sábado, 4 de novembro de 2017

Os Trapalhões: Flávio Porto


Flávio Porto
Ator


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Na época e já há algum tempo frequentava a padaria da Tupi, hoje a Real, lá no bairro do Sumaré (SP) O Adriano Stuart, tinha cadeira cativa, preservada pelos donos da padaria e ninguém sentava antes de ele ocupar, como um trono, à cabaceira da mesa. Depois de muitas discussões sobre o equilíbrio do mundo (e nosso), Adriano, que ia dirigir o filme, O Incrível Monstro Trapalhão, me convidou para uma ponta.

Quais são as suas principais lembranças desse trabalho?
Lembro que as filmagens pareciam a continuidade da mesa da padaria. O Adriano, imperador e absoluto, dando a última palavra; todo mundo falando e agindo. Eu ia entrar mudo e sair calado. Se não me engano, o Toninho Meliande, na câmera, rindo o tempo todo; e o Didi chegando de cara amarrada.

Como foi a sua convivência com a equipe?
Com a equipe técnica eu estava em casa. O assistente de câmera, Joaquim Moreiras, marido da maior continuísta do mundo, a Silvia Moreiras, era e é meu irmão de espírito inseparável. Conhecia um bando da técnica, desde a Boca do Lixo. Os astros ficavam distantes e preocupados com as atuações, menos o Mussum, que ficava com a gente. Parecia a continuidade da mesa da padaria, ou seja, uma alegria só.

O senhor trabalhou em diversas produções cinematográficas. Quais as diferenças e semelhanças que encontrou no set dos Trapalhões em comparação com outros filmes?
Bem, a diferença era que era uma grande produção. Eu estava acostumado com os kibes e esfihas dos almoços da Boca do Lixo. Estávamos no Rio de Janeiro, a um passo da TV Globo. E tudo era perfumado: as comidas, as roupas, os astros... tudo de primeira (argh!). Sobretudo a comida valeu a pena.

Pode nos contar alguma história de bastidor?
Duas coisas. Numa cena, meu personagem deveria sair correndo em fuga, virar à esquerda e sair de cena e quadro. Foi o que fiz. Mas com um detalhe: antes de sair de cena, fiz como Carlitos, que, ao mudar de rumo, o corpo vai para um lado e a perna para o o outro e dá uma pequena derrapada e... vai. Corta! Todo mundo deu risada. Terminada a tomada, cada um pro seu canto. O Dedé chegou perto de mim e falou: “Não sabia que você era tão engraçado!” Não respondi, mas entendi que graça era só com eles. Mas a cena ficou. Outra coisa inesquecível: o carro do Mussum. Era um Ford Galaxie, impecavelmente todo branco. Tudo branco, até o friso dos pneus. Aí, Mussum chamou a técnica e nos levou até o porta-malas do carro. Abriu. O porta-malas era uma geladeira especialmente construída. A porta do porta-malas era uma autêntica porta de geladeira e, lá dentro, só Deus sabe o que tinha. Cervejas mil, vinhos, várias qualidades e marcas de pinga, licores, acepipes para comer; enfim, uma fartura e com muito bom gosto. Foi uma festa. Não falei que a filmagem parecia ou era que nem a mesa da padaria?