Cristina
Prochaska
Atriz
Você
atuou no filme Uma Escola Atrapalhada. Como e por quem recebeu o convite
para atuar nesse filme? Como foi a experiência?
O convite
veio do Renato... Eu já havia feito várias participações no programa de
televisão deles e dei-me muito bem com ele e com o resto do grupo. Foi meu
primeiro longa-metragem e minha primeira chance de protagonizar um filme.
Adorei a experiência.
Que
representava, naquele período, protagonizar um filme com Os Trapalhões,
que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Protagonizar
um filme deles era um sonho, pois, além de ter a oportunidade de trabalhar com
um grupo tão famoso e talentoso, eu estaria mostrando minha capacidade como
artista para milhões de pessoas.
Quando
a Globo se associou aos Trapalhões, ela seguiu uma diretriz de sempre
convidar famosos (globais ou não) para atuar nos filmes. Nesse caso, foi a
Angélica e o Supla. Que achou da escolha?
Acredito
que eram os jovens que estavam em evidência na época, principalmente Angélica
começando sua carreira; e o filme necessitava de um casal jovem que cantasse.
Eles tinham a proposta de misturar a linguagem de videoclipe e cinema, num
contexto escolar, onde sempre há pequenos flertes, romances. O elenco era
magistral. Os atores, maravilhosos. O Supla não “decolou”, mas gosto
muito do trabalho dele no filme. Era o que a produção queria na época.
Quais
as suas lembranças do filme Uma Escola Atrapalhada? Onde esse filme foi
filmado?
Deliciosas
lembranças. Produção impecável, como tudo o que o Renato põe a mão. Filmamos no
Rio de Janeiro em três semanas. Tudo em locação, não fizemos em estúdio.
Relate
as deliciosas lembranças. Em qual escola do Rio foi feita a locação?
Recordo
que foi numa escola da Tijuca. Está exigindo demais da minha memória, Rafael.
Como
foi a sua participação no filme? Como compôs a sua personagem?
Fazer o
par romântico com o Marcelo Picchi e o contraponto com o Renato, que tinha em
seus personagens essa característica do “amor impossível”, foi bacana.
Eu interpretava uma professora e não foi difícil, mesmo para uma estreante no
cinema, pois ser dirigida por Del Rangel e com a apoio do Renato, que está
sempre perto da direção, deram-me o substrato que eu precisava. Foi uma
experiência deliciosa.
Como
Del Rangel conduziu todo o processo fílmico? Como era a sintonia dele com
Renato, sempre por perto?
O Del
também começava como diretor novo. Muito profissional e seguro. A produção era
toda muito jovem. Acredito que tenha sido uma opção do Renato, para impor de
certa forma a linguagem da juventude. Del sempre foi calmo e focado.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o quarteto?
Quatro
irmãos sempre batendo bola, sempre aprontando uma novidade. Muito talentosos,
todos eles.
Que
tipo de bate-bola se refere?
Eles
tinham uma química muito deles. Trabalhavam em grupo, ensaiavam entre eles
também e sempre rolava uma brincadeira na hora do “ação”, como se eles
se provocassem, no bom sentido. Eles tinham o prazer de “inventar”
alguma coisa, um “‘caco”, como chamamos. Os “reis” da
improvisação. Chico Anysio era assim também, provocar a reação da improvisação
nos outros atores em cena.
O
filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceria naquele ano. A
aparição dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta.
Como foi o seu contato com ele? Ele já estava doente?
Sim, o bom
Zacarias já estava doente. Mas sempre no pique, mesmo tendo que ser poupado em muitas
cenas. Deliciosa pessoa. Trabalhei com ele na televisão, no programa; e sempre
foi um querido e apaixonado pela profissão. Uma perda triste.
Em
nenhum momento Zacarias pareceu esmorecido?
Ele
precisou ser poupado algumas vezes, sim. Prefiro não comentar isso, querido.
Como
Didi, Dedé e Mussum compartilharam esse momento com o Zacarias?
Como
irmãos que perdem um irmão. Foi triste. Sempre com o maior cuidado com ele.
Refiro-me
ao vê-lo baqueado pela doença...
