quarta-feira, 21 de novembro de 2012

R.F.Lucchetti: Memória Cinematográfica

Reflexões – Pontos a Ponderar
Lucchetti tem um caderno ao qual denominou: “Reflexões – Pontos a Ponderar”, onde tem por hábito anotar pensamentos e impressões de leitura. Através da cumplicidade do seu filho, Marco Aurélio, tive acesso a esse caderno e o resultado passo a transcrever.
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Me chamar de escritor é como colocar um elevador num alpendre. Não combina.
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Grande parte dos autores da literatura universal, fui tomando conhecimento através das revistas que eu colecionava. Por isso, muito antes de chegar aos seus livros, já me eram familiares: Guy de Maupassant, O.Henry, Oscar Wilde, Honoré de Balzac, Alphonse Daudet, Rudyard Kipling, Aldous Husley, Mark Twain, H.G.Wells, G.K.Chesterton, Máximo Górki, Anton Tchecov, Stefan Zwaig, Goethe, Knut Hansun, Alberto Moravia, Dostoiewski, Walter Scott, Robert Louis Stevenson, William Falkner, entre outros, através da leitura de ‘Vamos Ler!’, ‘A Cigarra Magazine’, ‘Eu Sei Tudo’, ‘Carioca’, ‘Revista da Semana’, ‘A Novela’, ‘Fon-Fon’, ‘Jornal das Moças’ e até mesmo nas revistas pulps: ‘Dectetive’, ‘X-9’, ‘Contos Magazine’, ‘Policial em Revista’, ‘Lupin’, ‘Aventura e Mistério’, etc.
Porém, as traduções estavam longe de serem um primor, mas perfeitamente ao alcance do leitor adolescente ainda com uma baixa escolaridade. Recordo-me de haver lido na ‘Lupin’, em forma de folhetim, ‘Dois Vivos e um Morto’, do escritor norueguês, Sigurd Christiansen. Esse romance impressionou-me e quando ele caiu-me nas mãos, numa edição do Clube do Livro a impressão que havia tido por ocasião de sua primeira leitura, foi ainda maior, devido à primorosa tradução de A.Luquet. Só nos resta lamentar a lacuna deixada por essas revistas populares nas bancas de jornais; uma vez que o leitor com pouco poder aquisitivo não conta com as mesmas possibilidades que tiveram  os leitores do passado. Hoje o estimulo à leitura é praticamente nenhum, basta visitarmos uma livraria para constatarmos o preço proibitivo do livro. As baixas tiragens, o tornam, não um artigo de primeira necessidade, como seria o de se esperar, mas um artigo de luxo. O livro deveria ser um produto subvencionado por verbas governamentais. Mais isso no Brasil é uma utopia, como também não deixa de ser uma utopia o sonho de um dia podermos ter um governo voltado aos reais problemas da população. Não creio nos políticos.
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Eu adorava ouvir seriados de rádio. O seriado radiofônico foi meu grande hit de infância e juventude. Muito mais do que o seriado, uma vez que era eu quem poderia compor as imagens. O rádio é uma extensão da memória e da imaginação, só comparável mesmo ao livro. Em ambos cabem o universo. Os seriados da minha predileção eram Dick Peter,  ‘O Homem de Aço’, ‘O Homem Pássaro’ e ‘O Sombra’. Depois de ouvi-los, exercitava minha imaginação novelizando-os. É o que eu posso chamar de meus primeiros passos na Literatura.
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Venho de uma família de pequenos burgueses, onde a única preocupação era casar, constituir família e levar uma vida do que eles chamavam de “normal”. Eu era visto como ovelha negra da família por minhas “esquisitices”. Porque cuidar de escrever nos anos 40 era uma coisa abominável. Reconheço que esse modo de pensar me transformou num verdadeiro bicho do canto. Mas tinha uma vida interior muito intensa.
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Abomino os filmes naturalistas. Os que copiam a realidade. Que sejam um relatório sobre a vida. A primeira função do cinema é de entreter - - nunca instruir ou pregar. Os filmes devem ser feitos com pedaços de sonhos. O sonho pode ser um pesadelo, mas é sempre uma fantasia, nunca uma mentira.
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Acusaram-me de se uma pessoa quimérica. E por que não? Se eu lhe perguntar as horas, quando você responder estará informando-me a hora exata? Ela já não pertencerá a um passado que nunca mais voltará, nem mesmo que o mundo tenha mais de dez milhões de anos? Então o que é o tempo senão uma quimera? A realidade não existe, é apenas através dos sonhos que realmente vivemos. O mundo é dos que sonham e toda lenda é uma verdade.
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Na minha concepção o crime perfeito jamais existiu uma vez que ele é do conhecimento da consciência de quem o praticou. E pode haver uma testemunha mais implacável do que a consciência?
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O tipo de histórias que eu escrevo requer uma cadência rápida. É isso que a caracteriza. Porque o leitor não quer ter de parar e voltar uma ou duas páginas atrás para saber porque isto ou aquilo aconteceu. Tenho que ir dando todas as explicações necessárias e tento fazê-los sem lucubrações, ou descrevendo demasiadamente coisas que o afastem da trama. As vezes detenho-me em descrever os tipos físicos dos personagens, mas isso muito rapidamente. Não posso deixar o leitor bocejar, tendo de saltar parágrafos para retomar o fio da história.
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Não me imagino viver sem escrever. Todos os dias eu escrevo. Nem que seja uma carta. Mas escrevo. Escrever é um hábito, um vício; e ele está enraizado no meu sangue desde os nove anos, quando escrevi meu primeiro conto. Mas o primeiro a ser publicado eu tinha doze anos. Foi “A Única Testemunha”, uma história calcada no “Gao Preto” e “O Coração Revelador”. Não que eu estivesse aterrorizado com esses contos de Poe, fiquei simplesmente encantados com eles. Tinha consciência de estar diante de algo grande, de dimensões muito além do que chamamos de Literatura.
