quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cláudio Fontana

Cláudio Fontana é ator e produtor de teatro.

Qual é o grande barato de fazer um curta-metragem?
Eu acho que o curta tem a vantagem da objetividade, você tem mais vantagem em relação ao longa em termos de experimentação do roteiro, em termos de produção, evidentemente, e ao mesmo tempo pode ter mais conteúdo, pode ser mais dinâmico, a edição mais objetiva. Eu gosto de curta. Eu prefiro às vezes assistir um curta (às vezes assisto na televisão quando passa, no Canal Brasil festival de curtas) do que assistir um longa, eu acho muito legal.

Você acha que dá para contar uma história em tão pouco tempo de metragem?
Eu acho, a história necessariamente não precisa ser careta, assim começo, meio e fim. Às vezes um olhar, uma parte de uma história, sob uma visão de um diretor, eu acho muito interessante o curta justamente por isso, porque ele não tem o compromisso de ter começo, meio e fim.

Muitas pessoas consideram o curta-metragem como o grande movimento do cinema, porque não tem a pressão dos trâmites do cinema comercial, nem da mídia então dá para experimentar mais. Você acha que isso é o grande método para fazer um curta, para poder participar de um curta, esse poder experimentação, de ousadia?
Eu acho, como eu falei no começo, eu acho que o curta tem essa grande vantagem, você poder brincar, experimentar, sem compromisso com bilheteria, com o resultado comercial. Enquanto o longa não, você tem compromisso às vezes com o patrocinador, dar retorno de bilheteria, então é mais complicado. Por isso que o curta às vezes atrai atores, agente fala, pô, como esse cara vai fazer um curta, esse ator? É porque ele está lá para experimentar, ele monta, às vezes ele mesmo produz, o ator produtor gosta de curta também por isso, porque ele é mais fácil produzir.

E para um ator que gosta de ver seu trabalho sendo visto por milhares pessoas, o curta é meio restrito, o publico é seleto, e ele não tem o poder de distribuição. Como o longa que também encontra dificuldade, e o curta pior ainda. Isso de certa forma chateia quando as vezes a intenção de fazer um curta, e fala putz, eu vou fazer e ninguém vai ver. Isso às vezes é um impositivo?
Eu acho que não, acho que quando me chamam para fazer um curta eu não penso nisso, não penso no retorno que isso vai ter na minha carreira, ou no retorno financeiro. Penso justamente o que me atrai no roteiro, se o roteiro for legal eu até topo fazer numa boa, justamente pelo roteiro e pela possibilidade de inovar, experimentar novas coisas. Seria um risco muito maior se eu tivesse que experimentar em um longa, em um roteiro que tenha o compromisso de ser mostrado. Como o curta é descompromissado, às vezes o resultado é instigante para o ator.

Como deveria ser uma solução para esse fato, tem o Youtube que está ai. Você acha que tem que ter outras formas de incentivo de exibição?
Acho que sempre, o governo não faz a parte dele. Em termos de cultura, o governo é completamente omisso, principalmente nos últimos anos. Para artes cênicas nem se fala, acho que para cinema também, não aproveitou o boom que teve no cinema há algum tempo atrás, deixou a peteca cair. Acho que não há incentivo para o cinema, os festivais de curtas não existes praticamente, mesmo os de longas. Acho que o governo tem que fazer a parte dele para estimular a criatividade e a criação, estimular os roteiristas principalmente. É isso que falta no Brasil, roteirista de cinema, dramaturgo ainda consegue, eu acho que os dramaturgos vão aparecendo para o teatro, para cinema os roteiristas estão inibidos porque não tem incentivo financeiro.

Tem muitos atores que vão para trás das câmeras e realizam, fazem experimentação. Você pensa em produzir e dirigir um curta futuramente?
Não sei, uma vez eu pensei em dirigir teatro, mas eu ainda olho um texto de teatro, da mesma forma que eu olho o roteiro de cinema, eu olho sempre com a visão do personagem, do ator. É difícil para eu olhar como diretor, você precisa mudar um pouco, você precisa ter o que dizer de uma forma muito mais, você precisa estar muito mais preparado, para poder dirigir. E eu acho que eu ainda não tenho esse preparo, eu preciso ler mais, estudar mais, para poder chegar e ter peito para poder dirigir. Mas eu acho que isso vai acontecer na minha carreira como acontece na maioria da carreira artistas.