terça-feira, 20 de julho de 2010

Pedro Paulo Rocha



Cineasta e artista multimídia, filho de Glauber Rocha. 

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Os curtas sempre foram uma possibilidade criativa para jovens cineastas materializarem suas primeiras pulsões inventivas. O curta não deve ser pensando somente como uma ponte para o longa. Acredito que o curta é um formato que converge esteticamente com as novas mídias (câmeras digitas, internet, celular, a explosão de micro telas, e novas formas de difusão digital ). Apesar das salas de cinemas ainda excluírem os curtas, apenas abrindo pequenas exceção na sua programação para exibi-los, o formato do curta por seu tamanho, custo mais baixo, e a maior possibilidade de liberdade estética, apresenta-se atualmente com enormes possibilidades de penetração, podendo inclusive criar novas experiências no mercado. A sua importância histórica passa pela sua atualidade e sua força para romper com os ciclos viciados de exibição e produção que o prende ao modelo do mercado do longa. A realização de curtas é uma abertura para entrada de novos cineastas no circuito segmentado do cinema. Um convite para quem quer se aventurar na experiência do cinema. Sua importância histórica passa por sua atualidade e capacidade de se re-inventar sem enquanto modelo de cinema, sem reproduzir o modelo do longa metragem. o curta precisar sair da sombra e do complexo de inferioridade nesse mercado pouco explorado. O curta precisa se afirmar no universo das novas mídias. Junto com o documentário é um dos únicos gêneros que se inovam sem amarras. Nada mais atual para o cinema brasileiro do que fugir dos coro dos contentes que adoram apresentar numero para justificar o dinheiro investindo e anemia inventiva da linguagem. O curta nos liga a nossa memória mais recente que parece esquecida, que desde do cinema novo, cinema marginal, vídeo arte - gênero em que o formato do curta é dominante. por que o longa é mais privilegiado? A importância dos curtas é a sua invenção na atualidade tecnológica. Diante de um mercado que tem medo de inovar, o curta que pode passar em todo tipo de telas, com diversos tamanhos, é o nosso mangue do cinema, a fertilidade inventiva tão em baixa na anestesia de qualidade da imagem e na comunicação estilo telenovela que os filmes reforçam na redundância absurda que vemos na telonas. 

