Atriz e produtora de teatro. Em cinema trabalhou em filmes como ‘Os Trapalhões nas Minas do Rei Salomão’, ‘Luz, Cama, Ação!’, entre outros.
Como que foi o estágio para começar essa carreira de atriz?
Para começar minha carreira de atriz, eu tenho 35 anos de profissão. E comecei sem inspiração, acho foi por acaso. Eu ia fazer medicina, talvez psicanálise, mas uma área completamente diferente, não era completamente, até tem uma certa ligação, mas eu optei por fazer um curso de cultura geral. Na época na Martins Pedro, uma escola de teatro. Dali, daquele curso, da história do teatro, eu me matriculei para fazer o curso normal de teatro. Que na época não era nem universitário. Ator, era assim, a gente tinha carteira de censura, a gente era como prostituta, era uma carreira que não tinha o glamour de hoje. Tinha umas coisas meio marginal, mas assim mesmo eu enfrentei e resolvi fazer, e acho que eu acertei porque estou nessa carreira a tantos anos. Sai do país quando eu tinha mais ou menos, depois de “Galvez, o Imperador do Acre”, que não tinha ido bem, isso foi em 84, e eu levei meus filhos pequenos para os Estados Unidos, e fiquei lá 20 anos. Vindo para o Brasil, fiz “Amazônia”, a novela da TV Manchete que não foi bem, mas fiz também, “Jean Genet”, uma peça muito interessante na sala das Flores, uma peça forte, eu vim para o Brasil fazia 6 meses, e voltei depois para os Estados Unidos novamente. Só que eu sempre gostei de trabalhar com o tema de mulheres, no início enquanto eu estava nos Estados Unidos eu montei uma peça brasileira “A última Gota”, que foi com co-autores americanos, e eu dirigi, porque eu não tenho essa fluência em inglês, que por exemplo meus filhos tem, falam perfeito, sem sotaque, e eu com sotaque, falando mau, carregado, não gostei muito desse idioma.
Então eu só dirigi, e eu estava no mesmo complexo da Eve Ensler, que é a autora da peça “Monólogos da Vagina”, que estourou nos Estados Unidos, a nossa peça foi bem, na média, mas a dela foi um estouro, que a CNN foi atrás, e eu falai que peça é essa? Como eu dirigia, eu podia assistir, e nessa que eu assisti eu adorei a Eça, e eu conversei com a Eve, nós estamos falando do mesmo tema, mulheres, eu tenho tantos anos de profissão, mostrei meu currículo a ela, e falai que quero comprar a peça. Adquiri os direitos da peça e vim embora, que foi outro capítulo na minha vida, forte, que foi montar a peça no Brasil, em um país dito liberado, que não é nada liberado. Tudo fingimento, porque sexualmente nós temos vários bloqueios, no mundo inteiro, só que aqui mais, eu acho que é a influência da igreja católica, não sei o que é. Eu sei que determinadas religiões, e isso tem uma influencia incrível, quando falou vagina, e a falta dos direitos da mulher, porque nesse ponto eu toco mais.