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Temos que ser irremediavelmente realistas mesmo quando essa realidade possa nos parecer muito fantasiosa. Ao sermos realistas, jamais enfrentaremos decepções. Decepção é própria daquele que espera muito dos seus semelhantes. Espelha-se em você mesmo e verá que os demais nada podem esperar de você. Então, por que essa hipocrisia de que nos revestimos diuturnamente? Não seremos falsos até mesmo com aqueles a quem amamos?
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Quem disse que o Homem é a maior prova da existência de Deus é que nunca se deteve em observar a Natureza, uma plantinha desabrochando e uma formiguinha carregando uma folha várias vezes maior que seu tamanho.
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A infindável procura da vida em plena morte – ao vaguear incessante e desesperançado em busca do repouso.
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Mais vale a liberdade faminta do que a escravidão nutrida.
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Muitos ricos são apenas pobres que têm dinheiro.
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A modéstia é a negação do próprio trabalho.
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Este mundo seria um lugar bom se todos os homens tivessem sempre tanta paciência como têm enquanto esperam que um peixe morda a isca.
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O verdadeiro perigo de nossa era tecnológica não é tanto que as máquinas comecem a pensar como homens, mas que os homens comecem a pensar como máquinas.
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Siga seu coração que o sonho é a chave de tudo.
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Uns abrem caminho. Outros apenas caminham.
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O Destino só leva as pessoas até a metade do caminho; o restante ela completa sozinha.
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Eu costumo escrever com música. Simplesmente porque não sei pensar no silêncio absoluto. Não. Não silêncio absoluto, porque tenho permanentemente uma cachoeira nos meus ouvidos. Tal como uma cachoeira o chiado não para nunca, está ali, dia e noite, noite e dia. Por isso eu costumo escrever ouvindo música. Também não é pelo fato da cachoeira que tenho na minha cabeça, é, talvez e principalmente, porque gosto de música que me transmite alguma emoção.
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Existe um garoto de dez anos dentro de mim e um homem de sessenta dentro dele... essas são as razões porque adoro passar horas e horas folheando minha coleção de revistas pulps, onde desfilam ‘Doc Savage’, ‘Detetive Fantasma’, ‘O Morcego Negro’, ‘O Aranha’, e o maior de todos os heróis até hoje aparecido: ‘O Sombra’. Se Sherlock Holmes é o precursor dos detetives consultivos, ‘O Sombra’ é o precursor de todos os heróis mascarados.
E nesses momentos minha imaginação vagueia por aqueles anos mortos, onde procuro viver mais do que nos dias de hoje, onde não vejo mais a fantasia, a ingenuidade das sacerdotisas no náilon, da cinta-liga, do salto Luiz XV, contudo, havia uma áurea de ingenuidade que hoje foi totalmente banida. O sonho realmente acabou para o menino, para o jovem de hoje que não conheceu nada disso e fico imaginando com será o seu amanhã. Do que ele se recordará nostálgico, quando chegar aos sessenta anos? Quais serão os heróis que estarão fazendo companhia? É uma pobre juventude perdida que eu vejo para qualquer lado que me volto.
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Saí de São Paulo, onde me sentia um grão de areia no cosmos mas tinha consciência que estava ali meu futuro, porque tudo acontecia e ainda acontece em São Paulo. Residir em Ribeirão Preto para mim foi tal qual pássaro cativo.
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Da vida humana, o único fenômeno que não pode ser experimentado é a sua própria extinção, e o que lhe segue, seja o que for. Porque não há um day after da morte, ela não pode produzir registros na memória ou no inconsciente da espécie. Toda discussão sobre a morte é especulativa, com todo pensamento sobre ela é um avanço imaginário num mundo impensável, sem um eu, sem centro, portanto. Quando penso na minha morte me divido em dois: o que morre e o que pensa essa morte. A consciência do artificio pode ser uma lição sobre o pensar, e de certo modo sobre o viver. Assim, a abordagem da morte ou é uma fantasia, ou é um aprendizado de si mesmo e do mundo.
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Certa vez o editor de uma grande revista mandou pedir-me uma história. “De terror”, sublinhou, piscando o olho, o emissário.  Eu estava, na ocasião, cheio de serviço. Queria tempo. E perguntei: “Para quando?”. Imaginei que me dariam um prazo de 15 dias, 20, um mês. O outro olhou para o relógio de pulso, fez cálculos e disse: “Duras horas”. Repeti Esbugalhado: “Duas horas?!”.
E, no entanto, ou melhor dizendo, o meu horror não tinha motivo. P prazo fulminante é uma contingência literária do subdesenvolvido. E por isso que costumo dizer para mim mesmo: “Muito dura é a nossa profissão de escrever para fora”. Um estilista vai, da primeira estrela da tarde à última da noite, para escrever duas linhas. Depois de redigi-las, acorda toda a família aos gritos:
- Fiz duas linhas! Duas linhas!
Por isso, amigo leitor, não espere pérolas literárias nos meus rabiscos.
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Ocorre-me o que Pitigrilli narra em suas memórias a respeito de Oscar Wilde. Alguém pergunta ao autor de ‘Di Profundis’ o que fizera pela manhã, ele respondeu: “Coloquei uma vírgula”. À tarde, repetiram-lhe a pergunta: “E na tarde de hoje, que fez mestre?”. “Retirei a vírgula que havia posto nesta manhã”.
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Os recursos combinados das ciências modernas, física, química, matemática e geologia, abriram uma estrada até o âmago da Terra. Conduziram a inteligência humana a um campo de conhecimentos que o mais audaz explorador de um século atrás jamais poderia ter imaginado, nem mesmo em sonho.
