A Panorâmica de Rogério
Sganzerla
Por Sérgio Pinto de Almeida
Publicado no Estado de São Paulo
em 28 de maio de 1988.
Trecho da entrevista, Rogério,
entre outras coisas, lamentava o fato de não ter conseguido verba para realizar
seu filme (a vida de Noel Rosa) e dizia também que era preciso repensar o
cinema no Brasil.
Mas o nosso cinema
faz jus ao público?
Não tem feito. O cinema brasileiro mudo, o cinema da década
de 1930 e dos 1940 é muito bom. A chanchada foi um grande momento do cinema
brasileiro. Tinha público, era popular e de boa qualidade. Eu defendi a
chanchada em 1967, 1968, o que era revolucionário, e não a pornochanchada, que
não é nada, não é gênero. A pornochanchada foi feita principalmente pelos
exibidores, porque foi a forma que encontraram para corromper uma moeda boa.
Jogaram detritos, uma moeda ruim no mercado que corrompeu e desmoralizou nosso
cinema. Quando se percebeu que havia manipulação na distribuição de recursos
para a produção de pornochanchada, aí o cinema brasileiro perdeu muito de sua
credibilidade. O público da pornochanchada foi caindo acentuadamente, e o
cinema nacional não o reconquistou. Não adianta, o público sente quando é
enganado, fareja o engodo. Hoje sobrou o mercado de cinema brasileiro para os
Trapalhões e a Xuxa. Só...
Você dirigiria um
filme dos Trapalhões?
Claro. Eles chegaram a convidar o Cacá Diegues, que estava
envolvido com a produção do Quilombo e não pôde aceitar.
Mas dirigir Os
Trapalhões não seria contraditório para sua trajetória?
Não, tanto que em 1969 um sujeito me convidou para fazer um
filme com o Teixerinha, e eu achei a ideia ótima. Só não aceitei, porque já
estava fazendo outro filme. Cinema é comércio, é indústria, não é museu.
Mas daria para criar
algo pessoal com Os Trapalhões?
Sem dúvida. A comédia é o gênero mais sofisticado, talvez o
mais importante gênero do cinema. Meu filme, A mulher de todos, que tinha muito de comédia, custou metade do Bandido da Luz Vermelha e rendeu o
dobro. Além do que sou uma pessoa
humilde, não tentaria impor aos Trapalhões o meu estilo, porque eles têm um
estilo, e o cinema se dá na frente da câmera e não atrás. Claro, quando não se
tem nada, se cria, se imagina um enquadramento, um movimento de câmera, mas o
fundamental é o ator. Com os Trapalhões se tem uma multiplicação de atores.
Claro que não me chamarão nunca, mas eu toparia até fazer um teste com eles. Eu
sei a carpintaria do cinema, a agilidade que eles precisam nas piadas e cenas.
Isso me interessa e só pode ser feito com a tranquilidade que o dinheiro dá.