A atriz foi indicada três vezes ao Grande Prêmio Brasileiro de Cinema, na categoria melhor atriz por ‘Desmundo’ (2002), papel o qual ganhou um APCA, e na categoria melhor atriz coadjuvante por ‘Lavoura Arcaica’ (2001) e por ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’ (2006).
Simone, fale um pouco da sua experiência com o curta.
Eu acho o curta muito interessante porque em pouco tempo você tem que comunicar muita coisa. A pessoa que cria e vai escrever o roteiro, tem que ser muito preciso no que ele quer, no que ele tá querendo com aquele curta, e os atores também, porque a gente tem pouco tempo em cena e a experiência acaba sendo muito intensa, muito presente, temos mesmo que aproveitar os instantes e descobrindo, acho que eu tenho algumas experiências bem diferentes com curtas, uma experiência que me marcou bastante foi o ‘Dramática’ da Ava Rocha porque a gente construiu o curta muito juntas e isso foi muito legal. Eu recebi o roteiro em casa, ela não me conhecia e me convidou para fazer, e aí a gente começou a se encontrar, e a gente ficou um ano nesse processo de encontros para fazer o curta, era para ser parte da filmagem a primeira vez que a gente participa do carnaval do Rio, a gente fez um improviso lá, mas aí a gente demorou um ano para retornar ao carnaval, então aquelas imagens ficaram como se fossem parte da pesquisa, e a gente refez tudo no carnaval de novo.
Mas foi muito legal esse tempo, outros curtas são feitos de uma maneira mais rápida, mas esse curta especialmente demorou um ano para fazer, ela demorou muito mais certamente, porque ela deveria estar com isso na cabeça há muito tempo, mas meu encontro com ela até o curta finalizado, pelo menos na parte de filmagem, demorou um ano e isso foi muito legal, porque a gente foi construindo juntos o personagem, e conversando, e como a gente teve que ficar improvisados no carnaval eu pode contribuir mesmo para a forma do personagem, e até para forma do curta, que eu, não somente eu, claro, eu, Cristiano e Rodolfo. E outra coisa, como nós ficamos íntimos da Ava, amigos assim, é claro que a gente vai para o set de uma outra maneira, que a gente pode correr mais riscos e ela estava mais atenta ao que agente estava fazendo e deixando a câmera aberta para a gente poder brincar e improvisar mesmo. Então essa foi minha experiência com a Ava.
Agora tem outras experiências, tem a Alice, por exemplo, o Rafael que foi assistir uma peça que eu fiz e escreveu o curta por causa da peça, e fui fazer lá FAAP e daí foi uma outra experiência que a gente não se encontrou, acabou não tendo ensaios né, tudo muito descoberto na hora mesmo, e a gente foi fazendo, mas eu acho que todas as experiências se complementam sabe, tem realmente trabalhos, eu falo de longas e curtas, que você precisa de uma preparação assim, mas tem outros trabalhos que quanto menos preparar, melhor! Trabalhos que não precisam preparar mesmo. Aí eu me lembro de uma coisa que a Juliane Moore até fala, ela diz que não estuda nada para os seus personagens, e que às vezes dá muito certo e que ela chega e descobre ali na hora, e tem vezes que ela não descobre o que era aquele personagem. Mas é claro que também trabalhar, estudar e pesquisar é parte do processo, cada filme tem seu processo próprio.
O curta tem o poder de síntese muito grande, e assim, tem pouco tempo para contar uma história. Para uma atriz, como é esse processo como você falou, tem gente que se prepara mais, tem gente que não se prepara, como é esse processo de construir um personagem para um curta-metragem, não tem muito tempo para preparar ele, no próprio enredo já tem que estar pronto?