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Os norte-americanos são os inventores da short-history, porque eles têm para si que time is Money. Parece que é isso o que pensa a maioria dos leitores de hoje, que têm por hábito saltarem parágrafos que chamam de “trechos supérfluos” e que também servem para prejudicar a velocidade e a continuidade. Mas o supérfluo é literatura, a literatura no sentido exato da palavra.
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Detesto quando me chama de “crítico de cinema”, que não sou. Porque não posso ser ao mesmo tempo o que te ama e o que te fiscaliza. E não cabe a mim dizer como deve ser feito e visto.
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Gosto quando me chamam de cineasta. Tanto quanto amargura saber que há tanto tempo não nasce qualquer fruto de nosso amor apressado. Mas nós sabemos que ainda há muito tempo e muito a ser criado.
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A morte vive a custa de quem morre.
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A morte não tem graça. A piada é a vida.
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Quer uma história de maior suspense e terror que nossa própria existência? Não estamos, por acaso, como aqueles personagens ilhados numa grande mansão, aguardando quem será a próxima vítima do misterioso assassino?
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A fotografia tem em si algo mágico, consegue eternizar um instante roubado do tempo.
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O seriado radiofônico foi um dos grandes hits na minha infância e juventude. Muito mais do que o seriado cinematográfico, uma vez que era eu quem poderia compor as imagens. Porque o rádio é uma extensão da memória e da imaginação, só mesmo comparável ao livro. Em ambos cabem o Universo.
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Se os meus textos não condizem com a realidade brasileira, condizem com a minha realidade.
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Minhas novelas de mistério são pedaços de quebra-cabeças, muitas vezes inacabados.
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Às vezes é bom acreditar na evolução e pensar que o homem ainda não está concluído.
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Onde encontram os escritores melhor confessionário senão nos livros que escrevem?
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Senhor, perdoai-nos por olharmos o mundo com olhos enxutos.
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O pior momento para um ateu é quando se sente agradecido e não tem a quem agradecer.
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A maioria das pessoas gostaria de viver uma vida simples, se o retorno a ela não fosse tão complicado.
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Se os homens só falassem do que entendem,  o silêncio seria insuportável.
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Um crítico que fala de verossimilhança é um tipo sem imaginação.
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Matrimônio, esse estado difícil que, para ser perfeito, exige o equilíbrio mais especioso entre as aspirações do ser físico que deseja viver ao lado de seu completo amoroso e as do ser pensante e sociável que refletiu nas leis graças às quais funciona a reciprocidade dos direitos e dos deveres, e que deseje dar aos vínculos feitos pela paixão, pela ternura, uma solenidade, uma grandiosidade, ao mesmo empo que um apoio religioso e legal, que asseguram a sua serenidade.
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As épocas levianas, as épocas felizes não se divorciam. As mulheres sabiam perdoar e compreender, e a sequência dos anos dava-lhes razão. Tendo aceitado este mal menor para poupar o pior, o desmoronamento do lar, os complexos de inferioridade social de que sofrem os filhos dos divorciados, eles haviam compreendido que a felicidade não está na indecisão eterna e nas múltiplas mudanças que ela supõe, mas no que perdura.
Porque um divórcio acarreta outro, é uma questão de temperamento e não uma necessidade de vida. E o primeiro dever é, portanto procurar uma criatura fiel, a fim de um dia não ter de sofrer. Ela não deve desposar uma pessoa divorciada. O choque de retorno não a pouparia, e viria punir esta renegação de sua natureza essencial, que se compraz na aceitação das regras necessárias, que exponham os direitos e os deveres de todos e de cada um em particular.
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O amor será tema incessante da vida. Encarado segundo todas as consequências, quer elas sejam trágicas ou mórbidas, segundo todos os seus aspectos e em suas formas mais inconvencionais, mais excessivas, indo do permanente desespero até a exaltação mística, ele será essa força criadora, esse impulso universal, a tocha de vida que inflama o mundo e faz correr sangue e lágrimas.
2 de março de 1997
No dia de hoje, há 40 anos eu me casava com a Tereza, a única mulher da minha vida.
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Fiquei encantado quando o Nico Rosso falou-me que fora amigo de Rafael Sabatini, eu que havia devorado seus livros na ‘Coleção Terramarear’ durante parte da minha infância e juventude, jamais poderia imaginar que um dia iria conhecer alguém que lhe fosse seu amigo. O Nico falou-me que via muita semelhança entre mim e o famoso ficcionista italiano. Como eu, Emílio Salgari preferia ambientar suas histórias em países que não fosse o seu. Criou personagens nada latinos e todos muito meus conhecidos, como: Tremanalk, Sandokan, Song Kay, entre muitos outros.
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Não se escreve por inspiração, escreve-se por não saber fazer outra coisa.
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Aqui está a cidade mesma, seu cheiro, sua cor. Os arranha-céus à meia-noite, uma luz amarela num dos últimos andares revela um amor proibido ou o cansaço de um contabilista atrasado. É o romance unanimista da cidade de São Paulo. O protesto contra esse mundo feio e cruel. Um colossal mosaico. Um panorama completo do mundo paulistano, a desvalorização de todos os valores.
Escrito numa madrugada de 1990 contemplando São Paulo de uma das janelas do Hotel Hilton.
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Os massacres medievais promovidos pelos cristãos e a barbárie nazifascista do nosso tempo deixam-nos ver as raízes negras e margas de um fanatismo místico, racista e feroz, que não brota da terra nem desce do céu, mas surge das próprias entranhas do homem, da sua brutalidade primitiva, dos ódios ancestrais recolhidos do inconsciente coletivo de povos aparentemente civilizados. O Cristianismo que fundamentou a nossa civilização é um arremedo grotesco do ensino do Cristo. Não fomos convertidos, mas apenas sugestionados por uma visão de beleza e de pureza que não conseguimos realizar em nós.
