terça-feira, 1 de maio de 2018

Os Trapalhões: Rodrigo Salem


Rodrigo Salem
Jornalista


Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Não era nada pessoal, acredito. Os filmes dos Trapalhões fazem parte de um gênero de cinema pouco reconhecido no mundo inteiro. E a ideia era fazer um humor popular e não voltado para prêmios. Pense que Jerry Lewis nunca ganhou nada, até ser reconhecido na França como grande artista.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
A grande maioria era formada por sátiras benfeitas. Eles trafegavam entre comédia física e piadas de duplo sentido.

Qual o legado histórico que o cinema dos Trapalhões deixou para o país?
Os Trapalhões brincaram com Ariano Suassuna, Guerra nas Estrelas, O Planeta dos Macacos; flertaram com Chico Buarque. É um legado e tanto para a cultura popular. Impossível desvencilhar os anos 1980 da trupe. Em um país sério, sem querer ser irônico, Os Trapalhões seriam tratados como gênios do humor.

Podemos considerar Renato Aragão um dos maiores e melhores produtores de cinema do país?
Sim, ele foi um dos maiores. Seus filmes são recordistas de bilheteria até hoje. Ele também tentou se adaptar aos novos tempos do cinema, mas bateu de frente com a crise do setor e voltou a atenção para a tevê.

Quais foram os melhores momentos dos Trapalhões no cinema? Os melhores filmes?
Os Trapalhões, para mim, entram em um âmbito mais pessoal, porque vivi o auge deles quando criança. Então, sem julgar como alguém que trabalha agora com cinema, diria que os meus favoritos ainda são: Os Saltimbancos Trapalhões, Nas Minas do Rei Salomão e Os Trapalhões no Auto da Compadecida.

Quais foram os piores momentos dos Trapalhões no cinema? Os piores filmes?
A Princesa Xuxa e Os Trapalhões, Uma Escola Atrapalhada.

O dito cinema “social” dos Trapalhões, típico de vários filmes anteriores como Os Trapalhões e o Mágico de Oróz, sempre tratou da problemática da realidade brasileira. Eles se saíram bem, tratando desses temas e tendo como público-alvo as crianças?
Sim, seguindo a escola Charles Chaplin de personagens, Renato Aragão criou Bonga, o vagabundo de coração mole, e repetiu o arquétipo mesmo sem utilizar o nome. O público se identificava, lembrando que cinema era diversão popular naquele tempo, quando filas davam voltas no quarteirão e os ingressos eram bem mais baratos.

Os Trapalhões tinham também outra proposta: inserir diversas atrações midiáticas do momento, com a intenção de atrair para as salas de cinema o maior número possível de espectadores dos mais diferentes gostos e faixas etárias. Por esse motivo, torna-se frequente a presença de personalidades da tevê, como, por exemplo, o grupo Dominó e Gugu Liberato. Isso era o melhor a fazer, pensando na visão de um exigente e diversificado público infanto-juvenil?
Era desespero de causa. Uma tentativa de se manter atraente para um novo público. Foi um erro compreensível, mas um erro. A trupe deveria ter investido em um humor mais sofisticado e não ido para esse lado de celebridade. Eles eram muito inteligentes, rápidos e perspicazes; mas, infelizmente, surgiram em um país que não tem memória. Eram nosso Monty Python, mas que precisaram virar uma triste sombra do que eram para poder sobreviver no mercado brasileiro em crise.

Em termos comparativos com Glauber Rocha, Cinema Novo, Cinema da Retomada e outros, é praticamente insignificante o que se tem para ler e entender o fenômeno que Os Trapalhões foram?
Sim, sem dúvida. Não temos material bibliográfico suficiente.