quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Álamo Facó

Ator.
 
Qual é a sua formação como ator?
Comecei a fazer teatro na escola, muito novo. Minha mãe e minha avó faziam meu figurino em peças da aula de História, no colégio Stella Maris. Aos onze anos eu entrei para o Tablado, onde mantenho amigos até hoje. Aos dezessete, morei por um ano no interior da Inglaterra, onde estudei teatro numa High School. De volta ao Rio, estudei Interpretação na UNE RIO e Cinema na Estácio de Sá. Porém não me formei em nenhuma das duas faculdades pois meu trabalho de ator já tomava a frente, exigindo ser prioridade nas minhas escolhas.
 
Quais as referências que possui?
Minha grande paixão na adolescência foi o cinema, de todos os gêneros. Via todos os filmes em cartaz, sem preconceito. Assinava a revista Set e saía de um filme querendo ser elegante como o Daniel Day-Lewis. Mas no dia seguinte ia ver um filme com a Woopy Goldberg e queria ser espalhafatoso como ela. No teatro e nos grupos que participei na adolescência, fui apurando esse olhar. Minhas referencias são muitas vezes ideias de ícones que eu nem conheço tanto. Por isso, eles me inspiram com uma certa dosagem de imaginação. O Kasuo Ono é um exemplo disso. Nunca vi uma peça dele mas penso nele quase todos os dias. Seu jeitinho sagrado, sentado na cadeira, meio lânguido. Com o Rubens Corrêa também é assim.
 
Em 1998 você atuou no elenco principal da série de TV ‘A Turma do Pererê’, de Ziraldo, a série foi exibida entre 1999 e 2001 na TVE Brasil, sendo ainda é exibido na TVE Brasil, na TV Cultura e em outras TVs públicas. Como foi a experiência?
Foi muito importante, foi a primeira vez que experimentei ficar um mês fora de casa, filmando por esse Brasil enorme! Mantenho amigos até hoje deste projeto!
 
Aos 17 anos você foi para a Inglaterra, onde estudou Interpretação, Dança e Literatura Inglesa na Hanley Castle School. Comente sobre essa passagem por lá? Quais as motivações te levaram a ir para lá?
Fui fugido de casa, fugindo da relação familiar, porque eu era filho rebelde e meus irmãos eram mais rebeldes do que eu. E fui buscando novas experiências. Acreditei no enriquecimento cultural e ideológico de uma experiência deste tamanho. Eu tinha dezessete anos e nunca tinha saído do Brasil. Saí pela primeira vez para morar um ano no interior da Inglaterra. Me transformou muito. Fui pra longe pra ver de perto.
 
Você também cursou Cinema na Universidade Estácio de Sá, especializando-se em roteiro e interpretação na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Acredita que não basta ter vocação, é preciso buscar a técnica para se formar um grande profissional no nosso audiovisual?
É muito importante não parar de estudar nunca pois os obstáculos vão sempre surgir e nessa profissão, saber nunca é demais. Senão viramos mero instrumento do acaso e ficamos muito limitados. A técnica merecia outro nome pois ela é o caminho pra muitas liberdades.
 
Como ator, você atua nos espetáculos "Capitães da Areia", "Lição de Anatomia", "Desesperados", "Entre Quatro Paredes", "O Lobo da Estepe", e "Jornada de um Poema", entre outros espetáculos. O que é o teatro para você?
Amigos da tevê, dizem que não fazem teatro pois, mesmo admirando, não conseguem repetir a mesma história toda noite e dizer o mesmo texto durante meses. Bem, o teatro vem passando por enormes transformações! Acho revolucionário falar um texto diferente nos estúdios, sou apaixonado por esse ofício, mas me sinto muito revolucionário também quando faço a peça "Talvez” em Portugal, por exemplo. Uma peça solo, onde escrevi o texto e dou meu depoimento pessoal pro Mundo e mexo no texto de acordo com os acontecimentos atuais à apresentação. É um risco muito grande. Busco um teatro mais ligado ao acontecimento que à repetição.
 
Como foi trabalhar com um dos seus ídolos, Marco Nanini, em ‘Pterodátilos’?
Foi muito importante em muitos aspectos. Meu personagem nessa peça era muito difícil. Enquanto os outros personagens tinham uma energia trabalhada pra fora, o meu construía por dentro, o que dava bastante trabalho! Foi uma época de muita aprendizagem e tenho muito orgulho dessa peça.
 
