sábado, 4 de novembro de 2017

Os Trapalhões: Heloisa Niemeyer


Heloisa Niemeyer
Assistente de câmera


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Fui trabalhar com Os Trapalhões porque o diretor de fotografia, Nonato Estrela, me convidou. Eu trabalhava na equipe dele. Tinha acabado de fazer um longa do Oswaldo Caldeira, e o Nonato me convidou para continuar na equipe dele.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Não. Eu trabalhava como repórter cinematográfica no Canal 100. Fui a primeira repórter cinematográfica do Brasil. Quando o Sarney, então presidente da República, acabou com o cinejornal, tentei trabalhar como repórter na televisão; mas caí nos longas-metragens.

Que representava, naquele período, trabalhar em um filme com Os Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Fazer cinema, como técnico, é a mesma coisa, tanto faz ser um clássico ou um filme comercial. Gostava de fazer os filmes de férias. Eram dinâmicos e divertidos, um set leve de se trabalhar.

Seu primeiro filme com Os Trapalhões foi em Os Heróis Trapalhões – Uma Aventura na Selva. Quais as suas principais recordações desse trabalho?
Filmar é muito bom. E, quando a equipe é boa, tudo que se faz fica bom.

Você era assistente de câmera nesse filme. Explique o que faz uma assistente de câmera.
Um assistente de câmera é responsável por todas as câmeras e pelo foco, mudança de lentes e manter o equipamento perfeito. É o coração do filme. Antigamente, tinha que trocar os chassis de negativo, mandar revelar etc. Hoje, não tem mais negativo, ficou mais fácil.

Como era o clima no set de filmagem?
Super descontraído. Era muito bom, sem frescura. O pessoal da técnica sofria com as brincadeiras deles. Por exemplo, o Mussum descobriu que eu tinha dispensado uma paquera de Belo Horizonte e estava começando a namorar um outro cara da equipe. Então, ele fazia música para alertar o cara. Fiz um filme em Belo Horizonte, e o indivíduo era de lá. Voltei para o Rio de Janeiro e deixei o cara lá. Um dia, quando cheguei em casa, o cara estava aqui; botei o cara de volta no ônibus. Mussum descobriu e fez a festa. Era muito engraçado. Botavam apelidos.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Muito descontraídas, eram as melhores pessoas para se trabalhar. Era maravilhoso trabalhar com o grupo. E o cachê não era ruim.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Conversava mais com o Mussum e o Zacarias. O Renato é comercial, e o Dedé um deslumbrado.

Por que diz que o Dedé era deslumbrado?
Porque ele não criava sozinho, ele sempre se fazia de bengala do Didi.

Quem era o maior comediante do grupo?
O mais engraçado era o Mussum, disparado. Eu adorava o Zacarias por afinidade, por ser gentil e carinhoso.

Você é muito bonita, foi paquerada por algum Trapalhão?
Não. Didi era discreto e só pegava famosas. Dedé adorava piriguetes. Mussum era simpático e super respeitador. Zacarias meu lindo, um doce de pessoa, discretíssimo. Ainda como retaguarda, eles tinham um camareiro, o Creuza, um fiel escudeiro.

Fiquei curioso com essa história do Creuza.
Era um homem, gay. Trabalhou bastante com eles.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele é o empresário, sabe o quanto precisa para conseguir continuar a fazer sucesso e manter. O grupo não tinha noção do futuro, o Renato sabia.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Porque são filmes comerciais e de férias. O Renato é um empresário e tem um vasto campo a explorar; e a Academia quer filme cabeça, que nunca vai dar a bilheteria dos Trapalhões.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?

Filme de férias. Aqui no Brasil, sessão da tarde. Todos adoram. Era uma época sem essa coisa chata de politicamente correto. Os filmes eram muito bem filmados e com um enredo de fácil compreensão.