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Claro que existe um esmagamento do curta devido a hegemonia cultural dos longas, legitimado pelo jornalismo cultural e a critica geral. é um ciclo redundante sem fim, mercado, publico, grana, preconceito, medo de inovar no mercado. Mas o que importa por outro lado é não se vitimizar, e sim utilizar as brechas, busca inovações. Os curtas podem superar esse modelo imposto pelo longa e abrir caminhos meio a segregação, assim como o documentário. o subterrâneo , a invisibilidade, os guetos, a cidade, a internet esta repleta de mundos simultâneos, de pessoas criando. Existe muito mais do que a mídia oficial ou o mercado. A informação explode nos espaços de interação e rede virtual, mas é necessário deixar de aceitar o lugar que foi dado ao curta, e isso começa pelos cineastas e o carreirismo, o estrelato cinematográfico tupiniquim. competimos, sem nos unir. o ego parece mais importante do que a cultura. O curta tem que superar seu complexo em relação ao longa e dispor de estratégias, ocupar o espaço virtual, utilizar a mídia pirata, criar um mercado informal para sua difusão. Invenção e artesanato eletrônico digital, conexão, interação, micro telas.. Estamos em uma época de expansão de formas de cinemas cada vez mais híbridos, e muito próximo das pessoas, formas de linguagens que escapam desse modelo de mercado e de publico de massa, de números enormes, da corrida de uma industria que deveria inovar em mais modelos, multiplicá-los, e não apenas impor os sucessos, segregando o mercado que pode e deve emergir na convergência do cinema com as novas mídias. O espaço virtual da internet é a prova disso, onde predomina também o formato do curta, pocket filmes, micro-filmes, fragmentos de longas. A mídia oficial , os jornais não são o mais importante, existe a mídia urbana, a mídia virtual, nômade, a pirata, a mídia informal, onde corre e surge as coisas mais interessantes, não simplesmente diversas, mas múltiplas, eis a diferença. Acho absurdo não haver uma distribuidora, uma rede de distribuição independente. Uma Programadora de curtas construída pelos próprios realizadores em que eles experimente estratégias para abrir de vez o espaço do curta. É o momento de superar, complementar modelos, ampliar experiências, arriscar. A justificativa econômica e preconceito estético de mercado não devem barrar o curta e os novos gêneros de audiovisual que estão surgindo. Temos que complementar e ampliar o espaço os festivais, vivencias as redes virtuais e ocupar os espaços informais que as novas mídias possibilitam.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Se não mudarmos as coisas, infelizmente não... mas creio que o cinema de maneira geral virou o próprio trampolim para um poder segmentado...isso é reflexo do atrofiamento critico-inventivo que viemos sofrendo. o cinema é especialmente invenção, não é venda de produto a partir de formulas de comunicação que as novelas e a publicidade nos acostumaram. Cinema é bem mais, mais ainda, é imaginação, sonhos, idéias, algo para ser sentido, visto e ouvido. nos faz perceber que o olho pode imaginar mais do que se impõe na realidade pelos sentidos. O carrismo e o idealismo faz do cineasta um obcecado por um sucesso sem sentido. Fica esperando a resposta do publico e da critica sem ultrapassar os limites de sua arte. Quer dizer, se não interessar ao cineastas tirar o curta do limbo, a quem vai interessar? o novo tipo de cineasta que surge na cultura virtual das novas mídias não será mais o artista puro de um so oficio, o romântico a espera do patrocínio para embasbacar o publico com repetições de televisão. trata-se de uma artista híbrido, impro, intermídia , crossover, mergulhado em universos plastocosonoros que nada tem haver com o cinema que conhecemos. 

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sem duvida...talvez esse seja o maior motivo...como os cineastas tratam o curta...

o cinema em geral precisa se abrir a outras áreas, experimentar nomadismos, as misturas....

Conte como foi filmar "Kynemas, fluxuz filmes)", seu processo de criação, produção e direção.
Os kynemas é um filme que foge os padrões do cinemão e se alinha mais com um tipo de cinema novo ligado as formas expandidas do audivisual - cinema expandido, transcinemas, novas mídias. Os kynemas é uma obra eletronica aberta a varias versões, um filme em fluxus em que cada imagem pode ser recombinar a outra. Um filme-processo, filme de montagem e derivas pelas cidades. Os kynemas é também uma experiências com o formato do curta - da versão longa do filme eu criei uma serie de interfilmes feito de pequenos trechos do filme que podem ser recombinados. esse filme me permitiu nomadizar, atravessar barreiras de linguagens e adentrar em novos territórios poéticos, mais cinéticos do que cinematográficos. Como um artesão eletrônico filmei, montei, criei musicas, poesias. O vídeo, a arte eletrônica, artesonora, as artes plásticas, a poesia, o documentário, a arte de devira, filosofia, todo tipo de cinética, de imagem e som em movimento. Esse ano vou realizar uma serie de exibições especiais do projeto e lançar uma exposição multimídia com a memória do filme e suas varias versões. 

Qual é o seu próximo projeto?
Alem de continuar os kynemas , que é fluxuz, ininterrupto, uma experiência em que pretendo levar ao limite a idéia de recombinação de imagens e sons, e mesmo, provocar o padrão e gosto do mercado, estou também preparando uma serie de filmes para televisão , chamado Transcinemas. Meus trabalhos são transdiciplinares, gosto muito de pesquisar , escrever e criar laboratórios de cinema para estimular a criatividade poética. Preparo também alguns roteiros para novos filmes e projetos de multimídia. Geralmente faço varias coisas ao mesmo tempo, gosto do kaos, de desviar, de achar coisas inesperadas no meio de projeto, isso para não me entediar.