Então, na verdade acho que não tem disso que tem gente que se prepara e gente que não, tem processos, eu às vezes me preparo, às vezes não, isso depende de como esse processo vai acontecendo, isso depende de tudo, do tempo que você tem, da relação que você tem com o diretor, é claro que de uma maneira ou de outra você está sempre se preparando, porque mesmo que você não ensaie, o filme fica agindo inconscientemente em você, isso é que eu percebo bastante, tenho percebido muito, você lê lá o roteiro e você nem está pensando, você nem está estudando o roteiro ou lendo uma coisa para complementar, você tá tomando um café assim, e vê a imagem do personagem ou vê uma pessoa que lembra seu personagem, uma situação que você lembra daquilo, você não está trabalhando, mas está trabalhando o tempo todo na verdade, principalmente porque agente trabalha mesmo com o que esta na vida, com o que é fantasia também, é claro, mas as coisas vão se complementando.
Então, eu na verdade ainda não sei, ainda não existe para mim uma técnica, um método de trabalho de falar, para o curta eu me preparo sempre, não sei, é um processo de descoberta cada vez, e tem muito dos encontros com as pessoas, isso que eu acho bem bonito assim, o próprio trabalho se revela no encontro que você teve com a pessoa, é a maneira que as pessoas vêm para falar com você para fazer o curta, é como elas se aproximam, o que ela diz, o que ela não diz, isso que vai invernando o próprio processo. Por exemplo, no ‘Dramática’ a gente teve um processo mais longo, então deu tempo, ela deu livros para ler, tinha complementado, víamos filmes juntas, ela me indicou vários filmes para eu ver, várias possibilidades de você se aproximar.
Você acha que da para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Acho que é como um conto, até estava lendo Dalton Trevisan antes de assistir a peça agora do Felipe Hirsch que é maravilhosa, e ai ele diz, o Dalton diz, que uma vida inteira é pouco, acho que com o curta deve ser a mesma coisa. Uma vida inteira deve ser pouca para fazer um curta.
O que te atrai, é a historia, é a maneira experimental, trabalhar com um jovem diretor, um roteiro, o que leva fazer um curta?
Acho que tem duas coisas importantes assim, o roteiro mesmo, aquilo que aquela personagem te manifesta naquele roteiro, às vezes até o seu momento assim, tem vontade de fazer um tipo de personagem, não um outro né, sei lá, e a maneira que a pessoa, como ela encontra, como eu te disse, e aí a outra questão que eu experimentei fazendo esses curtas de trabalhar com pessoas da minha geração, aprendendo juntos mesmo. Isso foi com o Eduardo, com o Rafael, com a Ava.
A Ava, o Eduardo e o Rafael são da minha idade praticamente, é maravilhoso porque a gente está construindo uma coisa juntos, então assim, eu estou aprendendo com eles, eles estão aprendendo comigo e eu acho que o trabalho sempre melhora assim quando o trabalho é de parceria, isso em todos, em longas em tudo.
A atriz, assim como o diretor, eles sempre querem ser vistos por várias pessoas, quer mostrar seu trabalho, e uma maior amplificação desse trabalho melhor, para dar visibilidade, porque ele quer levar para as pessoas, e o curta ele é restrito a poucos lugares que exibe e o publico é meio que seletivo. Isso de certa forma chateia, o que poderia ser feito?
Acho que dá pra fazer o que esta sendo feito de uma maneira, eu não saberia dizer outra coisa, mas eu acho que tem sites que estão exibindo muitos curtas, tem o Porta Curtas, quem está interessado, está vendo, e quem tem acesso, claro. Quem está interessado e tem acesso acaba vendo na internet, ou nos cinemas. Agora tem passado também, algumas sessões assim, acho que poderia ter mais sessões, sei lá, talvez instituir coisas como sempre passar um curta antes de um longa em todas a salas de cinema, criar um hábito das pessoas verem um curta. Tem programas de televisão que passa também, programa de curtas, canal pago ainda.
Acho que tem que ir abrindo, é uma iniciativa maravilhosa de ter um site falando sobre isso, que acho que já vai abrindo caminhos para as pessoas de se interessar e de ter informações sobre isso. Acho que a única maneira é essa, irem criando essas redes, e irem expandindo no mercado sem precisar ir por elas mesmas tomando iniciativa mesmo de expandir, tendo o site, abrindo salas de cinema quando podem, agora para chegar nas pessoas que não podem ter acesso a isso, ai eu já não sei, porque ela não podem nem ir ao cinema, nem para ver longa nem para ver nada, ainda tem que mudar tudo.