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Um dia me perguntaram:
- Você acredita em demônios?
Como posso acreditar num ser que teria sido criado por Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados eternamente ao mal? Só um inescrupuloso poderia acreditar num ser maligno, um desclassificado, fazendo de Deus um deus mau e vingativo.
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Este mundo seria um lugar bom se todos os homens tivessem sempre tanta paciência como têm enquanto esperam que um peixe morda a isca.
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O verdadeiro perigo de nossa era tecnológica não é tanto que as máquinas comecem a pensar como homens, mas que os homens comecem a pensar como máquinas.
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Quem pode negar que a fantasia não seja um bom catalisador da vida, da nossa vida, que é a coisa mais constante de todas as que existem na Terra?
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A essência do fantástico é apresentar-se um mundo imaginário, impossível, como se fosse real. Há uma intenção inocente, uma espécie de estelionato ungido e perdoado pela crítica.
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A humanidade costuma pedir aos céus a resposta aos mistérios que jazem além. O terror e o egoísmo é que forjam as religiões. Cada religião oferece o futuro aos seus adeptos, ou pelo menos as belezas desses futuros. As religiões vêm e vão, como as civilizações; mas o que a salvação está dentro de si e não no exterior... Dentro de si está a essência da vida, e um conhecimento do bem e do mal, tal como são para o homem. Por isso o homem deve lutar e permanecer de pé, nem se prostrar aos pés de nenhum deus desconhecido, modelado à sua imagem insignificante.
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 Cada ser humano é uma semente. Poderá germinar um bom ou mau fruto. Tudo vai depender do adubo utilizado.
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O que é a arte? Não será ela uma magia própria dos iluminados, daqueles que têm a capacidade de enxergar o mundo tal qual Deus o vê? Não será por acaso que todo artista é um ser alienado ao mundo que o cerca e incompreendido até mesmo por aqueles que lhe estão mais próximos.
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Não existe nada que se compare ao ato de escrever porque nesse momento mágico de criação, não somo mais nós mesmos, porque estamos revestidos de muitas personalidades. Podemos ser um homem ou uma mulher. Podemos ser um feiticeiro, ou uma ingênua montanhesa como uma promiscua sem escrúpulos ou dignidade, ou um médico que cura ou como um gangster que mata ou juiz que pune. Nada pode ser comparado com o ato de criar, nele podemos exorcizar nossas frustações. Se não conseguimos passar para uma tela toda a emoção que certas tardes nostálgicas transmitem, podemos fazê-lo através da sensibilidade de um personagem. As laudas podem se transformar num verdadeiro Universo, todo ele povoado pela nossa imagem e semelhança.
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Eu tenho um livro inédito intitulado “Longe da Luz”, que é dedicado a alguns amigos, todos vivos quando o escrevi. De tempos em tempos, diante de alguns nomes estou colocando os dizeres: in memoriam. Se ele demorar muito para ser publicado acabará sendo um livro in memoriam de todos eles e quem sabe, até mesmo um livro póstumo.
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Não creio no discernimento do povo. Não valorizo a capacidade racional da maioria, que não se guia pela razão, mas se deixa levar pela emoção.
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Neste domingo, 27 de setembro de 1998 leio na página dois da Folha de S.Paulo o artigo do Carlos Heitor Cony, no qual num certo trecho, ele diz: “o menino desconfiado e triste que eu era e, de certa forma, nunca deixei de ser.”. Identifico-me perfeitamente com essa frase. Lembro-me que tudo teve inicio num fim de tarde de 1939 e eu morava na rua Catão, no bairro da Lapa. Havia chovido, as calçadas molhadas, enxurrada correndo ao meio-fio e o céu estava cinzento, acinzentando as ruas, as casas e os corações das pessoas. Nuvens de um cinza pastoso,  dramático, escondiam o morro do Jaraguá. Aí, mergulhado na melancolia, o menino triste de poco mais de nove anos, de repetente deu-se conta do vazio de tudo e de todas as coisas: da própria vida, em si.
E ainda continuo vendo-me caminhando naquela tarde triste e depressiva, as ruas molhadas, refletindo um céu que não parece ser um céu, e sim uma grande lona incolor e gasta cobrindo o grande circo no qual todos nos esbofamos para que o espetáculo continue. Para que e para quem? Será que um dia saberemos?
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Na imaginação de muitos papalvos, os quadrinhos eram verdadeiras ervas daninhas, que a medida que eram lidas, iam se apoderando da inteligência e do cérebro dos leitores, reduzindo-os a parias da sociedade, candidatos a uma cela da penitenciária.
Quando garoto, eu morava na Lapa, São Paulo, mais precisamente, na rua Clélia. Perto de casa, na Praça Cornélia, erguia-se uma igreja, que existe até hoje. Num domingo pela manhã, a caminho da Escola Dominical, na Igreja Baptista, que ficava próxima da praça, vi uma queima de gibis patrocinada pelos padres. Fiquei parado ali, o coração apertado, vendo aquela pirâmide de revistas ardendo e eu sem a possibilidade de apanhar uma sequer. Imaginei, então, os mesmos padres que ali estavam, na Inquisição, queimando as bruxas que nada mais eram que as precursoras da Medicina e as revistas de história em quadrinhos, a linguagem do futuro. Como sempre, a Igreja Católica se opôs ao progresso!
Felizmente os quadrinhos, a despeito de tudo sobreviveram e se transformaram na linguagem de hoje. Hoje vivemos esse futuro. Hoje vivemos “o tempo da imagem”, como disse Abel Gance.
