quarta-feira, 1 de março de 2017

Os Trapalhões: Ana Rosa Corrêa


ANA ROSA CORRÊA
Atriz

Você é filha de artistas circenses e conheceu no circo seu primeiro marido, o Dedé Santana. Como foi esse encontro? Em que circunstâncias se conheceram?
Em agosto de 1958, eu tinha dezesseis anos e estávamos, minha mãe e eu em Curitiba. Ela trabalhava num cartório, eu fazia o ginásio; e, à noite, trabalhávamos num circo. Minha mãe precisou fazer um tratamento médico, e viemos para São Paulo. Soubemos, por intermédio de uma prima, que o Dedé Santana estava montando um circo para excursionar com o gênero Revista e estava procurando uma bailarina. Fomos contratadas e seguimos com o Circo de Revista Real. Eu e Dedé namoramos durante três meses e nos casamos dia 8 de dezembro.

Vocês foram casados por quatro anos e tiveram dois filhos. Quais as suas principais recordações desse período?
Algumas boas, outras tristes. Meu casamento em Campinas (SP), com uma festança no circo; o nascimento, em 1959, de meu primeiro filho, o Maurício; nossa excursão por São Paulo, Minas, passando por Ubá, terra do Ary Barroso e onde Maurício nasceu, depois Goiás, seguindo até Brasília; estar em Brasília no dia da inauguração; trabalhar por um tempo na TV Alvorada e fazer amigos por lá; o nascimento de Maria Leone, em 1962. Essas todas foram boas recordações. Das tristes, a principal foi a morte de meu filho, acometido de uma leucemia aos doze meses de vida.

Dedé era engraçado na vida particular ou tinha outro comportamento?
Dedé sempre foi muito bem-humorado e gostava de fazer graça.

Com Dedé, você excursionou, trabalhando como bailarina com o Circo de Revista Real. Como era esse trabalho? Vocês produziam e apresentavam-se?
Dedé já havia trabalhado em teatro no gênero Revista. Ele era sobrinho do cômico Colé e trouxe do teatro essa experiência. Eram esquetes, números de plateia – como eram chamados os monólogos das vedetes e dos atores intercalados por números musicais. A novidade era que também apresentávamos números circenses. Dedé era o cômico da companhia, eu era bailarina e fazia os esquetes com ele. Meu cunhado, Dino Santana, era o “escada”. Minha sogra, Ondina Sant’Anna, fazia deslocação. E minha mãe ficava na porta, cuidando dos ingressos. Havia outros artistas contatados.

Em 1960, vocês dois inauguraram a TV Alvorada, em Brasília. Na ocasião, apresentaram juntos, ao vivo, diversos números circenses e teleteatros. Como e por que receberam esse convite para inaugurar o canal?
A TV Alvorada estava sendo inaugurada, e não havia uma grade de programação. As coisas tinham que acontecer meio na base do improviso, além de existirem poucos artistas em Brasilia em 1960. Como tínhamos vasta experiência do circo-teatro tradicional, onde apresentávamos peças teatrais, o diretor artístico do canal (se não me engano, o primeiro nome dele era Wanderley) nos convidou para apresentar um teleteatro a cada semana. Além dos textos, já tínhamos os elencos formados com a própria família, minha mãe, que também era atriz, e os outros artistas do circo. Pena que ainda não existia o videoteipe e nada disso ficou registrado.

Nesse período em que foram casados, Dedé manifestou interesse em trabalhar na televisão e no cinema? Ele compartilhava seus sonhos com você?
Compartilhava, claro. Quando nos casamos, Dedé tinha 22 anos e sempre foi apaixonado pela sua profissão. Se não me engano, ele já havia feito algumas participações em filmes com o Colé. Trabalhar em cinema e na televisão (depois que ela se tornou o maior veículo de comunicação) sempre foi o sonho de qualquer artista.

Gostaria de saber se em algum momento Dedé manifestou desapontamento por ser um “escada” e ser posicionado como um “coadjuvante” em participações e trabalhos na televisão e cinema?
Enquanto estivemos casados, Dedé sempre foi o primeiro cômico nos espetáculos em que participou. Tanto em nosso circo, como depois da morte do Maurício, nas companhias de Fernando Dávila, do Jardel Bôscoli e J. Maia, que eram produtores de Teatro de Revista. Depois, quando fez dupla com Renato Aragão, eu e ele já estávamos separados; e a separação foi uma fase dolorida. Deixou algumas mágoas e marcas. A morte do Maurício ainda era recente e tínhamos uma segunda filha ainda bebê. O processo de desquite nos deixou um pouco estremecidos. Nas poucas vezes em que nos encontramos, no início da dupla Dedé e Didi, foi sempre para falar sobre nossa filha, Maria Leone. Só para esclarecer, esse clima entre nós perdurou por algum tempo. Mais tarde, ele formou outra família, teve mais filhos. Depois, quando veio a lei do divórcio, nos divorciamos, eu me casei uma segunda vez e tive mais sete filhos. Hoje, Maria Leone se dá muito bem com a esposa dele e os irmãos por parte de pai. O tempo, a experiência de nossa vidas em separado e a maturidade sanaram qualquer mágoa que pudesse haver entre nós e nos fez compreender os enganos da juventude. Felizmente, ainda nesta encarnação. Hoje, eu e Dedé somos bons amigos.