Você é um dos atores mais acionados para trabalhar em cinema, fez "Tropa de Elite", de José Padilha, "O Maior Amor do Mundo", de Cacá Diegues, "Apenas o Fim", "Mateus o Balconista", "Não se Pode Viver sem Amor", de Jorge Duran, e "Carioca", de Júlio Sechin, “O Palhaço”, de Selton Mello, “Qualquer Gato Viralata Tem uma Vida Sexual Mais Saudável que a Nossa”, de Tomás Portella, entre outras. A que se deve isso?
Não sou tão acionado assim! Mas isso se deve à minha paixão por filmes, desde criança. Meu avô era um cinéfilo incansável. Tinha uma câmera super 8 e projetava seus filmes caseiros no muro da vila onde morava, no Meyer. Revelava seus filmes no quarto de empregada, que estava sempre com a luz vermelha acesa e me causava grande curiosidade na infância.
 
Muitos atores da sua geração estão seguindo o caminho da direção, no cinema. Você já dirige no teatro. Pensa em fazer o mesmo no cinema?
Dirigi o primeiro curta em 35mm da Estácio de Sá da Barra da Tijuca, quando tinha dezenove anos. Depois dirigi o curta " Imagem", com Mateus Solano, produzido pela Cavideo. Esses filmes estão no YouTube. Penso em me expressar de maneiras diferentes, mas não defino se virarei isso ou aquilo no próximo ano, não tenho essa clareza de ideia. Atuar é meu desafio secreto, ainda quero fuçar mais a ciência do ator, os outros veículos são canais para diferentes formas de expressão.
 
A crítica te considera um verdadeiro operário das artes. O que significa isso e o que acha disso?
Quem disse isso foi uma repórter que foi me entrevistar num teatro do Rio, onde eu estava fazendo o solo Talvez, em Botafogo. Umas hora antes da peça ela me viu lá sozinho, arrumando cenário, lavando uns copos e escreveu isso.
 
Você trabalhou em ‘O Palhaço’, dirigido e estrelado por Selton Mello, e como o divertido Wilson, confidente e melhor amigo do Pedrão, também vivido por Selton, na série A Mulher Invisível, da TV Globo. O que tem a falar de Selton, ele é uma referência para você?
Ele também é minha referencia! E um grande talento! Ele passeia bem pelo popular e o erudito e isso é raro no Brasil. O filme O Palhaço foi bem recebido por todas as classes sociais. Grande ator e grande artista.
 
‘Talvez’, o monólogo escrito e estrelado por você está nos seus planos para ir ao cinema. Sua intenção é justamente formar uma nova parceria com o Selton Mello e lavar o texto para o cinema?
Como ainda estou escrevendo o roteiro, fica difícil saber quem serão os parceiros. mas posso dizer que. Selton é uma cara que eu vou querer trabalhar pra sempre!
 
Apesar da assiduidade na tela grande, é no teatro que você se sente em casa?
Não tenho isso não. A ciência do ator e a aventura humana me interessam. Talvez no teatro eu tenha atingido lugares mais secretos da alma e isso leva a pequenos êxtases. Mas acho possível essa opinião mudar de acordo com as experiências.
 
Você já fez uma série de trabalhos na televisão, mas disse que não tem o aparelho em casa. Qual é o motivo?
Agora tenho! Com o inicio da assiduidade de convites para atuar em tevê, fui imediatamente levado a uma curiosidade sobre como se atuava para novela, que é diferente do realismo e do naturalismo, tem sua especificidade. Tenho tevê há menos de um ano. Já chorei vendo fantástico e adoro o canal Brasil.
 
Sua carreira é bem equilibrada, você atuou no teatro, na televisão e no cinema (quase que de maneira igual, em quantidade). Isso é proposital para não ficar marcado por um gênero?
Não. Na internet aparecem as principais pecas. Se somarmos esse número às peças amadoras da minha juventude, veremos que foi no teatro onde eu mais estive.
 
Para finalizar, gostaria de saber o que faria recusar um trabalho.
Desinteresse pela aventura de estar nele.