terça-feira, 1 de maio de 2018

Os Trapalhões: Roberto Guilherme


Roberto Guilherme
Ator


Como surgiu a oportunidade de atuar no filme Dois na Lona?
O Ted Boy Marino era, na época, o ídolo total do Telecatch (programa de televisão criado na extinta TV Excelsior do Rio, Canal 2, dedicado à exibição de combates de luta livre que combinavam encenação teatral, combate e circo); e nós pertencíamos à TV Rio, canal 13. Nesse filme, houve uma inversão de papeis. O Renato Aragão é o treinador; o Ted Boy Marino, o aprendiz; e eu, o campeão de telecatch. Fiz aula de telecatch para aprender as técnicas. Tudo era fantasia. Como eu já tinha sido da escola de paraquedistas, já sabia um pouco. Tinha uma certa noção da coisa. Foi aí que me escolheram.

Foi aí que você conheceu o Renato Aragão?
Eu era fã do Renato Aragão, desde a época da TV Tupi. Então, eu trabalha na TV Excelsior, e via todo domingo o Renato na televisão e sempre comentava a respeito dele. Eu dizia: “Um dia, vou trabalhar com esse cara.” Quando o Renato foi contratado pela TV Excelsior, veio me procurar. Ele falou com o Wilton Franco. O Wilton era muito brincalhão, sabia do meu desejo de trabalhar com o Renato, que queria me convidar para trabalhar com ele. O Wilton Franco, na brincadeira, disse: “Convida. Se ele aceitar, pode ir.” Incrível!!! Eu querendo, sonhando trabalhar com ele; e ele me chama. A partir daí; nasceu uma grande amizade. Somos amigos, compadres, irmãos de sangue (doei o meu para ele. Por isso, ele anda tão saltitante).

Seu próximo filme com o quarteto foi Os Trapalhões e o Mágico de Oróz, em 1984. Isso é, depois de dezesseis anos você voltou a filmar com Renato Aragão. Por que isso aconteceu?
É muito simples explicar. Devido à minha multiplicidade de trabalhos. Eu fazia o programa Os Legionários, um humorístico que era exibido aos domingos, às 19h na TV Excelsior do Rio de Janeiro e de São Paulo (mas o programa era feito no Rio) e no qual eles aprontavam muito comigo. O próprio Renato Aragão escrevia a maior parte dos esquetes cômicos. Ele fazia muitas sátiras e críticas ao Exército brasileiro. Ele fazia piadas comigo, com o personagem do Sargento Pincel. E essas piadas começaram a ficar “populares” demais pelo país. Era o maior sucesso na época. Nessa época, eu fazia muita coisa: dublagem, fazia programas, estava em todas. E acabei ficando à parte na linha de filmes dos Trapalhões. E aí, quando as coisas se acalmaram, comecei a fazer mais cinema.

Seu próximo filme foi Xuxa e Os Trapalhões em O Mistério de Robin Hood. Como foi filmar sem o Zacarias?
Todos nós éramos muito engraçados em cena. Fora, éramos todos tímidos. Éramos tranquilos, ninguém fumava. Zacarias não bebia, Dedé bebia pouco. Mussum e eu bebíamos mais. Até hoje, eu sou tímido. A ausência do Zacarias, claro, causou muita tristeza, sim. Sentíamos muito a falta dele; mas era estranho, parecia que ele estava com a gente, durante as filmagens nos programas, no cinema. Era muito estranho isso.

Como é viver um vilão?
Até hoje, as pessoas me olham como o personagem e têm medo de mim. Isso se deve também pelo meu porte. Mas eu sou um cara legal, educado. Eu era considerado o vilão mais querido do Brasil.

Como define o cinema dos Trapalhões?
Nosso humor, era para a família, para todos, para idosos, adultos e crianças. Difícil ser superado até hoje. No atual programa Zorra, eu reaprendi a fazer uma nova forma de humor dentro da televisão. É cinema dentro da tevê. Eu faço o mesmo quadro várias vezes, para pegar diferentes ângulos. É muito legal. Eles juntaram um elenco idoso com a nova geração, essa junção ficou muito bacana. Tem um pouco dos Trapalhões aí. Talento não tem idade. A idade não é sinônimo de velhice. Essa formatação fez do Zorra uma verdadeira equipe, graças à visão geral da produção, comandada pelo diretor de núcleo Maurício Farias.

Quem era o melhor dos Trapalhões?
Até hoje ninguém sabe dizer quem era o melhor, porque um dependia do outro para aparecer. É preciso cultivar os ídolos.

Carlos Kurt, Maurício do Valle ou Roberto Guilherme? Quem foi o maior vilão da história dos Trapalhões?
O Kurt levava o vilão para o lado mais pesado. O Maurício era mais interpretativo. Tinha também o Átila Iório. Ele fazia um vilão da pesada também. Pra recuperar o meu lugar, eu decidi raspar o cabelo e fazer do Sargento Pincel um sargento bem durão e bobalhão. Acontece que esse personagem se transformou no vilão mais querido.

E esse vilão não funcionaria também no cinema? Não poderia ser melhor explorado nos filmes dos Trapalhões?
Esse vilão poderia se encaixar até melhor no cinema, em razão do enquadramento, dos cortes. Eu poderia fazer até melhor do que fiz na televisão, graças aos recursos do cinema. No cinema, você tem muito mais tempo para trabalhar o personagem, mais condições de fazer com calma. A televisão é uma loucura.

O que era os Trapalhões no cinema?
O cinema era praticamente a continuação da televisão. Promovíamos os filmes na televisão, e no cinema promovíamos o programa de tevê. A gente dava continuidade do que fazíamos na tevê. No cinema, nosso humor tinha essa continuidade. Os Trapalhões até hoje fazem sucesso, sejam nas reprises, nas vendas dos DVDs, no recém-lançado musical no teatro. Onde tiver alguma referência a respeito dos Trapalhões, haverá sucesso. Será sempre assim. O brasileiro precisa sorrir, precisa largar o celular (acho ridículo esta postura: às vezes, a pessoa está do lado da outra e não se falam, ficam conversando pelo celular!!!), precisa ver televisão, ir ao cinema, ao circo, divertir-se e sorrir. E quem fazia isso com maestria eram Os Trapalhões, tanto no circo, na televisão e no cinema.