Que é o racismo, é o ceticismo, é uma série de coisas no Brasil que é um país altamente racista e fala que não é, país altamente sexista, que fala que não tem problema de sexualidade, mas não aceita nada. Se aparece duas mulheres lésbicas e vão conversar já muda o clima, se os homossexuais, melhor os homossexuais, já ganharam mais um pouco o terreno, mas nem tanto, precisa ganhar um pouco mais. Então nisso, nós mulheres, aonde ficamos, Miguel Falabella sempre fala, num país de bundas, como entrar com a vagina?Como nós vamos entrar com a vagina, num país que promove só as bundas? E as mulheres deixaram isso acontecer também, não são só os homens os culpados, agente não está culpando ninguém. A Verdade é que as pessoas custam a aprofundar e saber aonde elas estão, você fala a palavra feminista no Brasil já é um xingamento, já acham que é aquelas mulheres que vêm para brigar, nada disso, no movimento feminista, não só nos Estados Unidos como na Europa, os homens estão juntos, as pessoas todas estão juntas, estão juntas em vários momentos, não só da mulher. Só que da mulher está engatinhando, ainda para a mulher ganhar o mesmo salário, tudo isso, essa peça veio, e virou uma causa na minha vida, uma causa que eu continuei da Eve Ensler, que é a autora, eu no Brasil fiquei sendo a porta-voz dela, a porta-voz que as vezes eu converso com a platéia. Hoje é dia e conversar que tem a platéia melhor, que é a de sábado, maior, então eu aproveito para conversar o que é essa causa dela, o “V-Day” que é o dia da assumida da vagina, da mulher em si, essa palavra, assumir essa palavra é assumir a mulher. Então quando vira um problema essa palavra, até a época que eu estava com o Miguel Falabella, se eu não estivesse convidado o Miguel Falabella, a peça não aconteceria, porque ele é audacioso, nem que seja embaixo da ponte nós vamos encenar essa peça. Então vamos embora, e não vamos mudar o nome da peça, porque o pessoal do teatro me pediu para mudar o título, ele não vamos mudar o titulo. O titulo vai ser esse, e nenhum teatro tinha a coragem de colocar a palavra vagina. Hoje todo mundo já sabe, pelo menos já ouviu falar dessa peça. Já não é só uma comedinha ligeira, é uma peça que levanta uma polêmica. Levanta a sexualidade toda, desde a época que a mulher ficou menstruada.
Ela entrevistou várias mulheres de vários países, então isso foi uma coisa importante, esse trabalho é chegar ao Brasil. E meus amigos o Lucas Mendes, jornalista, me deu muita força, ele falava: essa vagina vaiou não vai? Eu falei: vai ela vai sair. Quando estreou a peça foi maravilhoso que foi uma coisa de realização nossa, foi um trabalho que já está há 8 anos e meio. Quando querer tirar de cartaz eu falo, não, não, vamos segurar mais um pouco.
Queria que você falasse da sua carreira no cinema que também é bastante interessante.
Você já procurou saber. Eu tenho sim, a bruxinha dos trapalhões, que é “As Minas do rei Salomão”, que eu fiz com o Didi, tem o “Segura Malandro”, vários filmes que eu fiz com o Nelson Xavier também. Cinema sempre foi uma área que eu gostei muito, só que eu fiz filmes nos Estados Unidos, só que eram filmes bem coadjuvantes, e que eram filmes de arte. Mas eu adoro cinema, cinema e teatro, acho um luxo. Na minha carreira é mais forte, fiz televisão também, mas fiz novela “Sassaricando”, na TV Globo, fiz alguns capítulos, 105 participações, mas eu acho que eu sou mais uma atriz de teatro, hoje eu entendo isso, é uma coisa de personalidade, isso é muito forte. Eu sinto as vezes que eu posso até estourar no vídeo, ir além do que eles precisam, a não ser que seja um personagem específico. Mas não é uma coisa que eu boto em primeiro plano na minha carreira. Minha careira é teatro, vocês sabem que é dificílimo fazer teatro no Brasil, mas eu podendo segurar esse lado que é falando e discutindo coisas, o teatro não só vai fazer o digestivo. Que eu não tenho nada contra, eu acho que você tem que sobreviver, tem que fazer tudo. Se vocês me pegarem uma vez fazendo um teatro engraçadinho é porque eu tenho que sobreviver. Agora mesmo eu estou pensando em escrever uma comédia com um amigo meu, “Eles não usam batom” e essa peça vai discutir uma série de coisa, inclusive o dia-a-dia dos homossexuais que eu observei muito, tenho muitos amigos, e ela é muito interessada.
