo, bacanérrimo, se você achar, nossa é curta eu não vou fazer, isso é muito pequeno para o ator, tem que nesse sentido, eu acho que é um pensamento menos interessante, e eu procuro não pensar assim, é de você achar que, ah porque o curta, entre aspas, não tem uma visibilidade tão grande então eu não vou fazer, uma questão mercadológica. Se você tem essa postura perante o seu trabalho sempre, claro, tem atores que são completamente comerciais, querendo analisar um retorno de dinheiro, mídia, não é o meu caso, eu optei para essa carreira por uma paixão, por um ideal, então se eu tiver a chance de fazer um curta criativo, interessante, eu faço, é um desafio tão interessante quanto um longa-metragem, mesmo que seja menos visto, porque eu vou batalhar para que o filme seja visto, para que passe nos festivais, que alguma coisa fechada, enfim, que não é para o grande público, mas é um trabalho que eu vou ter todo orgulho de ter feito.
Você estava falando da linguagem do curta, eu conversei se eu não me engano foi com João Batista de Andrade, e eu falou que o curta é o grande movimento de cinema que temos hoje, porque os longas estão dentro dos tramites do cinemão e o curta permite fazer experimentações, tanto dar uma liberdade para o ator, quanto para o diretor. Você acha que talvez essa não pressão do mercado favorece a experimentação?
Eu acho que não é a questão da não pressão do mercado, eu acho que tem uma pulsação que a maioria é jovem que está ali buscando sua identidade, buscando a sua linguagem mesmo, digamos assim, não digo que todos, mas uma boa parte sim, então o curta permite isso, você se expressar como você é, eu acho que alguns tendem, depois de certo tempo que entram no mercado, tem que responder por um certo nome, e acaba entrando para um caminho que eu acho menos interessante, e o que agente tem visto é que o público de alguma forma também percebe isso, porque fica um negócio quadrado, sem nenhum charme , igual a todos os outros, então acaba nem ficando interessante, e também não tem retorno de público, fica algo no meio do caminho, eu acho que os cineastas jovens, hoje que estão procurando uma linguagem ou algo menos convencional, do que tem sido feito.
Você falou que optou pela carreira por ideal e tudo mais, você já pensou que atrás das câmeras talvez um dia produza um curta, um filme, ou você acha que a sua tarefa é na frente?
Direção sempre foi uma coisa que, naturalmente, instintivamente, sempre me rondou, e até no teatro eu produzi um programa, morei dois anos na minha terra, e produzi um programa cultural sobre a cidade de Londres, sempre tive um ‘Q’. Acho interessantíssimo, acompanhei todas as filmagens, tenho um projeto, que agora ficou um pouco de lado, chamado ‘Peixe Pequeno’, na verdade era uma co-direção e eu sempre tive um olhar apaixonado pela direção, eu quero exercer essa função de estar atrás das câmeras, um olhar para os planos, para a direção de atores, algo que me fascina, eu até brinco, que eu gostaria de ser no futuro, com pessoas muito próximas, que eu gostaria de trabalhar, e ter um trabalho quase que como um colch, que é uma direção pessoal com o ator, que é extremamente interessante, buscar os estímulos, o que faz o ator agir dessa forma e não assim, e da mesma forma em um plano maior, na direção da misancene, entender um pouco mais sobre luz, eu tenho muita vontade sim de passar por essa fronteira e no futuro dirigir.