Othon Bastos é intérprete da geração do teatro de resistência, tendo fundado sua própria companhia nos anos 70, produzindo espetáculos representativos do período.Em 1962, tem sua primeira experiência cinematográfica: ‘Sol Sobre a Lama’, filme de Alex Vianni. Num pequeno e marcante papel, integra ainda o filme ‘O Pagador de Promessas’, de Anselmo Duarte, no mesmo ano. A consagração, porém, vem com a personagem Corisco, no lendário ‘Deus e o Diabo na Terra do Sol’, filme épico de Glauber Rocha transformado em emblema do cinema novo.
Você participou de clássicos tanto na televisão, no teatro e no cinema. Isso é o que intuição, sorte, as duas coisas, ou nenhuma das duas coisas? Porque você sempre está nos clássicos da cultura nacional...
O que acontece é o seguinte, eu acredito muito na frase do Laurence Oliver, quando ele diz que um ator para ser um ator precisa ter muito trabalho, trabalhar muito, estudar muito e ter muita sorte. Porque às vezes você tem um talento extraordinário e não consegue fazer muitas coisas. Eu tive muita sorte no início da minha carreira, porque eu peguei o Glauber, eu peguei o Guerra, peguei Alex Viany, e fui pegando os melhores diretores e fui fazendo filmes em que eu era protagonista. Depois o tempo foi passando evidentemente, e as novas gerações vão entrando e você vai perdendo seu lugar para os jovens que vem chegando, isso é natural. Mas o importante como diz o Glauber: “o futuro está em cima do futuro, o futuro não está em baixo do passado”.
E qual a sua relação hoje com o cinema, você é convidado pelos cineastas, principalmente o curta-metragem? Hoje eu considero a maior força do cinema, os curtas, os estudantes, coisas experimentais, como está sendo?
Eu já fiz uns 20 curtas-metragens, pessoas que me ligam e vão perguntando, todos ficam com receio de que eu vá dizer não, ao contrário, eu acho que nós devemos ajudar sempre as pessoas. Eu ajudo muito os jovens que vão começar a fazer cinema, atuando no curta deles. Eu tenho muitos curtas já, aliás curtas que eu nem vi, mas eu sei que estão ai em festivais. Uma coisa que eu faço muito também é narrar, eu narro muito para cinema.
Para finalizar, eu gostaria que você fizesse uma crítica a atual fase do cinema nacional. O quer você acha, se está legal, bacana, ou se decaiu?
Eu não sei se o cinema nacional está legal ou se decaiu ou não, eu acho que as pessoas estão lutando desesperadamente para manter o cinema vivo aqui no Brasil. Agora que precisa ter muito cuidado para não ficar pensando nas super produções para poder competir com os outros países, acho que tem que existir cinema brasileiro, nós lutamos muitos anos pelo cinema brasileiro, cinema do autor brasileiro, da realidade brasileira, senão existe cinema que por si só quer fazer um grande espetáculo. Isso deixa para os outros países, vamos fazer o nosso, tem cineasta aparecendo em vários filmes, e jovens que estão querendo mostrar o que é o cinema e a realidade brasileira, o Selton Mello está representando belos filmes, e está trabalhando e fazendo. Essa geração está com muita força, espero que eles mantenham isso.