domingo, 1 de abril de 2018

Os Trapalhões: Reinaldo Elias


Reinaldo Elias
Figurinista


Como surgiu a oportunidade de trabalhar na produção de figurino do filme O Cangaceiro Trapalhão?
Quem assina o figurino do filme é Marília Carneiro, renomada figurinista da TV Globo e que também assinou vários trabalhos em teatro e cinema. Ela me chamou para fazer parte da equipe de figurino do filme.

O filme O Cangaceiro Trapalhão veio na esteira de sucesso da minissérie Lampião e Maria Bonita, exibida pela TV Globo. O filme contou com Aguinaldo Silva e Doc Comparato, roteiristas da minissérie, assim como também teve o casal de protagonistas, Nelson Xavier e Tânia Alves. Em relação ao figurino, vocês partiram do zero ou utilizaram as referências e peças da minissérie?
Fizemos a mesma pesquisa que foi feita pela minissérie, que também teve os figurinos assinados pela Marília Carneiro. Porém, o Daniel Filho lançou o desafio de dar um diferencial ao filme, sem perder as informações do cangaço, mas revisitadas com humor. Refizemos várias vezes os desenhos de figurino, até chegar na aprovação da direção. Consistiu basicamente numa mudança na palheta de cor e na proporção das roupas, sobretudo as do Renato.

Não tinham receio de comparação, já que essa minissérie foi pioneira na proposta de renovação da linguagem na teledramaturgia da TV Globo? A minissérie foi estruturada com cuidadosa pesquisa histórica, o que não excluiu a inserção de elementos ficcionais na trama.
Nunca percebi essa preocupação de comparação, pois a abordagem “trapalhão” por si só já era um diferencial, com o intuito de divertir o público-alvo infanto-juvenil.

Explique para os leitores como é o trabalho de composição e de produção de um figurinista.
O trabalho começa com a leitura e decupagem do roteiro. Depois, vem a pesquisa e conversas com a direção, para escolher o “caminho” do visual do filme, no caso do figurino. Processo semelhante acontece na cenografia e produção de arte. Uma vez aprovada a proposta e os desenhos, partimos para a produção das peças, o que, em geral, envolve vários profissionais de costura, modelagem das roupas, tinturaria, aderecista, sapateiro etc. Daí, marcamos a prova de roupa com elenco, para uma prova técnica de figurino para ajustes e montagem, uma espécie de edição das roupas. Em seguida, é mostrado para a direção, que aprova, rejeita ou modifica o look.

Por que você só trabalhou nesse filme com Os Trapalhões?
Na época, eu era freelance e fui chamado para esse filme. Depois, outras coisas surgiram; e fui seguindo. E não houve outras oportunidades com essa trupe. Não foi uma escolha minha.

Que esse filme representa na sua carreira?
Esse filme especificamente não teve grande impacto na minha carreira, até porque eu era assistente da Marília. Mas foi legal conhecer aquelas pessoas de cinema e ver como aquilo funcionava. Foi uma boa experiência profissional para outros trabalhos futuros em cinema.

Como Daniel Filho conduziu o processo fílmico dessa produção?
Ele tinha uma atitude sempre questionadora, o que na época estranhei. Mas, depois, percebi que foi importante para tirar a equipe da zona de conforto e ir fundo em outras possibilidades. Percebi a importância daquela atitude, quando vi o filme pronto, na estreia, no antigo Cine Ryan, na Avenida Atlântica. Tinha um grande impacto visual e era muito benfeito e dirigido.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?

Eu não tive muito contato com ele, durante as filmagens; mas o percebi bem tranquilo durante as provas de roupa, até porque ele sabia que estava em boas mãos e que Daniel estava atento a tudo.

Quem era o maior comediante do grupo?
Essa pergunta é bem difícil de responder, pois cada um ali tinha seu lugar e suas qualidades. Dá para ver, durante os esquetes.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Na época, para nós, profissionais, era um filão disputado, pois eles sempre buscaram, tanto na equipe quanto no elenco e direção, pessoas com excelência em suas áreas de atuação. O que resultou em uma série de filmes bons para a faixa infanto-juvenil, que em nossa filmografia nunca foi tão bem agraciada como na série dos filmes dos Trapalhões.

Por que os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos
Trapalhões?
Essa pergunta remete a uma questão complexa; e o que eu disser aqui será apenas minha opinião, pois não tenho embasamento para uma resposta conclusiva. Nossa referência de filmes no Brasil sempre foram os filmes americanos. Os filmes dos Trapalhões eram feitos dentro de um universo regional e tratando de repertório de ideias e humor nacionais. Talvez, por isso, uma certa rejeição da Academia, mas cuja crítica sempre ficou em segundo plano, uma vez que a aceitação do público e da bilheteria falaram mais alto.