quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Antonio Carlos da Fontoura


Antonio Carlos da Fontoura é diretor, produtor, roteirista e professor de cinema. Estreou na direção de longas-metragens com Copacabana me engana, um sucesso de bilheteria, ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Brasília.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O curta revelou alguns de nossos mais importantes cineastas, tais como Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirzman e muitos outros.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa.
Acredito que nem todos os cineastas de curtas pretendam dirigir longas, mas muitos deles acabam fazendo isto como uma evolução natural.

O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
De forma alguma. Todo cineasta adora ver um bom curta.

Como é trabalhar com a síntese no curta-metragem?
É uma simples questão de adequar o tema ao tempo disponível.

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Nos anos 60 a exibição dos curtas era um complemento obrigatório da exibição dos longas estrangeiros, mas o sistema foi desvirtuado pelo mercado, levando ao fim da obrigatoriedade, mas hoje quem vai ao cinema é obrigado a assistir dezenas de comerciais e de trailers. Voltar de alguma forma a institucionalizar o curta como complemento seria a solução.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Atualmente os curtas estão confinados nos festivais, onde disputam o espaço da mídia com os longas nacionais.

O senhor, ao longo da sua brilhante carreira, fez mais curtas do que longas. Qual é a razão? O curta é mais viável?
Eu fiz a maioria dos meus curtas nos anos 60 e no início dos anos 70, quando os curtas tinham retorno comercial. Meu primeiro longa, por exemplo, foi produzido em boa parte com recursos provenientes da venda de curtas.

Conte como foi filmar "Wanda Pimentel", seu processo de criação, produção e direção.
Wanda Pmentel foi um filme encomendado pelo então galerista Vitor Arruda. A partir dos quadros e das instalações da artista penetrei na solidão feminina, me utilizando apenas de imagens e ruídos, sem narrações ou depoimentos. Um filme experimental, a meu ver muito bem sucedido.

Conte como foi filmar "Ver Ouvir", seu processo de criação, produção e direção.
Realizado em 1966, nasceu do choque que tive ao me deparar numa exposição na Galeria G4 em Copacabana com o trabalho de três jovens artistas, Roberto Magalhães, Antonio Dias e Rubens Gerchman, simplesmente devastadores na visualidade com que em seus trabalhos transmutavam a cacofonia da cidade contemporânea. Realizei o filme com o diretor de fotografia David Zingg e o montador Mário Carneiro.

Conte como foi filmar "Ouro Preto & Scliar", seu processo de criação, produção e direção.
Neste pequeno e preciso filme fui guiado pelo pintor Carlos Scliar numa visita afetiva à cidade onde ele instalou seu atelier de inverno, Ouro Preto, fonte de inspiração de grande parte de seu trabalho. O filme foi financiado pelo próprio Scliar, que queria um registro de sua relação com a cidade histórica.

Conte como foi filmar "Meu nome é Gal", seu processo de criação, produção e direção.
Gal consiste de três canções interpretadas pela cantora, "Saudosismo", "Divino Maravilhoso" e "Meu Nome é Gal", na verdade três clipes pioneiros, que dirigi com produção de David Neves e de André Midani, então diretor da Philips.

Conte como foi filmar "O último homem", seu processo de criação, produção e direção.
Alfred Bester, Robert Schekley e Arthur Clarke, três grandes mestres da literatura de ficção científica, travaram contato neste filme com o planeta Rio de Janeiro por ocasião do único congresso internacional de science-fiction já promovido no Brasil, nesta cidade, pelo saudoso José Sanz. Contei no filme com a preciosa colaboração do Antonio Calmon e de Carlos Vergara, que criou a bela introdução do filme.

Conte como foi filmar "Chorinhos e Chorões", seu processo de criação, produção e direção.
Fruto de meus encontros boêmios com Lúcio Rangel, que conheci como trombonista virtual nas rodas de chope do bar Zeppelin e depois descobri ser um brilhante estudioso de nossa música popular, quando me guiou nesta viagem às raízes da mais sofisticada música instrumental brasileira. O filme foi realizado graças ao apoio do Departamento do Dilme Cultira, do INC.

Conte como foi filmar "Heitor dos Prazeres", seu processo de criação, produção e direção.
Meu primeiro trabalho como diretor de cinema registrou de forma muito carinhosa o poético esforço do nobre pintor e sambista popular, em 1965, para se manter fiel à imagem de uma cidade que só sobrevivia em sua arte e seus sonhos. Uma produção artesanal, fotografada por Afonso Beato e montada por Rui Guerra, que realizei graças ao apoio do diplomata Arnaldo Carrilho, então no setor cultural do Itamarati.

Conte como foi filmar "O Rapto das Cebolinhas", seu processo de criação, produção e direção.
Meu único curta-metragem ficcional foi fruto de minha amizade por Maria Clara Machado, que me deixou adaptar uma de suas mais divertidas peças infantis para realizar um filme em meu sítio encantado na região de Nova Friburgo, agora eternizado pela magia do cinema. Usei atores e talentos artísticos locais e o filme foi produzido com recursos do projeto Curta Criança, do Ministério da Cultura.

Conte como foi filmar "Os Mutantes", seu processo de criação, produção e direção.
Com a ajuda do Antonio Calmon persegui com a câmera sempre em movimento uma brincadeira mutante improvisada por Arnaldo Dias, Sérgio Batista e Rita Lee, num dia único pelas ruas de São Paulo. A produção também foi do David Neves e do André Midani.

Conte como foi filmar "Arquitetura de Morar", seu processo de criação, produção e direção.
Guiado pelo mestre José Zanine, empreendi uma viagem lírica à três maravilhosas casas erguidas por ele na encosta à beira-mar da Joatinga, ostentando com muita honra uma deslumbrante trilha musical especialmente criada para o filme pelo maestro Antonio Carlos Jobim.

Pensa em dirigir um curta futuramente? Qual é o seu próximo projeto?
Meu próximo projeto é o longa 'Somos Tão Jovens", sobre a transformação de Renato Manfredini Junior em Renato Russo, em Brasília, entre 1976 e 1982. Quanto a novos curtas, tenha em pauta uma adpatação do livro infantil "Faca Sem Ponta, Galinha Sem Pé", de Ruth Rocha, pendente de aprovação pelo projeto Curta Criança.