Ester Marçal Fér é produtora audiovisual e diretora de documentários. Atualmente cursa o mestrado na Cásper Líbero, na linha de pesquisa Processos Midiáticos.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta-metragem sempre foi tido como um formato de experimentação, exercício e aprendizado da linguagem cinematográfica. Historicamente, é através do curta-metragem que a grande maioria de cineastas inicia sua produção.
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
É meio difícil identificar um porquê. Acredito que existe um modelo de negócios construído em torno do filme de longa-metragem pela indústria hollywoodiana, e importado pelo Brasil, que acabou por deixar o curta-metragem distante das salas comercias de cinema. A televisão poderia se constituir como "o espaço do curta-metragem", pois é um veículo que tem tudo a ver com o formato, tem a coisa dos intervalos, dos blocos de programas. O que acontece é que a tanto a televisão como o cinema estão comprometidos com o lucro, fazem parte de uma indústria cultural. E por ter uma produção mais independente, o curta-metragem possui uma diversidade que muitas vezes é vista como inadequada para os meios de massa. O que eu faço questão de discordar.
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Então, é difícil viver só de curta, viu? Justamente pela própria sustentabilidade do modelo de negócio. Não existem investimentos e nem espaços de telas suficientes para que o curta seja um formato a ser adotado como único formato de produção. Não digo que é impossível... mas é uma luta!
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não digo que ele é marginalizado, pois acredito que quem gosta de cinema, tá sempre tentando acompanhar a produção de curtas, ver o que tem sido feito. É um formato que carrega uma força e um frescor grande. Agora, faltam ações para se pensar melhor o processo produção - distribuição - exibição. Muitos curtas bons são feitos e tem dificuldades imensas de chegar até o público. Os cineclubes são lugares fundamentais para que isso aconteça, é preciso articular melhor as escolas de cinema e grupos de realizadores audiovisuais com um circuito alternativo de distribuição e exibição cinematográfico.
Você já produziu diversos curtas como ‘A Miss e o Dinossauro’, ‘Florestan Fernandes: Evocações na Contramão’, entre outros. O que te faz aceitar participar destas produções?
Bom, o documentário Florestan Fernandes foi o meu trabalho de conclusão de curso (Bach. em Imagem e Som - UFSCar). Apesar de ser um curta de faculdade, ele foi veiculado em diversas TVs públicas e educativas, e ainda hoje é convidado a ser exibido (acredito que isso se deve muito à força do tema, que é a vida e a obra do sociólogo Florestan Fernandes, uma figura importantíssima para se entender o Brasil). "A Miss e o Dinossauro" foi um projeto lindo que surgiu no tempo em que tive a honra de trabalhar com Helena Ignez. É um filme feito a partir de um rico material de arquivo da Belair, produtora cinematográfica que na década de 70 produziu filmes incríveis e que foram censurados pela ditadura. Fizemos o curta sem nenhum apoio, totalmente com a parceria de amigos e colaboradores. Ambos os filmes são documentários, bem distintos em forma e conteúdo. Em ambos os casos, o motivo maior que me fez participar dessas produções foi uma vontade de investigar, de pesquisar, de ir construindo uma história a partir de textos, fotos, depoimentos... o documentário sempre me fascinou.
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Na realidade, estou co-dirigindo um curta-metragem documental, que deve ser finalizado ainda este ano.