O Zacarias
lutou muito. Um guerreiro, e o filme foi importante para ele. Prefiro não
detalhar isso.
O
personagem de Zacarias, assim como os de Dedé Santana e Mussum, fizeram apenas
uma breve aparição. A sensação é que pareciam figurantes no filme. Isso procede?
Não... É
natural que o Renato apareça mais. E o roteiro era assim mesmo. Nunca podemos
dizer que os três eram figurantes. Cada um tinha seu momento de “brilho”,
mas o Renato sempre foi o cabeça de chave do quarteto. Todos sabem disso. Ele “criou”
o quarteto.
Mas
nesse filme especificamente eles apareceram muito menos que o normal.
O roteiro
era assim. O Renato sempre foi o cabeça de chave. Não vejo nada demais nisso.
Apesar
do sucesso de bilheteria, o filme é considerado pela crítica o pior filme antes
da morte de Zacarias. Qual é a sua opinião a respeito?
Bom, eu
não acho isso. Se o filme é sucesso de bilheteria e depois de vendas de DVD’s
como esse foi, é sucesso. O que a crítica talvez não gostou foi a linguagem nova
que se propôs na época. Era fora do “padrão” do que sempre era
apresentado por eles. Havia uma tentativa de uma nova linguagem. Videoclipe e
Cinema - Música e Cinema para crianças. Eu pessoalmente acho o filme bem
bacana. Gosto do roteiro e do desenho das personagens.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Renato Aragão é um dos maiores atores deste país. Isso é fato. Ele é engraçado e
espirituoso naturalmente, sem se esforçar. Para mim, Renato e Chico Anysio são
os maiores nomes da Comédia, são atores completos. Chico agora aplaude lá de
cima.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
acompanha absolutamente tudo. Ama o que faz e, mesmo com a chegada de seu filho
Paulo e do diretor Marcus Figueiredo anos depois, ele continua participando de
tudo.
Acredita
que essa característica de Renato o torna diferente, um profissional de
sucesso?
Sim, O
Renato é diretor, roteirista, produtor, ator. Um artista completo e
extremamente sensível. Merece ser reconhecido como um dos artistas mais
completos do país. Contracenar com ele é uma experiência deliciosa. Ele está
sempre atento, muito carinhoso com a equipe, com as pessoas em volta.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
O cinema “infanto-juvenil”
é sempre alvo de críticas vazias. Não só o dos Trapalhões. Xuxa sempre
foi alvo de duras críticas. Uma bobagem, mas é assim mesmo. Já as bilheterias
comprovam que a crítica erra ou não percebe a importância desse cinema tão
necessário para o Brasil. Não conseguimos competir em produção com o cinema infanto-juvenil
importado dos Estados Unidos. Não há como “competir” com as
superproduções e a tecnologia norte-americanas. Nem se tenta. Eu acho que nosso
cinema para esse público é honesto e reflete nossa cultura de forma eficaz,
singela e necessária. Criticar o cinema que se faz aqui, com as dificuldades
enormes que temos de levantar recursos, mesmo com as Leis de Incentivo, chega a
ser uma deselegância da crítica. É muito difícil produzir arte neste país.
Apontar dedos é fácil; difícil é fazer um cinema bacana, que lota as salas há quatro
décadas e ainda consegue emocionar as plateias. Os Trapalhões são
necessários à nossa cultura. Renato Aragão, sozinho hoje, é um guerreiro e
merece mais respeito.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Necessário.
Gostaria
que falasse o que representou para você trabalhar com Os Trapalhões, que
carregaram, por muito tempo, o cinema nacional nas costas.
Como atriz
e como mãe, foi importante fazer parte dessa era. Fiz especiais e cinema com
eles. Sempre vou lembrar com muito carinho dessa turma. Renato foi muito importante
na minha formação. E, depois de mais de vinte anos, fiz com ele a minissérie Poeira
em Alto-Mar, na qual interpretei a personagem Mirela. Renato é divertido e
profissional. Aplaudo de pé o mestre Renato e sua infinita capacidade de
emocionar com o riso e simplicidade. Renato é simples, direto e raro. Vai ser reconhecido
como um dos maiores atores, roteiristas e produtores do cinema feito no Brasil,
espero.