Dedé
Santana
Trapalhão
Sua
família o criou entre artistas de circo. Essa criação foi um fator
preponderante para a sua opção de ser artista?
É claro
que foi, pois já nasci artista, na oitava geração circense. Artista não só de
palco, como de picadeiro.
Que
função exerceu, ao entrar, com apenas três meses de vida, no seu primeiro
espetáculo circense?
Era uma
peça, A Cabana do Pai Tomás, um drama em que eu fazia o filho de uma
escrava. Então, com três meses de idade, eu entrei no colo da minha mãe, que
também era minha mãe no drama.
Quais
as suas principais recordações do trabalho com o seu irmão, o Dino Santana que,
juntos, formavam a dupla Maloca e Bonitão?
Tenho
várias recordações. A primeira era no circo em que eu era o palhaço e ele era o
clown. Depois, criamos o Maloca e o Bonitão. Atravessamos várias fases,
até chegarmos a ter tanto nome quanto tem a dupla Dedé e Didi.
O
filme Na Onda do Iê-Iê-Iê foi primeiro filme com a dupla Renato Aragão e
Dedé Santana. Você imaginava que esse filme seria o primeiro de uma rica
filmografia que você construiu ao longo da vida?
Tinha
tanta certeza, que eu corri muito atrás na época. O meu sogro Átila Iório nos
ajudou muito. E eu fui muitas vezes, durante mais de um mês, falar com o
produtor, até que um dia ele resolveu fazer um filme em preto e branco com a
gente. Era o Na onda do Iê-Iê-Iê. Eu já tinha certeza do sucesso da
dupla no cinema. E não deu outra, não foi diferente do que eu imaginava.
Por
atuar, escrever e dirigir cinema, parece-me que o seu maior interesse sempre foi
a Sétima Arte. Isso procede?
É
engraçado, eu sempre adorei cinema. Desde pequeno, eu aproveitava restos de
filme, quadrinhos de filme. Com óculos de aumento, eu já projetava algumas coisas
na parede. Eu sempre gostei de direção de cinema e sempre achei que eu era mais
diretor do que ator. Dirigi vários filmes, ajudei nos roteiros. Colaborei muito
com o cinema nacional.
Apesar
da sua formação circense, em algumas cenas dos filmes você não dispensava a
figura do dublê, não é? Se sim, gostaria de saber se era o próprio Baiaco, dublê
de Renato, que fazia as suas cenas.
É... até
era meio uma burrada minha, mas eu me arriscava. Sempre gostei de fazer minhas
próprias cenas. O Baiaco era dublê do Didi. Aliás, é até hoje. Faz quase
quarenta/trinta anos que é dublê dele. Pelo fato de eu ter feito oito números de
circo, ter feito barra, trapézio, globo da morte, acrobacias, parada de mão, tudo,
achava que não era necessário usar dublê. Meio arriscado, mas foi assim que
aconteceu.
Em
alguns momentos, vocês chegaram a rodar cenas dos filmes no Teatro Fênix. Como
era trabalhar lá?
Sim, nós
rodamos cenas no Teatro Fênix. Foi assim: eu vi uma reportagem nos Estados Unidos
e dei a ideia de fazer o primeiro filme; aliás, esse foi o primeiro filme no
Brasil feito em VT. Foi uma ideia aqui do seu amigo. E a gente acabou por aproveitar
equipamento, gravamos várias cenas em uma coprodução com a Globo, que foi
também o primeiro filme da TV Globo em parceria com outros coprodutores. E foi
o Dedé que teve essa ideia.
O
filme A Ilha dos Paqueras foi uma produção da Boca do Lixo de São Paulo?
Se sim, quais as suas recordações de lá?
Eu estava
entrosado na Boca do Lixo, trabalhando em produção, edição. E eu tive a ideia
de fazer esse filme. Juntei-me com Fauzi Mansur, que era um bom diretor. E
conseguimos convencer o Renato Grecchi a fazer um filme, e ele deu a ideia de
fazer a A Ilha dos Paqueras. No início, era um desastre de avião; mas, como
não foi possível, eu tive a ideia de transformar tudo para um navio. E, junto
com o Fauzi Mansur escrevi o roteiro; e a gente acabou fazendo o filme.
O
personagem Dedé ficou marcado como o mais sério dos Trapalhões (fato que
você mesmo admite em entrevistas sobre o seu personagem), por ser ele o que agia
de maneira mais normal, talvez para que o personagem se diferenciasse um pouco
dos seus três amigos, exageradamente hilários. Como compôs o seu personagem? Foi
sua opção ser o “escada” do grupo?
