quarta-feira, 24 de março de 2010

Caco Ciocler



O ator protagonizou vários filmes, entre eles: ‘Quase Dois Irmãos’, ‘Olga’ e ‘Desmundo’.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que o grande público não conhece a linguagem ou encara o curta-metragem como um exercício universitário de quem ainda não pode fazer um longa. O que não deixa de ser verdade, na maioria dos casos. Mas eu acredito no curta como linguagem e não somente como exercício. Acho um pouco impositivo obrigar o espectador a assistir a um curta antes de uma sessão de cinema. Acho um pouco ingênuo torcer para que um espaço para curtas seja criado nas televisões abertas... Mas dar a opção ao espectador de assistir a curtas nos DVDs que aluga, por exemplo, acho um bom caminho. As distribuidoras de DVDs fariam uma seleção ou concurso e incluiriam em seus menus essa opção. Assim estaríamos formando um público e estimulando a produção de qualidade.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Posso estar sendo leviano mas acho que é um pouco por causa desse lugar que o curta ainda ocupa de uma linguagem um pouco menor, de exercício universitário, de um caminho para o longa, sabe? E também porque o Jornal precisa vender. Não existe um mercado comercial para o curta, ou seja, não existe "noticia" para o curta. A não ser os festivais e mostras...e aí sim, acho que a crítica e a mídia cumprem o seu papel.
Você já participou de diversos curtas como: Limbo, Km 0, Jack, entre outros. O que te faz aceitar, como ator, um convite para atuar em curta-metragem?
Primeiro porque me sinto lisonjeado quando recebo um convite. Depois porque gosto de me exercitar. O curta é rápido, um exercício rápido, geralmente com um astral mais livre, mais democrático, mais de conjunto. Gosto das idéias frescas, sem dinheiro. Gosto de quem sabe que não sabe tudo.

O que te levou para trás das câmeras e ter a iniciativa de dirigir curta-metragem?
Foi uma certa arrogância ingênua. Tinha feito já uma série de filmes como ator e sempre sentia falta de alguma coisa, sempre imaginava como eu dirigiria aquela cena...o que diria aos atores... Depois me descobri, em análise, um voyer...e entendi que dirigir era um caminho interessante de exercitar essa faceta da minha personalidade.

Por que começou com curta?
Porque não tenho paciência para correr atrás de dinheiro.
Para vender projeto, essas coisas. E quando levo muito tempo para botar em prática uma idéia, a coisa toda perde o sentido. Senti vontade de contar uma história, tinha uma câmera, tinha amigos a fim de trabalhar, de me ajudar...pronto. Os únicos gastos que tive foram com a gasolina e um jantar que paguei para a equipe. Além disso minha história foi concebida mesmo para um curta. Em momento nenhum tive vontade de fazer dela um longa...até agora!

Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?
A síntese é a alma do curta. É genial. Estou transformando agora dois vídeos meus para o formato de um minuto. É incrível esse exercício de desapego...a gente sofre para cortar, se apega, mas quando consegue entende a beleza da síntese... Alguns curtas são só boas idéias esticadas, sabe? Para virar um filme.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa.
Acho que sim. Mas acho difícil não brotar em você a vontade de experimentar outras linguagens. É natural.

Pensa em dirigir um curta futuramente? Qual é o seu próximo projeto?
Penso sim. Ele já está roteirizado. Não gostaria de falar muito sobre ele porque trata-se de uma adaptação de um romance. Mas nesse momento estou passando exatamente por essa dúvida, se ele é mesmo um curta ou um média, ou um longa...vamos ver. Acho que vou rodar o primeiro capítulo como um curta e ver o que acontece. Conforme for parto para o longa. O romance permite isso. tem oito capítulos interligados, claro, mas que se sustentam independentemente.