terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Rossana Ghessa

 
Rossana, sabemos que nasceu na Itália e veio ao Brasil com apenas sete anos. O que não sabemos é por que e em que circustância veio para cá?
Toda a família veio migrada, a pedido do meu cunhado casado com minha irmã mais velha.
 
Seu inicio na carreira artistica foi como garota-propaganda. Quais as recordações desse período?
As recordações são de carinho e saudades das pessoas que foram importantes na minha carreira.
 
No seu currículo consta também trabalhos com fotonovelas, que muitas pessoas desta geração não fazem ideia nem do que seja. Como foi esse trabalho?
Fazer fotonovelas era um trabalho divertido e prazeroso, a diferença era na interpretação, tinha que chegar ao ideal e congelar a pose.
 
Durante um ano você foi modelo profissional da agência McCan Ericsson. Nesse momento você vislumbrava a possibilidade de ser atriz ou estava realizada como modelo?
Na verdade as coisas foram acontecendo naturalmente, o Vitor Lima, o primeiro diretor com o qual trabalhei como atriz, me viu fazendo uma apresentação de uma dança num filme americano rodado no Rio(Las Vegas a Noite) e de imediato me contratou para estrelar 3 filmes: ‘Paraíba, Vida e Morte de um Bandido’; ‘Patas Assassinas’ e; ‘007 no Carnaval’.
 
Aí não parei mais.
 
Esse trabalho na McCan Ericsson foi logo após ter ganho o concurso de Miss Objetiva?
O trabalho na McCanEricsson, foi muito bom, fui contratada por um ano de exclusividade, para ser modelo das grandes campanhas publicitarias, e para apresentar um programa infantil na extinta TV Rio que se chamava agarre o que puder, que era patrocinado por uma marca de creme dental, eu era muito jovem, não tinha noção de responsabilidade, e este trabalho me deu a consciência profissional que me faltava.
 
Como lidava com a sua beleza nesse período?
Eu não tinha noção de que era bonita, então nunca usei a beleza como arma para conquistar espaço de qualquer natureza.
 
Sua estreia no cinema foi em 1966 com o filme "Paraíba, Vida e Morte de um Bandido". O que lembra deste trabalho?
Lembro que VITOR LIMA foi um grande mestre, me ensinando com a maior paciência, e também da bofetada que Jece Valadão me deu numa cena que abriu um corte nos meus lábios, ficando 3 dias com a boca inchada.
 
Imaginava que em "Paraíba, Vida e Morte de um Bandido" você estava iniciando uma trajetória que contaria com mais de quarenta filmes?
Não, claro que não, sabia que era o que eu queria continuar fazendo ate morrer, até agora foram 57 filmes, mas pretendo fazer pelo menos mais 100.
 
A década de 70 foi a mais proficua, você fez um filme atrás do outro em produções nacionais e em co-produções. O que a década de 70 lhe traz de recordação?
Eu acredito que foi a década mais rica do cinema nacional, também foi a época mais glamorosa, com grandes festivais internacionais comandados por DURVAL GARCIA , então presidente do INC e da Embrafilmes, trazendo para abrilhantar a festa ,grandes nomes do cinema mundial, como URSULA ANDRIOX, RAFF VALONE ,ROGER MURR, RACHEL WELH, TONY CUTRS mais os diretores  VON STERNBERG e outros tantos.
 
Sua participação no teatro, se comparada ao cinema, é tímida. Quais as razões disso?
Nenhuma razão especifica só falta de tempo, mas estou corrigindo isto agora, com u belo projeto para teatro que se chama (UM MERGULHO NO UNIVERSO DA LEILAH ASSUPCAO).
 
"A Úlcera de Ouro" e "Cinderela do Petróleo", foram duas peças de teatro que atuou. Conte-nos sobre elas.
Foram musicais maravilhosos, que me deram uma grande experiência de movimento cênico, também tive o privilégio de ser dirigida por diretores fantásticos, como LEU JUSE e JOAO BITENCOUERT, ainda tem o grande prazer de ter contracenado com monstro sagrados do teatro brasileiro.
 
Você também estrelou shows produzidos por Carlos Machado. Como eram esses shows?
CARLOS MACHADO era o rei das noites carioca, montava shows grandiosos, com cenários e figurinos deslumbrantes, foi uma  época maravilhosa, e estar em cena com IRENE RAVACHE, GRANDE OTELO, ARI FONTOURA e outros de igual valor e inesquecível.
 
