segunda-feira, 8 de julho de 2013

Pietro Mario Bogianchini

Crédito: Ronaldo Júlio.
 
Você começou a trabalhar como ator na TV Continental. Como era o seu dia a dia lá e o que fazia naquela época? Quais os trabalhos que realizou?
Em 1961 assinei meu primeiro contrato de carteira assinada como ator. Fazia os teleteatros às sextas feiras além das novelas bíblicas, aos domingos, o “Teatro de câmera”, dirigido por Gilberto Brea. Tudo era ao vivo.
 
Depois foi para a Tupi e atuou no “Grande Teatro Tupi”. Como foi isso?
Isso foi em 1963/64, nessa ocasião o “Grande Teatro Tupi” dirigido por Carlos Lage. Nessa época já existia o vídeo tape. Era gravado como se fosse ao vivo, quando errávamos, tínhamos que começar tudo de novo desde o começo.
 
Anos depois, foi convidado pela TV Globo para integrar o elenco de teledramaturgia. Como e em que circunstância recebeu esse convite?
O convite partiu de Paulo Graça, filho de Graça Mello, então diretor artístico da TV Globo, para fazer um teste. Estavam dando oportunidade aos novos de então.
 
Você inaugurou a TV Globo. Hoje, depois desse hiato, acreditava que a emissora se tornaria uma das maiores do mundo?
Eu acreditava já naquela época que a TV Globo seria a nossa emissora de televisão com caráter industrial. Viria para ficar.
 
Acervo pessoal. Capitão Furacão.
 
A personagem ‘Capitão Furacão’ você interpretava, então um jovem de 26 anos. Quais as suas principais recordações desse trabalho?
As minhas criações artísticas sempre foram de personagens mais idosos do que eu. Nunca me achei um galã romântico. Quando surgiu o Furacão, eu imaginei como um velho lobo do mar e, sua credibilidade para o público infanto-juvenil foi a coisa mais gratificante, manifestadas até hoje pelas crianças.
 
Ainda há imagens desse trabalho ou tudo se perdeu?
Infelizmente não. Existem fotos do meu arquivo. Naquela época não quiseram fazer o programa gravado, nem gravavam par arquivo como se faz atualmente. O programa era diário voltado para apresentar desenhos animados e séries para TV. Eu o produtor e diretor Helio Tys criamos atrações e atividades entre um filme e outro a cada dia.
 
‘Capitão Furacão’ é considerado o "avô" de programas infantis como o Xou da Xuxa, Angel Mix e Gente Inocente. Quais as diferenças das crianças da época do Capitão para as crianças dos programas citados?
Os programas infantis da atualidade são apresentados por jovens e cativam muito mais as crianças pequenas. Naquela época as crianças e pré-adolescentes se sentiam motivadas a vocações através do que apresentávamos nos intervalos dos filmes. Tanto que hoje, há oficiais de alta graduação da Marinha brasileira que seguiram a carreira, motivados em terem visto o Capitão Furacão.
 
Quais eram as principais características que o programa tinha e que o tornou um sucesso?
Entre tantas coisas apresentadas, os passeios marítimos que organizávamos em parceria com a Marinha, visitas guiadas e exposições de modelismo naval. Estórias de piratas que lançavam garrafas ao mar com mensagens, sempre divertidas. Concursos e homenagens a todos os países em datas históricas, sem qualquer barreira política.
 
Acervo pessoal. Capitão Furacão nos estúdios da TV Globo.
 
Quando o Capitão saiu do ar a TV Globo lançou o seriado “Vila Sésamo”, que entrou em seu lugar. Nessa época, você levou o seu Capitão para a TV Rio, onde passou a se chamar “Clube dos Grumetes”, ficando no ar por mais seis meses. Por que durou pouco tempo?
Estreamos com um patrocinador, porém lamentavelmente a TV Rio estava com seus dias contados. Durou seis meses e acabou.
 
Sua saída da Rede Globo foi tranquila?
Eu estava cansado e um tanto frustrado pela emissora não realizar “As Aventuras do Capitão Furacão” como sempre foi meu desejo. Eu sempre fui ator e queria atuar naquilo que gostava e sabia. Então, pedi para sair.
 
Muitas séries de sucesso no Brasil e no mundo exibidas pelo programa ‘Capitão Furacão’ entre elas: Superman, Os Três Patetas e a mais famosa foi a série Zorro, protagonizada por Guy Williams, Henry Calvin, Don Diamond, George Lewis, Gene Sheldon e muitos outros atores dos anos 1950. Você fazia a seleção desses programas?
Não, quem cuidava disso era o departamento de telecine e logicamente a direção da emissora pela parte artística.
 
Há uma grande quantidade de produtos vendidos que aludem aos programas infantis. Acredita que se o seu programa fosse veiculado hoje, ganharia muito mais dinheiro?
Sem dúvida, mas eu não iria com muita sede ao pode. Haveria uma seleção. Atualmente estou voltado para algo que as crianças sabem dominar. A Internet, por isso estou com o Capitão Furacão na TV Atlântica, uma emissora de televisão somente transmitida pela Internet.
 
Considera a programação dedicada ás crianças, muito fraca atualmente?
Que programação? Há até na TV fechada alguns canais voltados para esse público, mas não algo que gere fatores motivadores sejam vocacionais ou de cultura.
 
Acervo pessoal. Durante o programa.
 
Após o programa é que você passou a ser dublador?
Não, após o programa voltei a dublar e atuar em teatro. Também fiz filmes, no meu histórico posso citar Meteoro de Diego De La Texera, Copacabana da Carla Camurati, mais recentemente Red Brazil e As fantásticas Aventuras do Capitão, esse baseado no livro de Jorge Amado. Além de vários curtas metragens e atuação em novelas e programas de TV.
 
Você fez a voz de inúmeros personagens de desenhos animados e filmes famosos, como "Harry Potter e a Pedra Filosofal", "Harry Potter e o Cálice de Fogo" e em outros grandes filmes. Qual o trabalho que mais te deu orgulho?
Dentre os filmes dublados, sem dúvida foi “A Família soprano” foi muito marcante onde dublei James Gandolfini.
 
Como foi essa transição, sair da frente das câmeras e fazer dublagem?
Eu gosto de toda atividade artística, por isso não fico muito tempo longe das câmeras. O ator deve ocupar todo o espaço e atividade onde se apresentar.
 
O que é necessário para ser um grande dublador?
Precisa ser ator. Interpretar esquecendo que é você e sim o ator que vai dublar dando-lhe suas características na interpretação, principalmente o sentimento e ritmo dele, não o seu.
 
Quais eram as suas referências?
Meus gurus são Magalhães Graça, Orlando Drumond, Ênio Santos, Joaquim Motta, Milton Rangel e tantos outros mestres com os quais eu aprendi a bela arte de dublar.
 
As pessoas te reconhecem nas ruas?
Muitos me reconhecem, às vezes só pela voz. Perguntam logo: O senhor é dublador, não é?
 
Para finalizar, gostaria de saber se a falta de informação e cultura televisiva são os grandes responsáveis pelo pouco conhecimento que as pessoas possuem da sua trajetória.
Não, tudo é questão de época. Tudo muda, porém eu na televisão sempre fui o Capitão Furacão, tanto que nunca quis colocar meu nome no crédito do programa. Em novelas não interpretei papéis de personagens que marcasse. Também o teatro onde atuo muito, o grande público não tem tanto acesso, gostaria que pudessem ir mais. No mais, hoje uso a mensagem para meus grumetes, “No coração e na mente, sempre com vocês”.
 
Capitão Furacão em visita a uma escola.