Edson
Lopes
Produtor executivo do musical
Como
surgiu a ideia de levar para o palco Os
Saltimbancos Trapalhões – O Musical?
Surgiu
em um jantar com amigos em comum que nos apresentaram o Renato Aragão, de quem
sempre fomos fãs. Logo veio a ideia de comemorar os oitenta anos do Renato com
a sua estreia em teatro. Tudo correu rápido, e tivemos um encontro muito bonito
e surpreendente.
Os Saltimbancos Trapalhões é
o único filme do quarteto que podemos considerar um musical no sentido stricto sensu da
palavra. Isso, de certa forma, facilitou o trabalho?
O
formato do musical é bem diferente do filme. A história é outra, criamos uma
série de personagens novos e tramas paralelas, todos os números são bem
diferentes. No filme, os números aparecem como videoclipes e têm toda essa
estética audiovisual da época. No musical, o desafio foi tornar os números como
parte da peça, fazendo com que o roteiro e as histórias avançassem.
Antes
de produzir o espetáculo, você assistia e acompanhava no cinema os filmes que Os Trapalhões produziam?
Com
certeza. São filmes que fazem parte do inconsciente coletivo brasileiro.
Renato
Aragão e Dedé Santana deixaram sua equipe livre para criar ou participaram da
elaboração de todo o processo de produção do musical?
Tivemos
total liberdade na criação, carta branca mesmo.
Quais
são os grandes desafios de ter no elenco de uma produção desse porte atores notoriamente
não-teatrias e musicais como Renato Aragão e Dedé Santana?
Renato
e Dedé são dois de nossos grandes atores, entendem tudo do riscado e sabem ter
uma plateia nas mãos como ninguém. Desde os primeiros ensaios, eles se jogaram
completamente no processo. Tivemos um resultado espetacular.
Renato
Aragão ficou surpreendido com a grandiosidade do espetáculo. Foi dito por ele o
quão surpreso e encantado ficou. E Dedé Santana? Que ele comentou contigo?
O
tamanho da produção impressiona mesmo, com dezenas de atores, técnicos, equipe
criativa, produção, divulgação. O Rogério Falcão (cenógrafo) foi muito feliz e
criou um cenário que também impressionava, assim como os figurinos da Luciana
Buarque. O Dedé veio de circo, tinha um circo familiar. Encontrar aquele circo
armado no palco da Cidade das Artes foi, sem dúvida, um momento de muita
emoção.
Muitos
fãs questionaram a não participação da atriz Lucinha Lins no musical. Além de
ter participado do filme, ela possui experiência com canto e musicais. Que de
fato ocorreu?
Lucinha
é uma de nossas grandes atrizes e cantoras. É uma amiga antiga da dupla Möeller
& Botelho. Fizemos juntos uma temporada inesquecível da Ópera do Malandro, em que
ela arrasava como Vitória. Depois, criamos uma personagem para ela em Um Dia de Sol em Shangrilá. Em
Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical,
a personagem Karina (interpretada pela Giselle Prattes) é uma grande homenagem à
Lucinha e a tudo o que ela representou para uma geração inteira. Tivemos a honra
de ter a Lucinha na estreia, que ficou muito emocionada e aprovou o trabalho da
Giselle.
Roberto
Guilherme (Sargento Pincel) é um profissional com participação ativa, mais na
televisão do que nos filmes dos Trapalhões.
São raríssimas as entrevistas que ele concede. Você conviveu com ele, durante
todo esse processo. Gostaria que falasse da participação dele no espetáculo e
falasse como Roberto é no dia a dia.
Ao
contrário do Sargento Pincel, Roberto é figura doce e que adora trabalhar. Ator
disciplinado, pontual, que gosta de chegar cedo, colocar o figurino e repassar as
suas cenas. Todos os dias, ele fica escondido na coxia para assistir às cenas em
que não está.
Renato
Aragão disse em entrevista que, se vivo estivessem, Zacarias e Mussum também
estariam no musical. Duas perguntas: imagina como seria o impacto do quarteto
todo no palco? Haveria também, se vivo estivesse, um espaço para o Tião Macalé?
Seria,
certamente, muito emocionante. O espetáculo os homenageia, e não tem um dia em
que eles não sejam lembrados por todos que estão ali. Tião Macalé poderia estar
também presente, com certeza.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Não
são todos os críticos e nem todos os intelectuais, não podemos generalizar. De
qualquer forma, existe – em todos os campos da arte – esse eterno preconceito contra
os artistas populares. Fazer sucesso e vender ingresso ainda gera a
desconfiança de muitos.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Um
cinema popular e genuíno e muito benfeito, que se comunicava com todas as
faixas etárias e sociais.
Você
fez uma pesquisa para descobrir se o perfil do público que ia assistir a Os Saltimbancos Trapalhões – O Musical era
prioritariamente de fãs saudosos dos
Trapalhões, fãs de musicais ou uma mistura dos
dois?
Tivemos
uma plateia bem diversificada. O mais bonito foi ver os fãs antigos de Os Trapalhões levando
seus filhos e netos. Os mais novos não conheciam Renato e Dedé e saíam de lá
encantados. A reação das crianças, durante o musical, era incrível.
O
que projetou antes da pesquisa para a produção do musical, suas expectativas em
relação a este trabalho foram alcançadas?
Sem
nenhuma dúvida, todas as expectativas foram alcançadas, conseguimos montar um
espetáculo que emocionou e conquistou o público carioca, um grande sucesso!
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular, durante todo esse processo de construção e/ou
realização do espetáculo.
Eu
gostaria de ressaltar a generosidade do Renato Aragão. Poderia falar não apenas
de uma, mas de diversas ocasiões em que me emocionei com suas atitudes, principalmente
com o carinho e respeito que ele tem pelo público. Todos os dias, dezenas de
pessoas aguardavam para falar, tirar uma simples foto, crianças e adultos todos
misturados; e ele, mesmo cansado, atendia a todos e só depois entrava no carro
para ir embora. Às vezes, ele chegava para trabalhar com uma camisa polo que
tinha bordado no peito um Didi em caricatura. Eu achava aquilo o máximo: ver o
Renato, aos oitenta anos, todo arrumado e com aquela camisa super descontraída.
Era uma delícia. Um belo dia, eu não resisti e falei: “Renato, essa sua camisa é o máximo.”.
No dia seguinte, eu tinha compromisso e não iria ao teatro; mas recebi uma
ligação da minha assistente dizendo: “Seu
Renato quer falar com o senhor, já o procurou duas vezes...” É
claro que mudei tudo e fui para o teatro. Cheguei no intervalo do segundo ato e
segui direto para o camarim. Quando entrei, ele estava com duas camisas na mão
e me disse: “Para você, com todo meu carinho.”
Naquele momento, eu lembrei-me de toda a minha infância e meus olhos encheram-se
de lágrimas. Não resisti e chorei... São apenas camisas, mas as ganhei do
Renato, de quem sempre fui fã. Ele é uma pessoa fantástica que consegue
surpreender a todos a todo momento. Sua alegria é algo contagiante e
inesquecível.