quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Os Trapalhões: Alexandre Boury


ALEXANDRE BOURY
Diretor

Você encarou o desafio de dirigir o programa A Turma do Didi na TV Globo, a partir de 1998. Vocês enfrentaram muita resistência dos fãs mais saudosos dos Trapalhões, que enxergavam neste programa uma heresia contra Os Trapalhões e sua formação original?
Não enfrentamos resistência, pois o retorno do Renato Aragão se deu muitos anos após o grupo ter acabado; e, naquela época, a internet ainda não existia e a comunicação dos saudosos fãs não se manifestou a ponto de ser notícia.

Tadeu Mello (Tatá), Edson Cardoso (Jacaré) e Marcelo Augusto (Marcelo) eram a representação de Zacarias, Mussum e Dedé, respectivamente?
Não há como negar a semelhança dos arquétipos; porém, os de A Turma do Didi e Os Trapalhões são personalidades diferentes.

A Turma do Didi ficou no ar entre outubro de 1998 e março de 2010. Um recorde até hoje não igualado por programas de humor, principalmente aos domingos. A que se deve esse feito?
Ao talento de Renato Aragão.

O ator Roberto Guilherme é uma presença importante nos programas do Renato Aragão, tanto em Os Trapalhões como em A Turma do Didi. Entretanto, no cinema, sua participação é quase nula. Qual a razão?
Ele é um ator “escada”, de esquetes e não um ator que constrói uma personagem. Um filme tem que trazer elementos diferentes do programa.

Como foi dividir com o Paulo Aragão a direção dos filmes O Trapalhão e a Luz Azul e Didi, O Cupido Trapalhão?
Muito prazeroso. Ele é uma pessoa incrível em todos os sentidos.

Funciona esse método de dividir a direção?
Se houver sintonia, sim.

Um fato importante em O Trapalhão e a Luz Azul é a participação do Dedé Santana no filme. Como foi dirigir o Dedé?
Foi bem tranquilo.

Dedé Santana chegou a dirigir alguns filmes dos Trapalhões. Ele tentava acompanhar seu trabalho?
Não, só entrava no set para atuar.

Qual a razão da participação do Dedé nesse filme ser tão curta?
Pelo roteiro, esse era o único personagem em que Dedé se encaixava; e também não foi tão curta assim a participação dele.

Após O Trapalhão e a Luz Azul, você dirigiu Um Anjo Trapalhão. O convite para dirigir esse filme deve-se ao sucesso obtido no trabalho anterior?
Esse foi o primeiro trabalho que fiz com o Renato. Foi um Especial de Natal produzido pela TV Globo e exibido em 24 de dezembro de 1997. A decisão de exibi-lo no cinema foi devido ao seu sucesso na televisão.

Por que dessa vez você divide a direção com o Marcelo Travesso e não com o Paulo Aragão?
Eu ainda não conhecia o Paulo Aragão e havia feito a novela Vira-Lata com o Marcelo; e o Mario Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo, nos escalou para dirigir o especial.

Qual a razão da ausência de Dedé Santana nesse filme?
Ele era funcionário do SBT, e o especial era da TV Globo.

É verdade que Renato Aragão costuma participar de todo o processo fílmico de uma produção? Ele chegava a interferir em outros setores que não o dele?
O Renato, além de fazer o personagem Didi Mocó, é também produtor de seus filmes e exerce essa função de maneira muito competente.

Em Didi, O Cupido Ttrapalhão você volta a dividir a direção com Paulo Aragão. Nunca pensou em assumir sozinho o comando da direção de um filme do Renato? Nesse filme você teve a oportunidade de dirigir Mauro Mendonça, Oscar Magrini, Rosamaria Murtinho, Herson Capri, entre outros grandes atores. Entretanto, no mesmo filme, você dirige a apresentadora Jackeline Petkovic, o cantor Daniel, a dançarina Dany Bananinha, o ex-BBB Kléber Bambam, entre outros. Um desafio, não?
Tive a oportunidade de dirigir sozinho um dos filmes do Renato; porém, optei por dividir a direção com meu pai, Reynaldo Boury, que na época estava aposentado pela TV Globo. Não há dificuldades, se for respeitado o limite de cada “ator”.

Seu último filme com Renato Aragão é Didi Quer Ser Criança. Por que foi o último?
Após dez anos trabalhando com o Renato, decidi que era hora de voltar às novelas. Queria me integrar novamente em outros projetos.

Nesse trabalho você divide a direção com Reynaldo Boury. Como foi essa parceria?
Conforme disse acima, dividi a direção com meu pai Reynaldo Boury e foi muito bom poder trabalhar com ele no cinema, um campo novo para ele, que tem mais de sessenta anos de televisão. Atualmente, ele é o diretor geral das novelas do SBT.

Como foi dirigir Lívian Aragão? Já era perceptível a ideia de transformá-la em uma atriz?
Lívian Aragão sempre mostrou ter um talento nato para ser atriz. Em nada me surpreende ela estar cada vez mais em evidência.

O cineasta J. B. Tanko foi o profissional que mais dirigiu os filmes dos TrapalhõesVocê procurou fruir alguma característica dele em seu trabalho?
Não. Cada diretor tem suas referências; e eu gosto muito de Woody Allen, Mel Brooks, George Lucas e James Cameron. No cinema nacional admiro Daniel Filho e José Padilha.

Qual a sua opinião a respeito de J. B. Tanko?
Um ícone para o cinema brasileiro, com uma história belíssima e diversificada, com trabalhos de diferentes naturezas, tanto no Brasil como no exterior.

J. B. Tanko, Fauzi Mansur, Victor Lima, Adriano Stuart, Daniel Filho, Del Rangel, Carlos Manga, Roberto Farias, José Alvarenga Júnior foram alguns dos cineastas que dirigiram Os Trapalhões. Em sua opinião, qual foi o maior trabalho de direção já realizado em um filme dos Trapalhões?
Os Saltimbancos Trapalhões, de J. B. Tanko.

Como você classifica o cinema dos Trapalhões?
Marcou toda uma geração durante anos. Eram filmes que toda a família ia ao cinema para assistir. Todo ano havia uma expectativa para o próximo filme deles.

Qual foi o maior filme que você dirigiu com o Renato e qual ficou aquém do que você queria?
O maior foi Didi Quer Ser Criança, o que ficou aquém do que eu queria foi O Anjo Trapalhão, pois foi um produto feito para a tevê e que acabou indo parar no cinema. O enquadramento foi para 3/4, formato de televisão na época, e não 16/9. O orçamento e o equipamento técnico não eram de nível cinematográfico.

Que representa na sua carreira ter dirigido Renato Aragão?
Representa um grande orgulho, uma honra e um presente de ter tido a oportunidade de aprender a dirigir comédias com o maior palhaço do mundo: Renato Aragão, a quem só comparo ao Charles Chaplim.