Heloisa
Niemeyer
Assistente de câmera
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Fui
trabalhar com Os Trapalhões porque
o diretor de fotografia, Nonato Estrela, me convidou. Eu trabalhava na equipe
dele. Tinha acabado de fazer um longa do Oswaldo Caldeira, e o Nonato me
convidou para continuar na equipe dele.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Não.
Eu trabalhava como repórter cinematográfica no Canal 100. Fui a
primeira repórter cinematográfica do Brasil. Quando o Sarney, então presidente
da República, acabou com o cinejornal, tentei trabalhar como repórter na
televisão; mas caí nos longas-metragens.
Que
representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
Fazer
cinema, como técnico, é a mesma coisa, tanto faz ser um clássico ou um filme
comercial. Gostava de fazer os filmes de férias. Eram dinâmicos e divertidos, um
set leve
de se trabalhar.
Seu
primeiro filme com Os Trapalhões
foi em Os Heróis Trapalhões – Uma Aventura na Selva.
Quais as suas principais recordações desse trabalho?
Filmar
é muito bom. E, quando a equipe é boa, tudo que se faz fica bom.
Você
era assistente de câmera nesse filme. Explique o que faz uma assistente de
câmera.
Um
assistente de câmera é responsável por todas as câmeras e pelo foco, mudança de
lentes e manter o equipamento perfeito. É o coração do filme. Antigamente, tinha
que trocar os chassis de negativo, mandar revelar etc. Hoje, não tem mais
negativo, ficou mais fácil.
Como
era o clima no set de
filmagem?
Super
descontraído. Era muito bom, sem frescura. O pessoal da técnica sofria com as
brincadeiras deles. Por exemplo, o Mussum descobriu que eu tinha dispensado uma
paquera de Belo Horizonte e estava começando a namorar um outro cara da equipe.
Então, ele fazia música para alertar o cara. Fiz um filme em Belo Horizonte, e
o indivíduo era de lá. Voltei para o Rio de Janeiro e deixei o cara lá. Um dia,
quando cheguei em casa, o cara estava aqui; botei o cara de volta no ônibus.
Mussum descobriu e fez a festa. Era muito engraçado. Botavam apelidos.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
Muito
descontraídas, eram as melhores pessoas para se trabalhar. Era maravilhoso trabalhar
com o grupo. E o cachê não era ruim.
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Conversava
mais com o Mussum e o Zacarias. O Renato é comercial, e o Dedé um deslumbrado.
Por
que diz que o Dedé era deslumbrado?
Porque
ele não criava sozinho, ele sempre se fazia de bengala do Didi.
Quem
era o maior comediante do grupo?
O
mais engraçado era o Mussum, disparado. Eu adorava o Zacarias por afinidade, por
ser gentil e carinhoso.
Você
é muito bonita, foi paquerada por algum Trapalhão?
Não.
Didi era discreto e só pegava famosas. Dedé adorava piriguetes. Mussum era
simpático e super respeitador. Zacarias meu lindo, um doce de pessoa,
discretíssimo. Ainda como retaguarda, eles tinham um camareiro, o Creuza, um
fiel escudeiro.
Fiquei
curioso com essa história do Creuza.
Era
um homem, gay.
Trabalhou bastante com eles.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
é o empresário, sabe o quanto precisa para conseguir continuar a fazer sucesso e
manter. O grupo não tinha noção do futuro, o Renato sabia.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Porque
são filmes comerciais e de férias. O Renato é um empresário e tem um vasto
campo a explorar; e a Academia quer filme cabeça, que nunca vai dar a bilheteria
dos Trapalhões.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Filme
de férias. Aqui no Brasil, sessão da tarde. Todos adoram. Era uma época sem
essa coisa chata de politicamente correto. Os filmes eram muito bem filmados e
com um enredo de fácil compreensão.