No principio é só para ir mas eu acho que vou só produzir talvez com o amigo meu. Não vou atuar, claro, porque não tem papel, e eu não estou pensando em atuar nas duas próximas peças que estão na minha mira, pensando em produzir. Que aí é uma coisa que eu posso ganhar dinheiro para sobreviver e para depois vir para uma outra que eu estou trabalhando seriamente, numa peã que eu acredito, que ainda é monólogo, ai eu vou entrar, numa peça que vai ser bem pesada mesmo.
Estilo Brasil, falando de Brasil, bem pesada, mas ao mesmo tempo o povo ai rir muito, porque é uma crítica agente mesmo, então uma crítica construtiva, não sei nem se é construtiva, se eles vão achar como construtiva, mas é uma critica que vai virar uma coisa um pouco internacional, que você fala um pouco das guerras, entendendo o que é esse Rio de Janeiro com as guerras. Como pode isso. Ai eu digo que eu sou uma dissidente carioca, para mim eu prefiro estar em São Paulo, estar em Nova Iorque, do que estar no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro eu moro em um apartamento simplesinho, vou ao meu cinema de arte, meu barzinho que eles me conhecem, e os milícias tomando conta. Não tem nada contra um ou outro, só que virou uma guerra, você não sabe se tem a banda podre por todos os lados, e eu estou no meio disso, então digo culpa de quem? De nós todos.
Vera, também pesquisei e vi que você fez curta-metragem também, como que foi esse seu trabalho com curtas?
Com curta-metragem eu me lembro que foi, eu não sei bem em que ano, você que pesquisou deve saber melhor que eu, que eu não estou nem com o meu currículo aqui, e foi em Nova Iorque, com o pessoal que estava fazendo. Eu acho incrível, eu acho que é um trabalho seriíssimo, eu acho que sempre que pode tratar no cinema para pegar uma platéia maior, e tendo fôlego, vocês que são novos, eu aconselho totalmente a sair com uma câmera na mão, porque é isso, você está documentando, está vendo, você já fez aquele roteiro. Não é tão caro como o longa, mas você já está começando uma carreira para o longa, quem sabe um dia que tem muitos filmes, minha filha também é atriz, mora fora do país, é casada com um diretor também agora. Vai a festivais e não entra no mercado, aqui é maior ainda, porque nós temos essas produções todas estrangeiras entrando com preferência, porque elas tem dinheiro para bancar uma mídia maior que na nossa.
E a gente fica assim, ]eu tenho várias idéias de gravar na minha cabeça, mas eu nem vou mexer com isso. No momento eu estou mexendo com teatro, mas eu acho que é da maior importância, porque é esse momento que nós estamos vivendo. Essa dificuldade que eu estou dizendo é até mundial, agente tem que documentar, agente tem que falar dos seus estados, a cada minutos que agente vê televisão, ela informa essa coisa toda que está acontecendo. Curta disso seria uma coisa mais detalhada e consegue aprofundar mais do que a televisão. A televisão é sempre mais superficial, dar a noticia, cortou, acabou, aquela bula imediatista. Sempre o curta fala mais, é como se você pegar o fato e ir em cinema dele. Eu adoro festival de curta, acho que é importantíssimo acontecer no Brasil.
Você que é uma autora também, escreve. Como é trabalhar com a síntese, você falou que já teve idéias para curta-metragem, como comprimir, se é que tem que comprimir, as suas idéias em pouco tempo? Você acha que teria alguma dificuldade, ou é um exercício para você como atriz e autora?
Eu acho que é um grande exercício, porque eu falo muito, então eu preciso sempre de uma pessoa me organizando. Essa coisa de dupla, de parceria, eu acho da maior importância. Porque às vezes, você sabe que eu sou muito afobada, tem hora que eu não vou tara o computador mesmo, que dá vontade de jogar o computador pela janela por qualquer probleminha que haja. Aí senta uma pessoa e ela fica me organizando, e eu vou embora. Por isso mesmo eu acho da maior importância trabalhar com duas pessoas, a dupla, ou ter sempre uma pessoa do lado para que se organize isso. Porque tem pessoas que são fantásticas, e elas tem coisa de fazer aquilo mais sucinto, ela vai espremer mais para aquilo passar, porque ai você começa, mas acho que você tem que começar no aberto, no grande e vai diminuindo vai zerando. Acho que no teatro também tem que acontecer isso, porque às vezes fica muito com “a barriga”. Acho que o curta-metragem não dá para fazer tanto com a barriga, porque como dizer tanta coisa em pouco tempo? Pelo menos passar o essencial, o que é. Talvez não consiga dizer tudo que gostaria de dizer, mas sempre alguma inquietação vai passar, e que essa coisa passe mesmo, que é um grande exercício eu acho, para nós como seres humanos.