Na
realidade, tudo começou com uma dupla: Dedé e Didi. Eram os dois comediantes; e
chegou uma altura que eu vi que isso não estava dando muito certo, os dois
fazendo piada. E eu chamei o Renato e falei para ele: “Olha eu vou
passar a ser o ‘escada’.” E ele falou: “Mas, rapaz, você pode se
prejudicar.” Ele não queria, e eu falei: “Não, cara. Eu sinto que você é
muito mais engraçado do que eu; então, eu vou fazer ‘escada’ para
você.” E ele acabou concordando, e realmente foi o que deu certo. E, quando
formamos Os Trapalhões, que você já conhece a história, eu trouxe o
Mussum para o grupo e o Renato trouxe o Zacarias. Foi aí que ficou bem mais
difícil para mim. E uma vez o Lúcio Mauro me falou isso: “Fazer ‘escada’
pra um é difícil, você faz pra três. Você é um herói.”
Depois
dos Trapalhões, o cinema nacional pouco produziu para as crianças. Por que
há tanta resistência em criar para o público infantil?
Olha não é
pra gente se gabar, não; mas vou lhe dizer é muito difícil fazer filme na linha
infantil, na linha pra criança. Nós, graças a Deus, demos certo, muito com a
ajuda do J. B. Tanko, que merece muito mérito nessa escala nossa no cinema. Mas
o pessoal pode ver que todos os filmes feitos para criança não deram muito
certo, com raras exceções.
Quais
as suas principais recordações do Ted Boy Marino? E por que, ao contrário da
televisão, ele participava pouco dos filmes?
Tenho até
hoje saudade do Ted Boy Marino, que era um grande colega. Mas ele não era
especificamente para o cinema. Tinha também o problema do idioma. Ele falava
meio enrolado. E, se dublasse, perdia a espontaneidade. Mas, no princípio, na
primeira formação dos Trapalhões, ele funcionou muito bem, pois a luta,
a luta livre, estava em evidência.
A
crítica elege Os Trapalhões no Auto da Compadecida como o melhor filme do
quarteto. E você, qual elegeria?
Quem sou
eu para discordar da crítica? Ariano Suassuna, história maravilhosa... Mas a
minha opinião é diferente. O filme mais lindo dos Trapalhões é O Trapalhão
na Ilha do Tesouro, éramos só o Didi e eu. O mais engraçado é O
Mistério de Robin Hood. E o melhor trabalho nosso é Aladim e a
Lâmpada Maravilhosa, melhor trabalho do Dedé e Didi. E o filme da menina
dos meus olhos é A Filha dos Trapalhões; em seguida, vem Os
Três Mosqueteiros Trapalhões.
Por
qual razão, apesar do grande sucesso, vocês ganharam raríssimos prêmios em
festivais de cinema no Brasil?
Eu vou
falar sobre o prêmio. Vou falar em meu nome, não é em nome dos Trapalhões e
nem do Renato. Na época em que o público não queria saber de cinema nacional,
nós conseguimos levar uma multidão, cento e cinquenta milhões de
telespectadores, sem contar nas trutas que tinham na bilheteria... O número de
espectadores deve ter sido muito maior, né? Eu acho que eu, Dedé Santana, já
merecia uma homenagem, principalmente lá em Gramado – a minha mulher é
do Rio Grande do Sul, e eu sempre toco nesse assunto. Eu acho que eles deveriam
fazer uma homenagem para o Oscarito, pra mim, pro Renato Aragão. Acho que
a gente já merecia isso. Ou vão esperar a gente morrer para fazer isso? Vai ter
que ser rápido, nós já estamos com mais de oitenta.
Para
finalizar, o Tião Macalé era considerado o quinto Trapalhão?
Não
existiu e nunca teve quinto Trapalhão. Tinha os colaboradores no elenco,
que o Renato gostava muito e eu também. Tem o caso do Sargento Pincel que está
com a gente desde o começo; o Tião Macalé; o Carlos Kurt, aquele alemão do olho
azul, grande; o próprio Átila Iório; Dari Reis... São pessoas que nos acompanharam
durante muitos anos. Mas os Trapalhões realmente só eram os quatro:
Dedé, Didi, Mussum e Zacarias. Quer saber a verdade? Nem eu me considerava muito
dos Trapalhões. Eu era e sou, sempre fui fã dos Trapalhões. Fã número
um do Mussum, do Didi, do Zacarias. Eu sempre fui fã deles, tanto é que eu ria
em cena e dou risada até hoje. Por isso, eu optei por ser “escada”.