Flávio
Porto
Ator
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Na
época e já há algum tempo frequentava a padaria da Tupi, hoje a Real, lá no bairro
do Sumaré (SP) O Adriano Stuart, tinha cadeira cativa, preservada pelos donos
da padaria e ninguém sentava antes de ele ocupar, como um trono, à cabaceira da
mesa. Depois de muitas discussões sobre o equilíbrio do mundo (e nosso),
Adriano, que ia dirigir o filme, O
Incrível Monstro Trapalhão, me convidou para uma
ponta.
Quais
são as suas principais lembranças desse trabalho?
Lembro
que as filmagens pareciam a continuidade da mesa da padaria. O Adriano,
imperador e absoluto, dando a última palavra; todo mundo falando e agindo. Eu
ia entrar mudo e sair calado. Se não me engano, o Toninho Meliande, na câmera,
rindo o tempo todo; e o Didi chegando de cara amarrada.
Como
foi a sua convivência com a equipe?
Com
a equipe técnica eu estava em casa. O assistente de câmera, Joaquim Moreiras, marido
da maior continuísta do mundo, a Silvia Moreiras, era e é meu irmão de espírito
inseparável. Conhecia um bando da técnica, desde a Boca do Lixo. Os astros
ficavam distantes e preocupados com as atuações, menos o Mussum, que ficava com
a gente. Parecia a continuidade da mesa da padaria, ou seja, uma alegria só.
O
senhor trabalhou em diversas produções cinematográficas. Quais as diferenças e semelhanças
que encontrou no set dos
Trapalhões em
comparação com outros filmes?
Bem,
a diferença era que era uma grande produção. Eu estava acostumado com os kibes
e esfihas dos almoços da Boca do Lixo. Estávamos no Rio de Janeiro, a um passo
da TV Globo. E tudo era perfumado: as comidas, as roupas, os astros... tudo de
primeira (argh!). Sobretudo a comida valeu a pena.
Pode
nos contar alguma história de bastidor?
Duas
coisas. Numa cena, meu personagem deveria sair correndo em fuga, virar à
esquerda e sair de cena e quadro. Foi o que fiz. Mas com um detalhe: antes de sair
de cena, fiz como Carlitos, que, ao mudar de rumo, o corpo vai para um lado e a
perna para o o outro e dá uma pequena derrapada e... vai. Corta! Todo mundo deu
risada. Terminada a tomada, cada um pro seu canto. O Dedé chegou perto de mim e
falou: “Não sabia que você era tão engraçado!”
Não respondi, mas entendi que graça era só com eles. Mas a cena ficou. Outra
coisa inesquecível: o carro do Mussum. Era um Ford Galaxie, impecavelmente todo
branco. Tudo branco, até o friso dos pneus. Aí, Mussum chamou a técnica e nos
levou até o porta-malas do carro. Abriu. O porta-malas era uma geladeira
especialmente construída. A porta do porta-malas era uma autêntica porta de
geladeira e, lá dentro, só Deus sabe o que tinha. Cervejas mil, vinhos, várias
qualidades e marcas de pinga, licores, acepipes para comer; enfim, uma fartura
e com muito bom gosto. Foi uma festa. Não falei que a filmagem parecia ou era
que nem a mesa da padaria?