quarta-feira, 3 de março de 2010

Walter Webb



Walter é produtor de cinema. Trabalhou em muitos filmes dos ‘Trapalhões’.

Conte sobre a sua experiência com os Trapalhões, você que foi o produtor executivo...
Eu trabalhei com o Renato Aragão na época e ele não fazia parte da Rede Globo, ele era da TV Tupi, e por incrível que pareça, eu fiz os filmes mais rentáveis do Renato. Teve um filme que eu fiz com ele, que enriqueceu ele, chamava-se “Simbad, o Marujo Trapalhão”, direção de J. B. Tanko que era um grande artesão, e que fez os melhores filmes do Renato Aragão, todos foram feitos pelo J. B Tanko. Depois que ele entrou na Globo, ai mudou o esquema, e o Renato pegou aquele sistema global que gastava muito dinheiro, mas ele não ganhava tanto dinheiro como ganhava nesses filmes todos. Eu fiz o “Hobin Hood, o trapalhão na floresta”, fiz “O trapalhão na ilha do tesouro”, fiz “Simbad, o Marujo Trapalhão”, e fiz o “Trapalhão no planalto dos macacos”, foi o primeiro filme com o Mussum porque antigamente era Didi e Dedé, e depois tinha o Mussum que entrou nesse filme. Foi um filme interessantíssimo também, foi o grande êxito da Renato Aragão Produções.

Explica para o pessoal, como que é o trabalho do produtor executivo. Qual que é a função dele dentro desses filmes?
O Renato é o produtor do filme, o produtor em geral, é o homem que capitaliza o dinheiro. O produtor executivo é o que vai executar. O Renato é como ator e produtor, ele não podia ficar a frente da coisa. É a mesma coisa se ele fosse o diretor, então ele contrata o produtor executivo. Para você ter uma idéia, você é dono de um terreno, e aí você quer construir uma casa. Então você vai contratar um arquiteto. Eu sou o arquiteto, no caso do filme. Aí o arquiteto vai contratar um engenheiro, que no meu caso, eu contrato um diretor de produção, e o diretor de produção que coisa das coisas do elenco, mas o produtor executivo é o administrador. É aquela figura que não vai à filmagem, ele fica no escritório cuidando do o dinheiro e das coisas. O produtor executivo é isso.

O senhor já produziu curtas-metragens?
Sim, eu sou produtor de curtas-metragem. Terminei agora dois curtas, e estou fazendo agora um filme sobre Solano Trindade, e estou produzindo um longa-metragem sobre Jorge Amado atualmente.

O que você acha do curta-metragem. Da singularidade do curta. É um trabalho bacana, que te satisfaz?
É um trabalho mais importante da pessoa que quer fazer cinema, porque a academia não vai lhe ensinar a fazer nada. O curta-metragem é a régua e o compasso que a pessoa tem. Você pode fazer curtas-metragem, que é uma produção barata. Você vê que tem curta-metragem muito melhor do que longa. Por exemplo “Cidade de Deus” é um longa-metragem que foi extraído de um curta-metragem chamado “Palace II”, eles fizeram o “Palace II” e aí perguntaram; Por que vocês não fazem um longa? E o curta era melhor que o longa. O curta-metragem é uma grande escola. Todo o cineasta, o Spielberg, o Walter Salles, o Tarantino, o Brian de Palma, o Scorsese, todo esse pessoal surgiu através do curta-metragem. Quer é uma linguagem, você exercita em 10, 15 minutos, que é uma coisa difícil você contar uma história, mesma coisa que o comercial de televisão. Um filme de 30 segundos, você sabe que os grandes diretores do momento hoje, são oriundos do cinema de publicidade. Aqui no Brasil e no mundo tudo. Porque é muito difícil você fazer um filme e contar uma história em 30 segundos, por isso é que um diretor de comercial faz um longa brincando, já um diretor de um longa não faz um comercial de 30 segundos. Ele não tem o ‘time’ para fazer, muitos dizer que é fácil, mas ele não faz.

O produtor que quer ver o seu trabalho, seu filme que foi produzido diante de uma platéia enorme, o curta é pouco visto, a não ser nos festivais ou um público bem restrito. Isso de certa forma atrapalha o crescimento para o curta, que é até um pouco marginalizado pelo próprio meio, pelos expectadores?
Existe uma lei no Brasil que é obrigado o cinema a passar antes do filme um curta-metragem. Quando o Collor chegou ao governo e acabou a Embrafilme, acabou, mas a lei continua só que ninguém cumpre, porque não há legislação, porque não há quem cobre isso. Existe uma lei em que é obrigado a passar um curta e o produtor do curta receberia 6 ingressos por sessão. Então de cada sessão que passasse, ele receberia o proveniente a 6 ingressos, e você vê aqui, nós temos a sessão Petrobrás, que tem no cinema Belas Artes, no Anália Franco, no Santa Cruz, que passa diariamente 8 a 10 longas. E quando o curta é bom, ele tem comércio bom inclusive fora do Brasil, agora tem muito curta ruim, tem muito cara que faz curta ruim, como tem longa ruim também. Eu vi um filme essa semana chamado “O Banheiro do Papa” que é vergonhoso, um dos filmes mais horríveis que eu vi na minha vida. Mas o curta é uma grande escola, e os alunos que fazem meu curso, eu mando sempre fazer curta, eles fazem inclusive um curta de um filme, e então depois disso tem o comercial que eu mando o pessoal estagiar no comercial.