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Quem já viu as escarpadas rochosas da Escócia, seus castelos cercados de urses e de história, os desolados picos sobre os quais as nuvens passam rápidas sob o látego dos ventos, logo compreende escritas por talentosos literários nascidos naquelas paragens longínquas. Tais paisagens não apresentam surpresas aos olhos dos que se habituaram á leitura dessas obras, em que estão descritas com tal minúcia e veracidade que nós as gravamos na memória, como se fossem realmente vistas, e não apenas lidas. Aqueles campos nevoentos, aquelas nuvens esgarçadas, aquela terra úmida, o cheiro de feno e até o canto dos pássaros, tudo isso penetra os nossos sentidos, fere a nossa sensibilidade e se incorpora ás nossas recordações.
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Vai chegando um tempo na vida da gente que vivemos mergulhados em profunda e dolorosa nostalgia, como neste momento em que vejo na capa de um disco a foto de Gene Krupa, jovem sorridente, estudante de vida... vejo igualmente Harry James... envelhecer é mergulhar no passado, um passado que dói profundamente.
Jardinópolis, 9-8-96, 10:45.
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Há, ou não, serem desencarnados, aos quais sentimos e não vemos porque nossa vista é grosseira e rudimentar; existem casas enfeitiçadas, sortilégios e teosóficos conseguissem esclarecer um dia, alteariam completamente o destino da humanidade?
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Trago a maldição de saber das coisas. Quando vejo um dia lindo, imagino toda a miséria e sofrimento que o abriga.
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Na verdade, ninguém é absolutamente ele. As pessoas se baseiam em pensamentos e atitudes alheias. Só os criadores, mesmo que passem toda sua vida trancada entre quatro paredes vive. Só vive quem cria. E quem cria é um sonhador.
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Alain Resnais escandalizou o mundo intelectual quando ao filmar a Biblioteca Nacional Francesa, o documentário, “Toda a Memória do Mundo”, colocou ao lado de Shakespeare, um volume com as aventuras do Mágico Mandrake, de Lee Falk. Este foi o ponto de partida para desencadear o boom dos quadrinhos. De repente ficamos sabendo que Fellini tinha em casa de sua mãe uma coleção de revistas de histórias em quadrinhos e que sua frustração é a de não poder filmar exatamente o Mandrake. E também ficamos sabendo que Picasso se lamentou de nunca ter feito uma história em quadrinhos. E hoje os quadrinhos já estão na Universidade e em todos os setores da vida moderna, influenciando moda, publicidade, cinema, televisão e até mesmo as artes plásticas.
Isto aconteceu comigo: quando o meu amigo e poeta, Mário Moreira Chaves, homem de grande sensibilidade e cultura me visitou e, ao ver na minha biblioteca uma grande quantidade de volumes encadernados, quis logo saber do que se tratava, ficando horrorizado ao verificar que eram revistas de histórias em quadrinhos. “Mas, como pode, Rubens”, censurou-me de imediato, “Não vê que elas contaminam Shakespeare, Platão, Cervantes...?”.
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Edgar Allan Poe dizia que uma obra que não pode ser lida de uma única vez fica prejudicada por intervenções externas, que acabam destruindo sua verdadeira unidade. Assim justificava a Unidade de efeito e a economia de meios como elementos fundamentais do conto, gênero que, por suas características, considerava superior ao romance.
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Fui classificado como um autor de short story mystery magazine. A principio esse conceito me chocou. Hoje já nem tanto. Essa foi a minha forma de dizer as coisas, de escrever aquilo que tinha a dizer. Cada um busca seus próprios caminhos. Os textos de um modo ou de outro ficam, as críticas passam. Por isso dou uma banana para os críticos e prossigo minha caminhada.
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Quando se passarem muitos anos – nesses “muitos anos” que leva a sua fragrância aos contos infantis – e de nosso vida não mais restar coisa alguma, absolutamente nada, por este mesmo céu azul passarão as mesmas nuvens, o mar fará o mesmo rumor na praia dourada; haverá um perfumado dia de primavera como hoje, flores num jarro, numa sala de jantar, e moscas brilhantes dançando nesse mesmo raio de sol... Aqui, outros homens tecerão seus sonhos, acariciarão as mesmas ilusões, enrijecerão o ânimo da luta, quererão amar e rir, esquecerão... De nós... nada restará, absolutamente nada.
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Foi minha mãe, Assumpta Baldassarre Lucchetti, quem pela primeira vez me falou de Sorona. Ela contava para minha irmã Célia e para mim histórias passadas nessa região. Seria uma nova dimensão por nós desconhecida? Foi também minha mãe quem me ensinou a amar as coisas fantásticas e fazer delas o meu caminho.
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Cheguei á conclusão de que uma grande parte dos conhecimentos que tenho foi adquirida enquanto eu, procurando certificar-me de uma coisa, descobri outras.
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Se quiser evitar a censura alheia, não diga, não faça e não seja absolutamente nada.
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Quando escrevo, não raciocínio por palavras, penso por imagens.
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Informação é poder. E, sem educação, não é possível ter acesso á informação. Entretanto, simples acesso á informação não é tudo. É necessário que saibamos refletir ativamente sobre a informação recebida, e não recebê-la passivamente. Caso contrário, podemos nos tornar alvo de uma “realidade fabricada”.
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Há duas mentiras de atravessar mansamente a vida: acreditar em tudo ou duvidar de tudo. Ambas nos poupam o trabalho de raciocinar.
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Ás vezes é bom acreditar na evolução e pensar que o homem ainda não está concluído.
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Onde encontram os escritores melhor confessionário senão nos livros que escrevem?
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A maioria das pessoas gostaria de levar uma vida simples, se o retorno a ela não fosse tão complicado.
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Se os homens só falassem do que entendem, o silêncio seria insuportável.
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Um crítico que fala de verossimilhança é um tipo sem imaginação.
