segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Francis Vogner dos Reis

Crítico de cinema, cofundador da extinta revista ‘Cine Imperfeito’, já colaborou para as revistas ‘Filme Cultura’, ‘Teorema’, ‘Miradas del Cine’ (Cuba), ‘La Furia Umana’ (Itália), ‘Cahiers du Cinéma’ ‘España’, ‘Foco’, ‘Revista de Cinema’ e escreveu por cinco anos para a revista ‘Cinética’. É também professor de cinema, produtor de mostras e roteirista.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Não participei de muitas produções pra falar a verdade, mas algumas coisas tem aparecido. Bem, aceito o que faz a minha cabeça, se for pra trabalhar com alguém que admiro ou em um projeto que acredito. Uma exceção para curtas de alunos meus, por motivos óbvios. E só.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Porque não têm mercado. Simples assim. Aliás, essa relação de indiferença de boa parte da mídia com a produção cinematográfica não é só com os curtas, mas com o cinema de modo geral. Temos em alguns canais programas de filosofia, literatura, programas sobre arte (inexpressivos, mas existem) em TVs a cabo, mas cinema - quando há algum programa - é só para falar de estreias no circuito e em DVD. Os jornais agem desse mesmo modo, os críticos servem - quase sempre - para responder ao público consumidor. Mesmo o programa Zoom, que acabou, foi deixando nos últimos anos cada vez mais os curtas de lado. Bem, se levando em conta a relação que se tem com cinema no país, o cinema é quase sempre arte de segunda mão, inclusive para parte de nossa "elite pensante". Com literatura não se faz isso. Tem o programa Entrelinhas da TV Cultura, por exemplo. Ali há coisas sérias, entrevistas boas, pautas quase sempre interessantes. As pessoas leem mais do que assistem filmes? Certamente não. Mas há um respeito pela literatura como forma de expressão. Esse respeito pelo cinema é uma conquista a ser alcançada. Mas é complicado...
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Lembro-me de quando eu tinha oito anos eu via uma série de curtas da TV Cultura. Não me esqueço de Meow!, de Marcos Magalhães. Aquilo me divertia. Acho que a TV, principalmente a pública, deveria passar curtas. Hoje o Canal Brasil faz isso, mas quem vê? Só quem assina TV a cabo. Muitos desses curtas são feitos com dinheiro público e a lógica seria que eles passassem na TV pública. Mas não passa. É um contrassenso. É também estupidez e má vontade dos programadores e exibidores. Isso tudo não faz sentido.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
É possível, não vejo porque não seria. Outro dia vi um cara falando isso, esse papo "do trampolim". Isso não é verdade. É claro que muita gente faz curta como portfólio, geralmente gente que começa a filmar na universidade. Mas isso não é real. Hoje fazer curta é fazer um cinema que é possível porque é barato, de produção mais rápida e menos complicada. O fato de alguém fazer longas não quer dizer que não seja mais possível fazer curtas. Eu duvido que Kléber Mendonça não irá mais fazer curtas pelo fato de ter feito dois longas. Essa distinção "cineasta de curta e cineasta de longa" é uma invenção picareta do ensino de cinema que dizia: curta é parte do processo pedagógico, longa é para o mercado. Couro de Gato é o melhor filme de Joaquim Pedro. É um curta. Di, está entre os três melhores filmes do Glauber. É um curta.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Não sei te responder isso com convicção, mas acho que não.  Se boa parte dos diretores prefere fazer longas é por opção, não discriminação. Acho...Talvez em países de mercado mais vigoroso como os EUA o curta é algo visto com algum estranhamento, como algo de universidade mesmo. Porque lá a cultura cinematográfica deles é basicamente feita de longas-metragens. Mas veja a França:  Luc Moullet, Agnes Vardá e Godard ainda fazem curtas hoje em dia.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Eu tenho tanto material pra montar, tanto projeto de ficção para terminar. Só não tenho tempo. Outras coisas me tomaram este tempo. até agora não foi prioridade. Mas enfim, vamos ver o que aparece até o fim do ano. Prefiro não falar sobre, é melhor deixar cozinhar antes de abrir a tampa.