Maurice Capovila, Anselmo Duarte , Alfredo Sternheim Ody Fraga, Cláudio Cunha e Fauzi Mansur foram alguns dos diretores que você trabalhou.  Como é, para uma atriz, de “adequar” a temperamentos, personalidades e dinâmicas de trabalhos tão distintas?
Trabalhar com todos esses diretores maravilhosos, foi o que me enriqueceu como atriz, eles tiveram muito a me ensinar, eu garanto foi uma experiência e um aprendizado que nenhuma faculdade de belas artes pode proporcionar.
 
Em 1970, você integra a galeria de musas de Khouri em ´Palácio dos Anjos´, onde divide a cena com Adriana Prieto, Norma Bengell e Joana Fomm – dez anos depois, volta a trabalhar com o cineasta no ´Convite ao Prazer´. Como era a sua relação pessoal e profissional com o cineasta, tido como um dos mais exigentes?
WALTER HUGO KHOURI, era um gênio do nosso cinema, além de entender de uma produção, era extremamente culto, e tinha a magia de tratar as suas musas como verdadeiras estrelas. Minha relação com Walter sempre foi maravilhosa, porque havia respeito e admiração de ambas as partes, quando em cena eu era disciplinada e cumpridora das minhas obrigações como atriz, e fora de cena éramos grandes amigos.
 

Os anos 80 no Cinema nacional seriam marcados, sobretudo, pela profícua produção das comédias eróticas – as chamadas pornochanchadas. E você se tornou uma de suas maiores musas. Como lidava com esses títulos? Como era trabalhar nas pornochanchadas?
A pornochanchada como foi apelidado o gênero, (injustamente na minha opinião) era um gênero de filmes alegres, divertido, porquê tratavam o cotidiano do brasileiro, principalmente o carioca, com toda a sua malandragem e jeitinho, mas eram, também tremendamente ingênuos, como já tinha a TV, era preciso arrancar de casa o expectador, então o cinema tinha que mostrar o que a televisão não podia na época, nada mais atraente para os machões brasileiros do que lindas mulheres seminuas em cena picantes, eróticas cheias de tesão. Os donos dos cinemas riam de orelha a orelha, porque os cinemas viviam lotados, em todas as sessões.
 
Um dos seus principais trabalhos nessa época foi no filme ´Lucíola, o Anjo Pecador`, de Alfredo Sternheim, caprichada produção de época (final do séc. 19) baseada no romance de José de Alencar. Quais as recordações desse trabalho?
Era um desafio, ter que falar o português da época, a postura, os cabelos, e tudo o mais que compõem uma personagem. As recordações são as mais positivas, principalmente no que se refere ao trabalho, o Alfredo é um diretor maravilhoso, com seu carinho e atenção me ajudou a compor uma Luciola sensível e inesquecível.
 
Era diferente compor uma personagem para trabalhos nesse gênero?
Sim, e diferente, por se tratar de uma época que não foi vivenciada, requer mais pesquisa, para não erar, ai entra o trabalho do diretor, dosar as pinceladas para não exagerar nas cores.
 
Em “Carnaval Barra Limpa”, você trabalha com J. B. Tanko, o que tem a falar do diretor?
As melhores referencias, um diretor maravilhoso em tudo que fazia, além de inteligente era gentil e educadíssimo, guardo em minha memoria as melhores lembranças.
 
Você participou do ambicioso “Quelé do Pajeú”, de Anselmo Duarte, primeiro filme brasileiro rodado em 70mm, mas que não obteve o sucesso esperado. Hoje, depois desse hiato, o que acha que aconteceu para o filme não “vingar”?
Participar da produção do único filme brasileiro rodado em 70mm, foi uma grande honra, o filme foi produzido pela Columbia em coprodução com uma empresa brasileira, por alguma razão que desconheço, os produtores em algum momento discordaram, no que resultou que a Columbia se apoderou dos negativos não deixando no Brasil nem uma cópia em 16mm.
 
Mas discordo de que o filme não tenha vingado, ele foi distribuído no mundo inteiro, também foi ele que representou o Brasil em grandes festivais, como Nova Delhi, onde eu e Rui Pereira da Silva (um dos produtores brasileiros) fomos recebidos com todas as horas e pompa, por ninguém menos que Indira Gandi e toda a cúpula do governo, e mais o filme concorreu em igualdade com grandes diretores internacional como Pasolini é etc.
 
