ALEX
GILL
Ator, músico do grupo Polegar
Você
atuou no filme Uma Escola Atrapalhada. Como
e em que circunstância recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a
experiência?
Sim, atuei junto com o
grupo Polegar, que foi convidado pelo próprio Renato Aragão para participar do
filme. Assim como todos da minha banda, eu fiquei super feliz, pois, desde
criança, sempre fui muito fã do trabalho dos Trapalhões. Mesmo
não sendo ator, foi uma experiência única e muito gratificante estar ali aprendendo
e participando com todo o elenco, a produção e ainda participando do último
filme que reuniu os quatro Trapalhões juntos.
Que
representava, naquele período, protagonizar um filme com Os
Trapalhões?
Os
Trapalhões eram sucesso absoluto nos filmes e no programa de tevê nessa época,
e todo artista que participava dos filmes deles automaticamente era super
bem-aceito pelo público. Creio que isso também tenha ajudado a nos dar mais
prestígio.
Você
pertencia ao grupo Polegar, um
dos maiores fenômenos musicais de todos os tempos no Brasil. Esse filme, de
certa maneira, era uma forma de beneficiar a imagem do grupo, dos Trapalhões
ou dos dois?
Eu creio que era bom
para todos. Bom para eles (Os Trapalhões),
por ter artistas em evidência participando do filme; e bom para nós, porque
acabava agregando mais uma modalidade na nossa carreira. Aprendemos muito com a
equipe, a direção e a produção.
O
número de discos vendidos e de shows aumentaram
após esse filme?
Bem, não sei dizer
números específicos, mas acredito que tenha contribuído também para a conquista
dos nosso discos de platina e platina duplo (marca superior a quinhentos mil
discos vendidos). A rotina de shows sempre
foi muito intensa, fazíamos shows quase
todos os dias. E, nesse período da gravação do filme, conseguimos dispor um
pouco mais do nosso tempo livre para as filmagens. Mesmo assim, nos finais de
semana não tínhamos folga, estávamos sempre viajando por todo o Brasil.
Quais
as suas maiores lembranças do filme Uma Escola
Atrapalhada?
Era tudo muito legal,
meio mágico até. Nós fizemos reuniões no início, tipo um laboratório, em que a
produção nos estimulava a criar nossos próprios personagens (garotos vindos do
interior para a capital) e até os atores profissionais nos ajudavam, dando
dicas de interpretação, dando alguns toques. Portanto, foi muito gostoso ter participado
dessa experiência.
Como
foi a sua participação no filme Uma Escola Atrapalhada, como
compôs o seu personagem?
Bem, a participação foi
da banda toda. Eu, como o caçula da turma, não tive um papel muito expressivo.
Mas dediquei-me de coração para fazer o melhor que eu pude e contribuir nas
cenas em que eu estava escalado para atuar com meus companheiros de banda.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com Os
Trapalhões?
Ah, era muito legal,
quando encontrávamos os atores nos sets de filmagem, O Selton
Mello, o Leonardo Bricio, o Supla, a Angélica, o Nill (Dominó) e todos os
outros atores. Eu sempre pegava dicas de interpretação com os veteranos. E, quando
não estávamos filmando, conversávamos bastante também, brincávamos de imitar
personagens de desenhos infantis pelos corredores, cantávamos músicas. Enfim,
era uma farra, quando estávamos de folga das cenas. Afinal, todos nós éramos
muito novos na época.
O
filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição
dele no filme é melancólica, muito magro, abatido. Como foi o seu contato com
ele? Ele já estava doente?
Como era tudo muito
corrido, não tivemos um contato mais próximo com Os
Trapalhões, durante as filmagens. Mas, sempre que nos encontrávamos com
eles, sempre foram muito simpáticos e
carinhosos com a gente. Sim, o Zacarias estava um
pouco abatido. A gente percebia um cansaço nele; entretanto, não imaginávamos que
ele estivesse tão doente. De qualquer forma, sempre levarei uma lembrança fantástica
desse quarteto sensacional que me alegrou e alegrou o nosso povo
inúmeras vezes com sua criatividade, suas brincadeiras, suas piadas... Eu defino
Os
Trapalhões como quatro adultos que tinham um coração de criança, porque
eles dedicaram a maior parte do seu trabalho ao público infantil.
Os
personagens de Zacarias, Dedé Santana e Mussum fizeram apenas uma breve aparição.
A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Eles compunham junto
com o Didi os seus personagens; no entanto, a trama toda se voltava mais para o
Didi, que liderava a turma toda.
Havia
o interesse dos Trapalhões e de
vocês, do grupo Polegar, em realizar mais filmes juntos?
Sim, havia interesse,
sim. Mas, depois que o Zacarias faleceu, acredito que eles se desmotivaram um
pouco; e acabou não acontecendo.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Cada pessoa tem o seu
gosto; e acho que, em cada situação que eles criavam, cada um deles brilhava de
forma diferente. Mas acredito que, se não estivessem os quatro juntos ali, a
coisa não teria dado certo. Era um trabalho de equipe, ao meu ver; e, assim
como numa banda, todos são importantes para a coisa acontecer. Nos bastidores,
o Mussum era muito divertido, contava piadas; o Zacarias estava visivelmente
cansado; o Dedé e o Didi eram um pouco mais reservados; mas todos sempre muito
simpáticos com a gente.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. É verdade? Ele acompanha tudo?
Algumas vezes ele
acompanhava; outras, não. Mas, quando tinha cenas com ele participando, a gente
procurava dar o melhor, para não ter que repetir muitas vezes. No geral, sempre
repetíamos as cenas, para dar opção de tomadas diferentes das câmeras. Isso era
normal.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados
pelos Trapalhões?
Isso eu não sei dizer,
até porque não faço parte do mundo do cinema, minha área é musical. Mas acho
uma pena essas pessoas não reconhecerem o trabalho desses quatro astros, que eu
considero como “gênios do humor” da
época.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Bom, eu classifico um
cinema leve, criativo, divertido, com intuito de entreter as pessoas. Ao mesmo
tempo, as histórias sempre passavam mensagens para fazer as pessoas refletirem
mais sobre as situações e temas abordados. No caso do filme Uma
Escola Atrapalhada, por exemplo, foram abordadas diversas questões
referentes a comportamento, convivência social, imprudência, descuidos com
gravidez precoce, discriminação por classe social etc... Acho que esse tipo de
coisa ajuda a alertar as pessoas na vida real.
Gostaria
que falasse o que representou para você trabalhar com Os
Trapalhões, que carregaram, por muito tempo, o
cinema nacional nas costas.
Para mim, foi uma
experiência única, como já disse anteriormente, até por já ser fã do trabalho
deles desde criança. Depois, conhecê-los pessoalmente e ainda atuar juntos em
um filme. Foi um presente maravilhoso toda essa experiência de filmagem,
responsabilidade, comprometimento com a equipe toda, o elenco, saber como
funciona todo o mecanismo de filmagem, pois sempre são feitas várias cenas para
escolher a melhor e tornar a história mais emocionante para o público.