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Se os meus textos não condizem com a realidade brasileira, condizem com a minha realidade.
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Minhas novelas de mistério são pedaços de quebra-cabeças, muitas vezes inacabados.
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Um dos momentos mais grandiosos na vida humana foi certamente aquele quando um homem imaginou gravar em caracteres o pensamento.
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Quando se imita a realidade, o resultado pode ser bom; porém, quando se inventa essa mesma realidade, é melhor.
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O mal do homem consiste em não estudar, observar e experimentar aquilo que admite inicialmente como fantástico e impossível.
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Cada ser humano é uma semente. Poderá germinar um bom ou mau fruto. Tudo vai depender do adubo utilizado.
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Fazer concessões é o principio de toda degradação.
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Frase para ser colocada num dos meus textos: “Um monte de traças de mãos dadas”.
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O sobrenatural acompanham-nos á cada instante de nossa existência. O universo e o próprio Homem ainda são territórios inexplorados.
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Não se escreve por inspiração, se escreve por não saber fazer outra coisa.
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Críticos são estúpidos até quando têm razão.
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Quando ouço uma pessoa dizer: “vamos falar francamente”, imagino que ela passa a maior parte do tempo mentindo.
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Para falar de cinema temos de começar com Chaplin e terminar com Hitchcock.
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A única sorte que eu conheço é a sorte do trabalho. Tenho pena daqueles que imaginam que a sorte se encontra em qualquer esquina de uma casa lotérica.
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Este mundo seria um lugar bom se todos os homens tivessem sempre tanta paciência como têm enquanto esperam que um peixe morda a isca.
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A fotografia tem em si algo mágico, consegue eternizar um instante roubado do tempo.
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A doutrina católica pode ser comparada a uma suntuosa catedral gótica, onde cada peça de estrutura para o equilíbrio da outra. Tal estrutura foi sendo lentamente construída ao longo de séculos, a partir da vida dos cristãos, do culto, da reflexão, da controvérsia. Um dos exemplos mais evidentes de como isso correu é a doutrina mariana. Os relatos sobre Maria, no Novo Testamento são surpreendentes breves. No entanto, ao longo dos séculos emergiu uma vasta doutrina em torno de sua figura. E esse processo ainda está em curso. O dogma de que a mãe de Cristo ascendeu ao céu é relativamente recente, foi promulgada pelo papa Pio XII, em 1950, na bula Munificentissimus Deus.
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Raramente vemos o nome de Jesus Cristo batizando um templo católico. Todos estão ligados ao nome de Maria. Então o catolicismo não é uma doutrina cristã, e sim mariana.
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Na minha concepção, uma igreja não deveria não deveria ser um museu de santos, e sim um hospital para pecadores.
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A humanidade costuma pedir aos céus a resposta aos mistérios que jazem além. O terror e o egoísmo é que forjam as religiões. Cada religião oferece o futuro aos seus adeptos, ou pelo menos as belezas desse futuro. As religiões veem e vão, como as civilizações; mas o que permanece é a natureza humana. Se o homem percebesse que a salvação está dentro de si e não no exterior... Dentro de si está a essência da vida, e um conhecimento do bem e do mal. Por isso o homem deve lutar e permanecer de pé, sem se prostrar aos pés de nenhum deus desconhecido, modelado á sua imagem insignificante.
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Quase todas as divergências que dividem a Igreja Cristã, criando novas seitas, foram devidas não a discordâncias honestas quanto á doutrina, mas ao ciúme que um grupo tinha do poder e da influência de outro.
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Para minha surpresa, fui informado que existem pessoas que nunca viram um gnomo. Impossível deixar de sentir pena delas; com certeza, não enxergam bem.
Axel Munthe
Eu acrescentaria que um gnomo não se vê com os olhos das faces. É necessário ter olhos na alma.
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Ás vezes fico pensando: o que uma pessoa cega de nascença sonha?
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Por que será que toda pessoa bem sucedida acha que sabe tudo?
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É sempre temerosa a compra de um objeto num antiquário. Simplesmente porque todo objeto fica impregnado das emanações daquele que o possuiu.
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Quando escrevo mergulho no meu mundo; crio e destruo; sou um deus e o mundo, como está estabelecido e que desprezo passa a não existir; e, então, sou feliz.
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Existe um autor que merece registro especial na minha formação de autodidata: Hendrick Van Lonn, um verdadeiro gênio; e espanta-me que hoje esteja inteiramente esquecido. A leitura de seus livros deveria ser obrigatória a todo adolescente.
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Nós somos, na verdade, governados por leis que sequer desconhecemos. E elas foram feitas unicamente por interesse da classe dominante, os burgueses, aos quais os braços da lei jamais atingem. Atinge a nós, o povo.
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Quando o homem não encontra satisfação nas coisas de seu dia-a-dia, busca no irreal o “algo mais” que lhe permita fugir da vida sem aventura. E o homem estará pronto a precipitar-se em qualquer caminho que leve ao imponderável.
O medo do desconhecido é uma volta aos terrores ancestrais da espécie humana. Nossos antepassados eram perseguidos pelo desconhecido; o imprevisível parecia precipitar-se sobre eles e pertencer a esfera sobre as quais não tinham nenhum poder.
Por que o homem tem propensão para o horror?
É fato que o homem gosta de ficar aterrorizado (mas sabendo que ele próprio não corre risco algum enquanto se abandona a seu delicioso medo), e que as tendências mais ocultas no seu subconsciente terão vazão no plano das transposições.
O caso típico é o dos frequentadores do Grand-Guignol, deleitando-se ao ver cenas de suplícios, de assassinatos atrozes, etc. – sem terem o impulso de fazer o mesmo na vida normal.
