Remier é pesquisador e autor do livro ‘O Mestre do Terrir’, biografia de Ivan Cardoso.
Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
O cinema (no Brasil e no mundo) nasceu de curta-metragem., demorou até que filmes com metragem maior que 10 minutos se tornassem um padrão. Muitas pessoas hoje pensam e falam do "curta-metragem" como se ele fosse um determinado "gênero cinematográfico", repetindo outro equívoco muito comum que é pensar e falar de "cinema brasileiro" também como um "gênero cinematográfico". As razões que levam alguém a fazer um filme curto são sempre, em primeiro lugar, econômicas (quer dizer, técnicas), em segundo lugar, políticas e, em último lugar, de linguagem. Num contexto histórico brasileiro, essa entidade chamada "curta-metragem" é só um mito ingênuo explorado por aproveitadores. E não vejo problema nenhum nos "aproveitadores", pois cinema é "arte" para quem sabe tirar partido das oportunidades, minha implicância são com certos "mitos" gerados pela ignorância e alimentados por determinados segmentos que procuram monopolizar o sentido das coisas. O cinema brasileiro (e o filme de curta-metragem realizado nesse contexto) ainda carece de uma história lúcida e madura.
Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Vamos separar as coisas: a crítica cinematográfica de jornal é totalmente (des)orientada por interesses econômicos bastante restritivos, significa muito pouco. A que é praticada como hobby, e postada na internet, é só um hobby. Agora, quando você fala que o curta não merece "atenção da mídia em geral", fico em dúvida. Te pergunto: o que é "mídia em geral" pra você? Senso comum? Hora, estamos vivendo numa sociedade cada vez mais "audiovisual" e existe um boom de produções no formato curto – estimulada, entre outras coisas, principalmente pela internet, que, por mil razões, precisa de muito volume de informação (inclusive narrativas audiovisuais) formatada em pílulas...
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, claro. Temos grandes exemplos de que tamanho não é documento... Quanto a essa mentalidade de que o curta é um trampolim para o longa, isso é uma questão particular de cada um, orientada por interesses sociais, econômicos, "de classe", digamos. Não merece muita atenção. Quem é, é.
Qual é o seu próximo projeto?
Publicar o resultado de minhas pesquisas sobre cinema brasileiro popular, vai chamar "Malditos Filmes Brasileiros"!