Muitos críticos consideram que as suas melhores interpretações foram nos dramas “Pureza Proibida”, como uma freira acusada de manter relações sexuais com um pescador negro e “Lucíola, O Anjo Pecador”; na comédia de humor negro “O Vampiro de Copacabana”, de Xavier de Oliveira e em “Snuff, Vitimas do Prazer”, de Cláudio Cunha. Você concorda com essas análises?
Pureza Proibida foi o 1* filme que eu produzi é interpretei, e os outros dois foram como é de minha natureza trabalhos que fiz com muita seriedade, mas devo dizer que na minha galeria de personagens maravilhosos, a critica se esqueceu de filmes como ANA TERRA / BEBEL /MEMORIAS DE UM GIGOLO, E tantos outros que parece a critica não viu, pena.
 
 “O Inseto do Amor”, de Fauzi Mansur, uma das mais surrealistas comédias eróticas da Boca. O elenco feminino desse filme é uma atração à parte: além de você tem Angelina Muniz, Helena Ramos, Zélia Diniz, Ana Maria Kreisler, Claudette Joubert, Liza Vieira, Alvamar Taddei, Misaki Tanaka etc., todas tendo seus belos bumbuns devidamente picados pelo mosquito Anophelis Sexualis. Um verdadeiro clássico!!! Pode nos contar sobre essa produção?
Fauzi é um diretor, que merece toda a minha admiração, sempre correto e atencioso, gostei de trabalhar com ele, conseguiu, em um único filme reunir tantas estrelas, que elas nem se deram conta que a verdadeira estrela do filme era o mosquito.
 
Com o sexo explícito dominando totalmente a produção de filmes da Boca do Lixo, você, assim como muitas outras atrizes, abandonou o cinema. O que tem a falar desse período?
Eu tenho certeza que para a maioria dos profissionais, foi um período triste, o que todos queriam era trabalhar em filmes maravilhosos, que divertissem o publico, que as famílias pudessem se divertir juntas. O sexo explicito foi uma deformação da cabeça de alguns diretores malucos, que acabaram confundindo as coisas não tenho nada contra que faz, mas fazer comedia erótica é uma coisa, fazer pornô e outra completamente  diferente, cada gênero tem seu espaço. Eu não abandonei o cinema, mesmo porque trabalhar com arte é a única profissão que tenho, foi o cinema que por um longo período me deixou de lado.
 
Quais as razão que a fizeram se afastar das telas no final dos anos 90?
Bom: tenho certeza que a maioria dos profissionais da indústria cinematográfica, involuntariamente claro, teve que parar de fazer cinema e dedicar o seu tempo a outras áreas da arte, como TV, teatro ou documentários até mesmo publicidade, com a chegada de Collor à presidência, todas as portas foram fechadas, a Embrafilme, o INC, e ate as distribuidoras que eram parceiras dos produtores, a maioria fechou as portas, o cinema ficou órfão até que se criasse um novo modelo, que é o que permanece ate hoje, espero que continue.
 
Você tem uma produtora de filmes, a Verona Filmes, que produziu seu último filme “Adágio ao Sol”. Como é o seu trabalho na empresa?
Além de ser sócia, dirijo a empresa.
 
Sente falta de trabalhos como atriz?
Muito, o trabalho de atriz me da grande prazer, a vida seria muito triste se não pudesse mais trabalhar.
 
É reconhecida nas ruas? Se sim, qual é o perfil das pessoas que te reconhecem?
Por incrível que possa parecer as pessoas ainda me reconhecem, recebo varias mensagens pelo Facebook, a maioria de jovens que viram os meus filmes no Canal Brasil, e também muitos da minha geração.
 
Para finalizar, gostaria de saber como é o seu dia a dia.
O meu dia a dia, esta longe de ser o que as pessoas imaginam, levo uma vida igual a todo mortal, vou a academia, cuido da casa e também da empresa, além de ter tempo para a família e os amigos.
 
Agora estou empenhada num projeto teatral, que se chama (UM MERGULHO NO UNIVERSO DE LEILAH ASSUPCÃO) vamos fazer 10 leituras dramatizadas das pecas que já foram publicadas, com galeria de fotos, e encenar RODA COR DE RODA.