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Sempre procurei meus próprios caminhos. Tenho um espírito nômade, que não se prende a dogmas e preconceitos, detesto qualquer tipo de imposição. Desde de muito cedo quis ter liberdade no que concerne á “minha criação”. Enchia as paredes de nossa casa com grandes painéis que eu pintava a pastel  em folha de papel de embrulho que meu pai trazia da firma em que trabalhava. Também não admitia fiscalização sobre o que lia. Neste particular tive a bênção de ter pais compreensíveis. Jamais implicaram com qualquer uma das minhas leituras. Minha mãe nunca se aborreceu com as revistas que eu empilhava sobre sua cristaleira na sala de jantar ou os livros que roubavam espaços nas gavetas da cômoda ou do guarda-roupa. Mas também nunca recebi incentivo de ninguém. Fiz minha própria trajetória, e bem ou mal fui trilhando-a. cometi muitos erros, tudo por falta de alguém que me orientasse. É difícil abrir trilhas, porque se perde muito tempo.
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Na verdade, não importa muito a natureza dos acontecimentos. O que realmente importa é a maneira como respondemos a eles. Nisso radica toda a magia e toda a possibilidade de viver uma vida feliz... ou infeliz.
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O progresso da medicina e da cirurgia beneficia apenas uma casta de privilegiados. A grande massa da humanidade não tem acesso a ele; e isso, por acaso, não é desumano?
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O comércio é um tipo de roubo que não faz parte do Código Penal.
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Na verdade, a fantasia nasceu comigo. Desde que me lembro, aos seis anos, já aterrorizava minha Célia, com voos imaginários, na vila da rua Rio Bonito, onde morávamos. O “veiculo espacial” eram cinco cadeiras colocadas em fila. Eu, o condutor; ela, a passageira. A Célia ficou de tal forma amedrontada com a minha encenação que pediu, chorando, para “descer”.
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Conservo pendurada ao lado da minha escrivaninha uma grande fotografia da família da minha mãe. Nela estão meu nonno, minha nonna e todas as minhas tias, exceção de uma que residia na Itália. E todos os dias, antes de iniciar meu trabalho, fico contemplando-a durante certo tempo e, não raro, descubro coisas novas nela, como se a foto fosse se modificando. São detalhes que passaram despercebidos e que uma atenção mais acurada vai descobrindo. Então fico imaginando aquele exato momento em que ela foi batida. Todos postados diante da máquina fotográfica, certamente um daqueles monstrengos sobre tripés que eu bem conheço, porque meu pai era fotógrafo e tinha uma delas. Para se fotografar tinha que se cobrir a cabeça e a máquina com um enorme pano preto, deixando descoberta somente a objetiva, para que se pudesse focalizar a imagem a ser registrada e que aparecia de cabeça para baixo no visor, um vidro despolido.
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Arte Moderna
Qualquer obra de arte te, antes de mais nada, nos transmitir algum tipo de emoção e que emoção pode nos dar uma tela cheia de requadros e cores ou uma escultura de uma mulher que seria mais uma aberração da natureza? Na arte moderna falta o Belo e o Feio, falta a emoção, não sensibiliza. Pelo menos para mim. Por exemplo, se um pintor ao invés de pintar uma maçã, pinta alguma coisa que ninguém sabe bem o que é, diz-se que o pintor não quis reproduzir a maçã tal como ela é, “captou-lhe a essência”, a simples imagem inconclusa da maçã e isso é pintura moderna. Creio que arte consiste em você passar alguma emoção ao espectador, ela nada mais é que a imitação da vida, se faltar alma numa expressão artística ela fica sem vida. Como podemos dizer: “Este é o retrato de Nana” (fazendo referência a famosa tela de Manet) se ele tivesse feito uma mulher com cabeça de triângulo; no lugar da boca, o nariz; um olho na testa e a boca de enviesado numa das faces. Existe alguma mulher assim? E que emoção uma tela dessa natureza pode nos transmitir? Se houver um cataclismo e toda a civilização desaparecer da face da Terra e se ela viesse a ser visitada por extraterrestres e estes encontrassem uma dessas telas de pintura moderna iriam imaginar que os humanos eram daquela forma. Ou não iriam?
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Sempre imaginei que as capas dos livros devem ser bastante sugestivas a fim de poderem atrair o público leitor. O único livro que pode prescindir desse luxo é a Bíblia. Os outros livros não. A maioria das pessoas se deixam impressionar por belas capas.
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Acho que não tenho estilo nenhum. Coincidentemente acontece comigo, como tive oportunidade de saber recentemente, acontecia também com Georges de Simenon que disse não possuir estilo, “durante quarenta anos, procurei evitar tudo o que cheire a literatura, tento o simples”. É exatamente isso que venho fazendo nestes meus oitenta anos.
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O produtor cinematográfico é aquele homem que vê no cinema apenas um bom caminho para ganhar dinheiro e não uma arte magnifica. Porém, temos de convir que o caso de Val Lewton é bem diferente. Lewton não é um produtor comum, apesar de aparecer nas suas produções com o citado título. Cônscio da importância do conjunto na arte cinematográfica, Lewton organizou sob sua sábia orientação uma excelente equipe de valores técnicos e intelectuais de primeira grandeza. E á medida que os filmes foram sendo produzidos chegamos á conclusão de que Val Lewton não era simplesmente o produtor Val Lewton, mas também o cineasta Val Lewton. Sua obra é por demais homogênea, para que acreditemos apenas na sua participação financeira nas produções. A influência do produtor na parte puramente artística do filme é indiscutível, e para concluir, basta o conhecimento da série de seus filmes para a RKO-Radio, desde “Sangue de Pantera” até “Asilo Sinistro”.
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O sobrenatural acompanham-nos á cada instante de nossa existência. O Universo e o próprio Homem ainda são territórios inexplorados.
