ALEXANDRE
BOURY
Diretor
Você
encarou o desafio de dirigir o programa A Turma do Didi na
TV Globo, a partir de 1998. Vocês enfrentaram muita resistência dos fãs mais
saudosos dos Trapalhões,
que enxergavam neste programa uma heresia contra Os Trapalhões e sua
formação original?
Não
enfrentamos resistência, pois o retorno do Renato Aragão se deu muitos anos
após o grupo ter acabado; e, naquela época, a internet
ainda não existia e a comunicação dos
saudosos fãs não se manifestou a ponto de ser notícia.
Tadeu
Mello (Tatá), Edson Cardoso (Jacaré) e Marcelo Augusto (Marcelo) eram a representação
de Zacarias, Mussum e Dedé, respectivamente?
Não
há como negar a semelhança dos arquétipos; porém, os de A Turma do Didi e Os Trapalhões são
personalidades diferentes.
A Turma do Didi ficou
no ar entre outubro de 1998 e março de 2010. Um recorde até hoje não igualado
por programas de humor, principalmente aos domingos. A que se deve esse feito?
Ao talento
de Renato Aragão.
O
ator Roberto Guilherme é uma presença importante nos programas do Renato
Aragão, tanto em Os Trapalhões
como em A Turma do Didi.
Entretanto, no cinema, sua participação é quase nula. Qual a razão?
Ele
é um ator “escada”,
de esquetes e não um ator que constrói uma personagem. Um filme tem que trazer
elementos diferentes do programa.
Como
foi dividir com o Paulo Aragão a direção dos filmes O Trapalhão e a Luz Azul e
Didi, O Cupido Trapalhão?
Muito
prazeroso. Ele é uma pessoa incrível em todos os sentidos.
Funciona
esse método de dividir a direção?
Se
houver sintonia, sim.
Um
fato importante em O Trapalhão e
a Luz Azul é a participação do Dedé Santana no
filme. Como foi dirigir o Dedé?
Foi
bem tranquilo.
Dedé
Santana chegou a dirigir alguns filmes dos Trapalhões. Ele tentava
acompanhar seu
trabalho?
Não,
só entrava no set para
atuar.
Qual
a razão da participação do Dedé nesse filme ser tão curta?
Pelo
roteiro, esse era o único personagem em que Dedé se encaixava; e também
não foi tão curta assim a participação
dele.
Após
O Trapalhão e a Luz Azul,
você dirigiu Um Anjo Trapalhão.
O convite para dirigir esse filme deve-se ao sucesso obtido no trabalho
anterior?
Esse
foi o primeiro trabalho que fiz com o Renato. Foi um Especial de Natal
produzido pela TV Globo e exibido em 24 de dezembro de 1997. A decisão de exibi-lo
no cinema foi devido ao seu sucesso na televisão.
Por
que dessa vez você divide a direção com o Marcelo Travesso e não com o Paulo
Aragão?
Eu
ainda não conhecia o Paulo Aragão e havia feito a novela Vira-Lata com o Marcelo;
e o Mario Lúcio Vaz, diretor artístico da Globo, nos escalou para dirigir o
especial.
Qual
a razão da ausência de Dedé Santana nesse filme?
Ele
era funcionário do SBT, e o especial era da TV Globo.
É
verdade que Renato Aragão costuma participar de todo o processo fílmico de uma
produção? Ele chegava a interferir em outros setores que não o dele?
O
Renato, além de fazer o personagem Didi Mocó, é também produtor de seus filmes
e exerce essa função de maneira muito competente.
Em
Didi, O Cupido Ttrapalhão você
volta a dividir a direção com Paulo Aragão. Nunca pensou em assumir sozinho o
comando da direção de um filme do Renato? Nesse filme você teve a oportunidade
de dirigir Mauro Mendonça, Oscar Magrini, Rosamaria Murtinho, Herson Capri,
entre outros grandes atores. Entretanto, no mesmo filme, você dirige a
apresentadora Jackeline Petkovic, o cantor Daniel, a dançarina Dany Bananinha,
o ex-BBB Kléber Bambam, entre outros. Um desafio, não?
Tive
a oportunidade de dirigir sozinho um dos filmes do Renato; porém, optei por
dividir a direção com meu pai, Reynaldo Boury, que na época estava aposentado pela
TV Globo. Não há dificuldades, se for respeitado o limite de cada “ator”.
Seu
último filme com Renato Aragão é Didi
Quer Ser Criança. Por que foi o último?
Após
dez anos trabalhando com o Renato, decidi que era hora de voltar às novelas. Queria
me integrar novamente em outros projetos.
Nesse
trabalho você divide a direção com Reynaldo Boury. Como foi essa parceria?
Conforme
disse acima, dividi a direção com meu pai Reynaldo Boury e foi muito bom poder
trabalhar com ele no cinema, um campo novo para ele, que tem mais de sessenta
anos de televisão. Atualmente, ele é o diretor geral das novelas do SBT.
Como
foi dirigir Lívian Aragão? Já era perceptível a ideia de transformá-la em uma
atriz?
Lívian
Aragão sempre mostrou ter um talento nato para ser atriz. Em nada me surpreende
ela estar cada vez mais em evidência.
O
cineasta J. B. Tanko foi o profissional que mais dirigiu os filmes dos Trapalhões. Você
procurou fruir alguma característica dele em seu trabalho?
Não.
Cada diretor tem suas referências; e eu gosto muito de Woody Allen, Mel Brooks,
George Lucas e James Cameron. No cinema nacional admiro Daniel Filho e José
Padilha.
Qual
a sua opinião a respeito de J. B. Tanko?
Um
ícone para o cinema brasileiro, com uma história belíssima e diversificada, com
trabalhos de diferentes naturezas, tanto no Brasil como no exterior.
J.
B. Tanko, Fauzi Mansur, Victor Lima, Adriano Stuart, Daniel Filho, Del Rangel, Carlos
Manga, Roberto Farias, José Alvarenga Júnior foram alguns dos cineastas que
dirigiram Os Trapalhões.
Em sua opinião, qual foi o maior trabalho de direção já realizado em um filme
dos Trapalhões?
Os Saltimbancos Trapalhões, de
J. B. Tanko.
Como
você classifica o cinema dos Trapalhões?
Marcou
toda uma geração durante anos. Eram filmes que toda a família ia ao cinema para
assistir. Todo ano havia uma expectativa para o próximo filme deles.
Qual
foi o maior filme que você dirigiu com o Renato e qual ficou aquém do que você
queria?
O
maior foi Didi Quer Ser Criança,
o que ficou aquém do que eu queria foi O Anjo
Trapalhão, pois foi um produto feito para a tevê
e que acabou indo parar no
cinema. O enquadramento foi para 3/4, formato de televisão na época, e não 16/9. O orçamento e o equipamento
técnico não eram de nível cinematográfico.
Que
representa na sua carreira ter dirigido Renato Aragão?
Representa
um grande orgulho, uma honra e um presente de ter tido a oportunidade de
aprender a dirigir comédias com o maior palhaço do mundo: Renato Aragão, a quem
só comparo ao Charles Chaplim.