domingo, 6 de março de 2011

Alfredo Sternheim



Alfredinho, como é carinhosamente conhecido, foi um dos maiores cineastas da Boca do Lixo de São Paulo. Além de diretor, é escritor e colunista.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não só a de revelar talentos e sensibilidade, mas também de registrar aspectos da nossa realidade, nossa cultura. Por isso, curtas como os feitos pelo antigo INCE (Insituto Nacionalo do Cienam Educativo) que antecedeu o INC, como "Mário Gruber", "Alberto Cavalcanti" divulgaram a vida e a obra de muitos criadores artísticos. E mesmo aqueles caprichados institucionais de Jean Mazon, hoje são datados mas importantes pela realidade que registram. A realidade oficial e não oficial.

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Não são só os curtas que não têm espaço na mídia. Os DVDs (o que tem de filme inédito no cinema que]ganha lançamento só em DVD), o teatro, a ópera, não têm vez nos jornais. E até mesmo atividades relevantes como a da Câmara dos Vereadores de SP ou dos deputados estaduais, não se vê uma linha. A imprensa ficou pequena. A mídia ganhou espaço na Internet, mas esse espaço é mal aproveitado.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Não sei dizer. Talvez a volta da antiga lei de obrigatoriedade do curta nos cinemas. Porém, não poderiam (como ocorria na época) ter mais de 11 minutos. Ou uma lei obrigando a cada dois lançamentos de longas, o terceiro vir acompanhado de um curta nacional. Afinal, o exibidor nos obriga a ver publicidade (mais de 3 minutos)... e cobra caro o ingresso.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, mas não é o ideal. Mesmo quando o diretor visa fazer longas. Eu fiz oito antes de estrear no longa. E só fiz 3 curtas depois que dirigir longas, porque era muito difícil encontrar produção para o curta.

Qual o legado que a Boca do Lixo deixou para os curtas?
Para os atuais diretores, creio que a Boca, ou a maioria de seus cineastas, respeitava a linguagem cinematográfica. E isso, essa falta de respeito e excesso de vaidade que compromete o ritmo, noto existir com freqüência. A Boca também deixa o legado do respeito ao orçamento e a preocupação em atingir o público, algo que hoje, com as verbas vindas do mecenato oficial, deixou de existir. Pelo menos parcialmente.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não, não é. Como disse antes, as dificuldades para encontrar produção para um curta quase são maiores do que para um longa.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Gostaria, mas estou sem animo e força física para ir atrás de produção, dentro do mecanismo atual (renúncia fiscal, concursos, editais, etc).