Caxa
Aragão
Compositor
Como
surgiu a oportunidade de trabalhar como produtor musical dos Trapalhões?
Essa
oportunidade surgiu quando formei a banda Folha Seca. Estávamos no início de
carreira, e resolvi pedir ao Renato uma “chancezinha” de botar uma
música no filme O Mundo Mágico dos Trapalhões. Ele me deu a “chancezona”,
pois ouviu do diretor que dávamos conta de todo o filme.
Você
é filho do Renato Aragão. Além de filho, era fã também do trabalho dele no
cinema e na televisão?
Sempre fui
fã dele, desde que me entendo por gente. E tive a felicidade e oportunidade de
vê-lo crescer profissionalmente. Sou muito orgulhoso dele.
Havia
algum tipo de “pressão” para seguir a carreira artística ou a “pressão”
era para não seguir esse caminho?
Havia,
sim. Ele queria que os filhos não seguissem a carreira artística, pois era
muito difícil na época conseguir vencer as dificuldades de ser um humorista.
Quando segui a carreira de músico, ele me olhou torto; mas logo se acostumou.
Poucas
pessoas sabem que você, Lula Queiroga e Lenine fundaram a banda Xarada. Fale a
respeito disso.
Na
verdade, o grupo Xarada foi fundado por mim, Fabio Girão e Lenine. Então,
convidamos o Sartori pros teclados e o Duda Aragão para a bateria.
Infelizmente, o Lula não estava nessa.
A
banda Xarada lançou um compacto simples. No lado 1, a música “Pode Ser Legal” e
no Lado 2 a música “Hoje Não É o Meu Dia de Sorte”. Todas as músicas foram
compostas por você, Lula Queiroga e Lenine. Por que a banda não seguiu adiante?
A banda
estava no seu auge. Estávamos tocando em todos os lugares, éramos muito bem
recebidos pelo público, até que chegou um dia que resolvemos parar e seguirmos
carreiras solo. Fiquei feliz por Lenine ter alcançado o sucesso que está
fazendo. Eu segui fazendo trilha para cinema.
Era
comum a presença de músicos na sua casa? Quais outros músicos foram recebidos
por vocês, de frequentar a casa?
Eu tive a
oportunidade de estar com grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Gilberto
Gil, Ivan Lins, Sivuca. Tive a oportunidade de levar um som com alguns.
É
verdade que havia uma disputa acirrada entre os músicos para trabalhar nas
trilhas sonoras dos filmes dos Trapalhões?
Não. O
Renato gostava de dois músicos que já faziam trilha para ele há muito tempo.
Depois, eu cheguei.
Anteriormente
ao seu ingresso na composição de músicas para os filmes dos Trapalhões,
foram lançadas algumas trilhas sonoras compostas, em sua maioria, por Edino
Krieger e Roberto Strada. Qual a sua análise desses trabalhos?
Sou fã do
Beto Strada. Aprendi muito com ele. Ficava observando as trilhas o tempo todo.
Às vezes, estava mais ligado na trilha do que no filme... Via várias vezes.
Por
que vocês não assumiram o nome de Xarada no filme Os Trapalhões no Reino da
Fantasia?
Nesse
filme não era o Xarada. Nesse eu era diretor musical e chamei o Lula e o Lenine
para fazer a trilha. Teve uma cena do filme em que Os Trapalhões eram roqueiros
e lembro que era na época de um Rock in Rio. O Renato queria fazer um
clipe, mas faltavam músicos atrás. Eu sugeri que a gente fizesse. Então,
entramos todos: Lula, Lenine, eu, Fabio Girão e Duda Aragão.
Você
também compôs a música para o documentário O Mundo Mágico dos Trapalhões.
Como foi desenvolver esse trabalho?
Esse foi
um dos trabalhos mais difíceis que fiz. Ainda era novato e tinha uma banda
chamada Folha Seca. Todo mundo começando a tocar; e, de repente, estávamos num
estúdio de gravação profissional. As músicas eram muito repetitivas. Gravar em
estúdio é sempre mais difícil do que tocar ao vivo. E o filme não tinha uma
história, era documentário dirigido pelo meu amigo Silvio Tendler, que nos
deixou à vontade para criar. Foi muito corajoso e amigo.
Um
dos filmes mais elogiados pela música que tem é Os Trapalhões e o Mágico de
Oróz. Quais as suas principais recordações desse trabalho?
Tenho
muito orgulho de ter trabalhado com o Arnaud Rodrigues, grande compositor.
Dirigi-lo foi a coisa mais fácil que já fiz. Ele era genial! Nunca tinha visto
uma pessoa com aquela criatividade. Era impressionante. Sem contar com a
humildade dele. Só tenho recordações boas e sou feliz por ter aprendido muito
com ele. Criatura abençoada... Nossa amizade continuou até o fim.
Após
um longo hiato, você volta a escrever uma canção para um filme do Renato
Aragão. Dessa vez é “Pense Positivo”, para o filme Didi, O Cupido Trapalhão.
Por que tanto tempo sem escrever para ele?
Nessa
época, eu estava trabalhando na TV Globo como redator de humor. Já não tinha
mais dois filmes por ano que me garantia grana para o ano todo. O produtor
musical era o Mu Carvalho. Meu irmão Paulo Aragão estava dirigindo esse filme e
resolveu terminá-lo com um clipe do cantor Daniel. Ligou-me, pedindo música. Eu
e o Mu Chebabi, meu parceiro de muitas músicas, já tínhamos essa música pronta.
Só ajeitamos aqui e ali. Acho que ficou bom.
Seu
último trabalho em parceria com Renato Aragão foi em Didi, O Caçador de
Tesouros. Como foi produzir as canções desse filme?
Esse foi
meio parecido com o Cupido, também produzido por Mu Carvalho. Nesse
filme, tinham dois clipes com o Renato; e meu irmão me chamou para fazer duas
músicas instrumentais para os tais clipes. Fiz sem ver as cenas.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
A
realidade é que os filmes dos Trapalhões eram para o povo e não para
crítico e Academia. O Renato não estava nem aí. Tinha as classificações no jornal,
bonequinho deitado na cadeira era filme ruim. Todos os filmes eram
classificados assim, e eram campeões de bilheteria. Como me explica isso? A
gente esperava sair no jornal o bonequinho, para rir deles...
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Revolucionário.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular, durante o desenvolvimento desse trabalho.
O que
posso contar é que fui testemunha ocular de um dos maiores fenômenos da
televisão brasileira do todos os tempos. Claro que não esqueço de nomes como
Chico Anysio. Tive a honra de trabalhar com os mestres do humor no nosso país.