quarta-feira, 22 de maio de 2013

Ramiro Silveira

Bacharel em Artes Cênicas – Direção Teatral pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com mestrado em Direção Teatral pela Middlesex University, em Londres, Inglaterra.  Em 2008, auxilia Antonio Abujamra no Centro de Aperfeiçoamento do Ator da Funarte, em São Paulo, e atua sob sua direção no espetáculo "Os Possessos".
 
Você é um profissional mais ligado ao teatro. O que o cinema pode contribuir para o teatro e o que o teatro pode contribuir para o cinema, já que as duas linguagens parecem ser tão diferentes?
São linguagens diferentes mas conectadas pela mesma fonte: artistas em estado expressivo de criação alimentando as sensações dos espectadores. O cinema sem dúvida bebe do teatro (dois mil anos mais velho) e o teatro por vezes se reinventa visitando referências advindas do cinema. Como ambas as artes estão relacionadas diretamente com e para o espectador, o diálogo entre elas, mesmo que apenas referencial, é inevitável.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Simplesmente porque não pertencem a uma indústria. Não são exibidos (salvo em festivais, mostras e raras experiências televisivas) e portanto não despertam o interesse comercial, mola mestra para atrair a atenção da mídia e conseqüentemente o público. Aí se cria um círculo vicioso: os curtas não despertam o interesse da mídia pois não são vistos por um número considerável de pessoas e não são vistos por um número considerável de pessoas porque não tem presença na mídia.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Acho que a internet poderá ser uma grande aliada. Também seria interessante a mobilização para a criação de mais ciclos de exibição e a abertura de possibilidades, junto aos cinemas e as distribuidoras, para que curtas fossem exibidos em programas duplos, com longas, em cinemas de grande público. 
 
Acredita que textos de teatro poderiam ser adaptados ao formato curta? Eles poderiam ser melhor explorados nessa plataforma?
Com certeza textos teatrais poderiam e já são adaptados para a câmera, tanto em forma de curta como de longa. Tudo depende da arte do roteirista e do diretor de conseguir contar a história em um determinado tempo.
 
Como é para um ator, acostumado a trabalhar em teatro, atuar em frente a câmeras de cinema? Qual é o método de preparação para encarar papéis nessa área?
A fonte técnica é a mesma. O que muda é a "calibragem" da expressividade dramática. Diferença básica: no teatro contamos a história para uma platéia, no cinema/TV, para uma lente. Na câmera o ator navega sobretudo através de nuances, detalhes, olho e pensamento e o resultado é diretamente "manipulado" pelo diretor, através de edição, fotografia, etc. O teatro exige uma maior amplitude de expressão, além de possuir a presença viva da platéia e da coisa acontecendo naquele momento, não podendo ser refeita, o que diferencia totalmente a experiência.
 
Não existe "o método". Existe técnica, dedicação e muita prática para que o ator de teatro consiga expressar-se com desenvoltura e naturalidade em frente a uma câmera.
 
Pensa em dirigir um curta? Se sim, como faria para trabalhar com a síntese?
Já tenho feito algumas experiências neste sentido... E a síntese que você fala dependeria certamente da história que eu escolhesse para contar. E de uma boa equipe para levar esta história adiante de uma forma interessante, no tempo de um curta.
 
Qual é o seu próximo projeto?
Neste momento estou mergulhado na pesquisa de doutorado que faço na USP, sobre técnicas de direção de ator. E aí o cinema certamente terá um espaço...