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Por mais alto que possa voar o espirito do homem, o estômago controla seu voo. É com este órgão que a humanidade, como o exército, deve sempre avançar. Debaixo do estômago está a vegetação, debaixo desta o solo e deste incessante e variado tumulto das forças terrestres. Cada vulcão que expele seus fumos para o céu, cada força erosiva que pula sobre o corpo prostrado da Terra, é como um moinho produtor do solo. Porque, tanto o grão como o moedor variam de lugar para lugar, a agricultura varia de acordo, e com ela o destino do homem civilizado, e onde o solo é árido ou pobre a sociedade declina; onde é profundo e rico, ela floresce.
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Parece ser verdade que “viemos do pó e para pó retornaremos” é o mandamento inexorável e universal da natureza. A morte, de uma maneira ou de outra, abate-se sobre cada esforço da carne. Inúmeras dinastias de criaturas viventes percorreram as estradas da glória traçadas pelos deuses – até o mesmo fim impenetrável. As causas da extinção das raças constituem o mais impenetrável de todos os mistérios da vida, porque são os mais vagarosos na produção de seus efeitos. Ninguém possui a mais leve concepção de sua natureza.
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Os indivíduos e as civilizações são filhos da terra volúvel que os gerou, a terra que permite o crescimento e a morte das flores, as montanhas elevarem-se e desmoronarem-se. Que um destino melhor esteja reservado ao homem como espécie, ninguém deve preocupar-se com isso. Mesmo que o abismo da extinção inevitável se aproxime cada vez mais do horizonte, ainda pode haver alguma alegria na jornada. Porque o homem é o único animal capaz de enfrentar com um pensamento, um sonho e um sorriso, o mistério, a loucura e a terrível beleza do universo.
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É preciso manter, constantes, os laços da solidariedade humana, nunca molestar, maltratar, injuriar, danificar, desonrar; “não levantarás falso testemunho, não furtarás, não matarás”.
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Um romancista que pretende apaziguar sua consciência moral pela introdução deliberada de um elemento didático em sua obra, ela pode esperar resultados desastrosos. O controle sobre seus personagens deriva-se de certas instituições; e se, desprezando essas instituições, usá-los como instrumentos para pregar lições de moral não terão vida longa. Uma paixão ardente pela moral pode produzir um trabalho de méritos morais e artísticos. Mas ficção que provem de uma moralidade calculada não terá valor algum.
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Ás vezes nem é necessário lermos um compêndio para encontrarmos algo que exija nossa reflexão. Num pequeno artigo de jornal podemos encontrar respostas ás muitas inquietações, como por exemplo no artigo “A chave para reabrir o Jardim do Éden”, do jornalista e escritor Gilles Lapouge, em ‘O Estado de S.Paulo’, de 14 de abril de 1996:
“O Gênesis é, ao mesmo tempo, o texto mais famoso e mais violento: o Paraíso da Bíblia é uma maravilha, mas essa maravilha é momentânea. Apenas Adão começa a brincar com os gentis animaizinhos, sob os céus cambiantes, faz uma bobagem – e Deus fecha o Jardim das Delícias. O caso é resolvido a toque de tambor por Jeová, a uma velocidade tal que nos perguntamos se o redator da Bíblia não terá querido dizer que o Éden é apenas um sonho, e a felicidade não existe!”.
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Ao votar você estará delegando seu poder a quem nunca irá defender os seus direitos.
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A Arte até pode ser explicada, mas é uma tolice banalizá-la na tentativa de universalizar seu entendimento. Ela deve permanecer mesmo com legado de uma pequena elite. Veja bem, não uso o termo elite para me referir a uma pessoa elite. Veja bem, não uso o termo elite para referir a uma pessoa endinheirada. Para essa casta, a Arte produz um mal-estar. Será mais fácil sensibilizar um porco ao som de uma Rapsódia de Liszt do que um burguês.
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O tipo de histórias que eu escrevo requer uma cadência rápida. É isso que a caracteriza. Porque o leitor não quer ter de parar e voltar uma ou duas páginas atrás para saber porque isto ou aquilo aconteceu. Tenho que ir dando todas as explicações necessárias e tento fazê-lo sem lucubrações, ou descrevendo demasiadamente coisas que o afastem da trama. Ás vezes detenho-me em descrever os tipos físicos dos personagens, mas isso muito rapidamente. Não posso deixar o leitor bocejar, tenho de saltar parágrafos para retomar o fio da história.
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Não me imagino viver sem escrever. Todos os dias eu escrevo. Nem que seja uma carta. Mas escrevo. Escrever é um hábito. Um vicio e ele está enraizado no meu sangue desde os nove anos, quando escrevi meu primeiro conto. Mas o primeiro a ser publicado eu tinha doze anos. Foi “A Única Testemunha”, uma história calcada no “Gato Preto” e “O Coração Revelador”. Não que eu estivesse aterrorizado com esses contos de Poe, fiquei simplesmente encantado com eles. Tinha consciência de estar diante de algo grande, de dimensões muito além do que chamamos de Literatura.
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Quanto á vida, é ela uma sucessão constante na sua marcha evolutiva para o progresso. Tomaremos tantas vezes novos corpos quantos forem necessárias á nossa completa purificação: é a palingenesia. Nascer, viver, morrer, renascer ainda tal é a Lei. Eis a síntese doutrinária dada a Allan Kardec.
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Creio que perdi muito tempo escrevendo e assinando nomes de pessoas inexistentes. O que importa mesmo é ter o nosso nome embaixo do título da narrativa ou na capa do livro. Então poderemos ser elogiados ou execrados, não importa, desde que estejamos devidamente identificados. Poucas vezes tive a satisfação e a vaidade de poder exibir algo impresso e dizer: isto fui eu que escrevi. A pessoa pode acreditar ou não, afinal o nome que ali aparece não é exatamente o meu.