domingo, 1 de abril de 2018

Os Trapalhões: Roberta Portella


Roberta Portella
Dublê


Você trabalhou com Os Trapalhões no filme Os Trapalhões e o Rei do Futebol. Como e por quem recebeu o convite para trabalhar com eles, como foi a experiência?
Recebi o convite através da Denise Del Cueto, que foi a diretora de casting desse filme e achou uma foto minha em alguma produtora, pois eu já havia trabalhado como modelo para comerciais. No começo achei que fosse trote... depois vi que era sério. Perguntei se, como dublê, eu teria que me jogar de algum prédio, pegar fogo ou rolar alguma ribanceira!!

O convite foi feito exclusivamente para trabalhar em alguns dias de filmagens que a modelo Luíza Brunet não poderia comparecer?
Sim, a Luíza foi fazer umas fotos nos Estados Unidos, eu acho; e a produção procurou por alguém que a substituísse e assim poderiam prosseguir com as filmagens.

Muitos críticos detonaram a atuação da Luíza Brunet no filme. Qual a sua avaliação a respeito do desempenho dela em Os Trapalhões e o Rei do Futebol?
Difícil julgar. Avaliar uma modelo atuando é o mesmo que avaliar uma atriz modelando....

O fato de ser reconhecidamente uma não-atriz, mas por ser uma modelo de sucesso e ser chamada para um importante papel, não acaba colocando o filme em risco pela atuação desequilibrada, se comparada a outros atores?
Absolutamente!! Em todos os filmes dos Trapalhões sempre chamam para o elenco as celebridades “da hora”. A Luíza Brunet era a modelo mais famosa e falada da época!!! Normal ter sido convidada para brilhar junto a eles! Não acho que desequilibrou o elenco. Cada um tem seu peso. Além do mais, acho que a maneira “bem brasileira” que Os Trapalhões atuam dá liberdade para um não-ator atuar da forma que quiser. Principalmente a mais natural possível.

Quais as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o quarteto? E com Pelé?
Ao chegar aos estúdios R. A. Produções, fui apresentada ao maquiador e figurinista. Antes de ser apresentada aos Trapalhões, para que eu já aparecesse como Aninha, nome da personagem. Como meu cabelo era mais cacheado que o da Luíza, pensaram em colocar uma peruca mas acabaram alisando meus cabelos pois o corte da época era parecido. A única coisa que não dava pra mudar eram os dezessete centímetros de diferença entre eu e ela, pois o sapato do figurino era uma tênis! Quando fui para os estúdios de filmagem já caracterizada, fiquei um pouco sem graça, com medo de pensarem: “Ih, lá vem o rascunho da Luíza”... Mas não. O Pelé me apelidou de Brunazinha e achei fofo. O quarteto foi simpático, pois acho que, apesar da baixa estatura, o resultado do meu “look” foi satisfatório para que as cenas pudessem fluir sem que o público percebesse a mudança de atriz. Vendo o filme, eu mesma me confundo em algumas cenas... principalmente na cena da “fumacinha”. Fui para atuar um dia apenas, ganhando o que na época ganhava em um mês como atendimento na agência de propaganda de meu futuro marido. Acabaram me chamando para um segundo dia de filmagem!

Gostaria que falasse também da direção de Carlos Manga. Como foi ser dirigida por ele?
Foi maravilhoso!!!! O que mais amei de verdade foi ser chamada de... Roberta!! Meio óbvio, não? Mas pra mim, que estava chegando para um dia ou dois de filmagem ser chamada pelo meu nome pelo Carlos Manga foi muito legal. Senti-me respeitada. E isso só contribuiu para as filmagens correrem bem. Lembro-me de uma hora de tensão em que, numa das cenas, onde a Aninha(eu-Luiza) está presa e presencia a luta entre os rapazes, a produção incrementava a cena com fumaça para dar o “clima” de suspense... E de repente o Manga dá um grito: “Paarraaa, para tudo!!” Tensão geral... silêncio... e eu cá com meus botões “Putzgrila só tenho que ficar aqui com cara de medo sem nada falar e mesmo assim errei??” Então ele prosseguiu com a reclamação: “Gente, vocês não estão pagando uma atriz para que ela substitua a Luíza nessas cenas??” (todos assentiam com as cabeças...). E completou: “Então por que estão mandando tanta fumaça em cima da Roberta, gente?? Assim não dá pra ver nadaaa!! Deixem ela aparecer!!!” Preciso dizer o que senti nessa hora? Não, né? Mas vou dizer mesmo assim: um tremendo orgulho de estar ali naquele estúdio, não só com mestres da tevê brasileira, mas sendo dirigida por um ícone chamado Carlos Manga. Outra situação engraçada foi quando aparecia andando de costas. O próprio Manga veio me ensinar a andar “igual a Luíza”... e quando me mostrou como era, todos morreram de rir!! E ouvi o Pelé dizer “igualzinho”.

O elenco desse filme tinha um time de primeiríssimo nível: Maurício do Valle, José Lewgoy, Milton Moraes, entre outros. Conte a respeito da sua convivência com eles.
Não convivi também com esses, infelizmente, porque nas cenas para as quais fui chamada eu atuava somente com o quarteto e o Pelé. Isso por si só me bastou.

As filmagens eram descontraídas?
Super!! Às vezes, não se sabia se era vida ou ficção!

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Rejeitar Os Trapalhões é como rejeitar a brasilidade do humor popular ainda ingênuo!! O público sabia o que assistiria, ao sair de casa para ver um filme dos Trapalhões. Um filme leve, de humor simples, permeado de aventura entre amigos e romance... Tudo na dose certa para ser popular. Acho que a Academia e os críticos preferem dar peso aos dramalhões que à Comédia.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
D-e-l-i-c-i-o-s-o! Popular!

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular durante esse trabalho com Os Trapalhões.
Curiosidade que tenho a contar não está ligada às filmagens mas à minha própria vida. Ao ser contatada pela Denise Del Cueto, achei que era um trote de minhas amigas porque eu sempre brincava imitando tanto a Luíza quanto a Xuxa posando para fotos... Só vi que não era brincadeira quando a Denise foi tarde da noite à portaria de minha casa me ver. Para analisar se afinal eu seria ou não parecida com a Luíza. Foi tudo muito rápido e precisei ligar para um de meus chefes na agência de propaganda onde trabalhava para dizer que iria faltar no dia seguinte (e também para checar a veracidade dessa história de filmagem!!). Foi assim que soube que um desses chefes era amigo de infância do Paulinho, filho do Renato Aragão e da Denise sua mulher na época e mãe de suas duas filhas. Naquela época sem redes sociais era fácil a gente se perder de amigos... o que prevalecia era mesmo o acaso e a vontade de se ver. Eles se reencontraram e junto acabei conhecendo o casal. A amizade cresceu de um dia pro outro e nossas saídas e conversas me aproximaram desse chefe que acabou se tornando meu marido até hoje. Paulinho e Denise são nossos padrinhos de casamento porque acho mesmo que esse encontro entre nós se deu de forma mágica. Minha atuação foi apenas o veículo para que eu os reaproximasse e juntos fôssemos inspirados pelo jovem casal que já tinha uma linda filha e uma vida tão bacana e legal juntos! