ANA
ROSA CORRÊA
Atriz
Você
é filha de artistas circenses e conheceu no circo seu primeiro marido, o Dedé
Santana. Como foi esse encontro? Em que circunstâncias se conheceram?
Em
agosto de 1958, eu tinha dezesseis anos e estávamos, minha mãe e eu em Curitiba.
Ela trabalhava num cartório, eu fazia o ginásio; e, à noite, trabalhávamos num
circo. Minha mãe precisou fazer um tratamento médico, e viemos para São Paulo.
Soubemos, por intermédio de uma prima, que o Dedé Santana estava montando um
circo para excursionar com o gênero Revista e estava procurando uma bailarina.
Fomos contratadas e seguimos com o Circo de
Revista Real. Eu e Dedé namoramos durante três meses
e nos casamos dia 8 de dezembro.
Vocês
foram casados por quatro anos e tiveram dois filhos. Quais as suas principais recordações
desse período?
Algumas
boas, outras tristes. Meu casamento em Campinas (SP), com uma festança no
circo; o nascimento, em 1959, de meu primeiro filho, o Maurício; nossa excursão
por São Paulo, Minas, passando por Ubá, terra do Ary Barroso e onde Maurício nasceu,
depois Goiás, seguindo até Brasília; estar em Brasília no dia da inauguração; trabalhar
por um tempo na TV Alvorada e fazer amigos por lá; o nascimento de Maria Leone,
em 1962. Essas todas foram boas recordações. Das tristes, a principal foi a
morte de meu filho, acometido de uma leucemia aos doze meses de vida.
Dedé
era engraçado na vida particular ou tinha outro comportamento?
Dedé sempre foi muito
bem-humorado e gostava de fazer graça.
Com
Dedé, você excursionou, trabalhando como bailarina com o Circo de Revista Real.
Como era esse trabalho? Vocês produziam e apresentavam-se?
Dedé
já havia trabalhado em teatro no gênero Revista. Ele era sobrinho do cômico Colé
e trouxe do teatro essa experiência. Eram esquetes, números de plateia – como
eram chamados os monólogos das vedetes e dos atores intercalados por números
musicais. A novidade era que também apresentávamos números circenses. Dedé era
o cômico da companhia, eu era bailarina e fazia os esquetes com ele. Meu
cunhado, Dino Santana, era o “escada”.
Minha sogra, Ondina Sant’Anna, fazia deslocação. E minha mãe ficava na porta,
cuidando dos ingressos. Havia outros artistas contatados.
Em
1960, vocês dois inauguraram a TV Alvorada, em Brasília. Na ocasião,
apresentaram juntos, ao vivo, diversos números circenses e teleteatros. Como e
por que receberam esse convite para inaugurar o canal?
A TV
Alvorada estava sendo inaugurada, e não havia uma grade de programação. As
coisas tinham que acontecer meio na base do improviso, além de existirem poucos
artistas em Brasilia em 1960. Como tínhamos vasta experiência do circo-teatro
tradicional, onde apresentávamos peças teatrais, o diretor artístico do canal
(se não me engano, o primeiro nome dele era Wanderley) nos convidou para
apresentar um teleteatro a cada semana. Além dos textos, já tínhamos os elencos
formados com a própria família, minha mãe, que também era atriz, e os outros
artistas do circo. Pena que ainda não existia o videoteipe e nada disso ficou
registrado.
Nesse
período em que foram casados, Dedé manifestou interesse em trabalhar na televisão
e no cinema? Ele compartilhava seus sonhos com você?
Compartilhava,
claro. Quando nos casamos, Dedé tinha 22 anos e sempre foi apaixonado pela sua
profissão. Se não me engano, ele já havia feito algumas participações em filmes
com o Colé. Trabalhar em cinema e na televisão (depois que ela se tornou o
maior veículo de comunicação) sempre foi o sonho de qualquer artista.
Gostaria
de saber se em algum momento Dedé manifestou desapontamento por ser um “escada” e ser
posicionado como um “coadjuvante”
em participações e trabalhos na televisão e cinema?
Enquanto
estivemos casados, Dedé sempre foi o primeiro cômico nos espetáculos em que participou.
Tanto em nosso circo, como depois da morte do Maurício, nas companhias de
Fernando Dávila, do Jardel Bôscoli e J. Maia, que eram produtores de Teatro de
Revista. Depois, quando fez dupla com Renato Aragão, eu e ele já estávamos
separados; e a separação foi uma fase dolorida. Deixou algumas mágoas e marcas.
A morte do Maurício ainda era recente e tínhamos uma segunda filha ainda bebê.
O processo de desquite nos deixou um pouco estremecidos. Nas poucas vezes em
que nos encontramos, no início da dupla Dedé e Didi,
foi sempre para falar sobre nossa filha, Maria Leone. Só para esclarecer, esse
clima entre nós perdurou por algum tempo. Mais tarde, ele formou outra família,
teve mais filhos. Depois, quando veio a lei do divórcio, nos divorciamos, eu me
casei uma segunda vez e tive mais sete filhos. Hoje, Maria Leone se dá muito
bem com a esposa dele e os irmãos por parte de pai. O tempo, a experiência de
nossa vidas em separado e a maturidade sanaram qualquer mágoa que pudesse haver
entre nós e nos fez compreender os enganos da juventude. Felizmente, ainda
nesta encarnação. Hoje, eu e Dedé somos bons amigos.