E para finalizar, eu gostaria que você passasse um recado para essa nova geração que só está começando no teatro, no cinema e na televisão. Um recado para seguir sua carreira e trilhar um caminho bacana com a sua carreira.
Eu acho que é dedicação mesmo. Tem horas até que é de parar, você para e você fica inquieto, não estou conseguido fazer não está mesmo. Então assume que não está conseguindo fazer e dali relaxa, vive alguma outra coisa, saia, vá para algum lugar diferente na vida, sai para um bar, daqui a pouco estão acontecendo coisas em volta, que você vai desfrutando, e você mesmo junta seus pedaços. Fala espera aí, daqui é um passo, mas eu acho que um sozinho agora, é meio que impossível, pelo menos para mim. Eu acho que é juntar um grupo mesmo, ou juntar com outra pessoa, e começar a contar isso para fora, porque o ser humano é de uma riqueza, é que nós sumos muito ignorantes, nós não sabemos a riqueza que nós temos.
Quando nós estamos em cena, agente vê o que agente pode discutir,e descobrir. Um diretor e um ator que não tem muita capacidade de concentração, eu não tenho muito, mas eu adoraria ter, ser mais concentrada, mas calma, eu acho que isso é um luxo na vida. Então não desperdiçar isso, porque são as pessoas que vem de uma maneira mais clara, pessoa calma, que observa. Então nisso ai pode surgir muita coisa eu acho que tem que ter paciência. Paciência, hoje eu dormi 4 horas por noite, mas vou para o palco, faço minha função, volto, porque tem que surgir outro trabalho. Eu não posso viver só desse trabalho. Porque teatro é isso, arte é isso. Mas sem arte não tem salvação.
O país não tem salvação sem a arte, sem educação que quer dizer arte também. Porque caminha para a arte e para todo mundo conseguir ver, assistir no mínimo música, todas as artes. E agente tem que lutar por isso, se agente sente que tem essa veia, tem que insistir, mesmo que seja para trabalhar meio dia. Sai fora dali, mudou de roupa e vai embora, sem preconceito, sou um vendedor de loja, dou isso, sou aquilo, e corre para fazer, não tenha medo de ficar só lá, trabalhando, depois corre para o teatro, tira a roupinha, entra em cena. E isso está vivo, você está vivo enquanto está produzindo, enquanto está atuando, não tem dinheiro, vamos pegar uma câmera, fulano tem uma câmera, vamos pegar emprestado, vamos fazer não sei o que, é isso esse é o segredo. Dedicação, tem que se dedicar mesmo, você faz pequeno, faz no seu tamanho, depois isso vai aumentando, vai conhecendo pessoas, vai freqüentando, vai para o bar de atores, procure saber se ligando.
Os próprios bairros, os próprios lugares tem muito isso, que a pessoa pudesse juntar intelectualidade. Você já está no meio. Então é muito isso para os estudantes. E dedicação nisso, e agora para ter alguma coisa muito grande, como agente consegue? Fazer alguma coisa, vocês vêem, eu não sou estrela, mas eu consegui botar a mão na obra, mas é a realização de ter conseguido trabalhar. Tudo bem, já vou aí falar com você , cinema e a bruxa que ele aprendeu, ele que era o produtor executivo, e ele faz cinema, e ele vai fazer um filme agora,. Então está bom, o recado é esse.