terça-feira, 2 de novembro de 2010

André Weller



Cineasta, roteirista e diretor de Arte. "Domingo de Páscoa" e; "Asfixia" contam com a sua assinatura.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Não saberia responder esta pergunta. "No tempo de Miltinho" é a minha primeira experiência na direção de curtas. Apesar de ter feito vários curtas anteriormente como diretor de arte, nunca me aprofundei na história do gênero e no seu papel no desenvolvimento da cinematografia nacional. Poderia citar alguns exemplos pontuais que com certeza influenciaram a minha maneira de pensar o cinema.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Para mim existe uma distorção muito comum de que o curta é um espaço para a experimentação. Não sou cientista, mas sei que todo experimento dá margem ao acaso. Muitas vezes, o que se vê na tela não é exatamente o que o realizador imaginava. Esta visão contaminou a mídia, que vê o curta como uma obra em desenvolvimento, mal acabada, ou demasiadamente hermética. Às vezes fica difícil precisar o que era intenção do diretor e o que de fato fugiu ao seu controle. É claro que isso acontece em qualquer forma de manifestação artística, mas o curta criou esta auto-defesa, quase que uma desculpa. E desculpas não se filmam.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Pra mim já está sendo: a internet. Ela está mantendo e criando um público que passa a ter uma cultura do gênero, impregnando salas de festivais e cineclubes. Só a cultura, e não a obrigatoriedade, é capaz de levar o curta de volta ao circuito comercial.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
As possibilidades dependem de cada um. Posso responder que no meu caso o assunto principal é a música. O cinema, seja em curta ou longa-metragem, é a maneira que escolhi para tratar este tema.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
As hierarquias no cinema são muito fortes. Pra assinar uma direção de fotografia, você começa como vídeo assistente e lá se vão oito anos... É quase um sistema militar. O curta ainda é visto como a divisão de base do cinema, uma espécie de dente de leite. Mas convivo com muitos cineastas que reconhecem um bom trabalho do ruim, seja ele um curta-metragem ou não.

Pensa em dirigir um curta futuramente?
Estou conjugando minhas duas formações, a de músico e a de cineasta, nos meus próximos trabalhos. Percebo que a abordagem feita sobre músicos, salvo raras e belíssimas exceções, é superficial, caindo sempre no episódico e anedótico. Faço o que eu convencionei chamar de "investigação musical", que iniciei em "No tempo de Miltinho". Utilizo elementos básicos da linguagem cinematográfica para exemplificar um determinado estilo musical. Agora, estou na fase de edição do que eu chamo de irmão mais novo do "Miltinho": o meu próximo curta "No balanço de Kelly". Neste projeto, tive 'aulas' de piano com João Roberto Kelly, autor de "Cabeleira do Zezé", Mulata Bossa-Nova" entre outras. O resultado foi surpreendente...

Qual é o seu próximo projeto?
Um longa sobre um dos personagens mais cativantes e desconhecidos da nossa história: Ary Barroso.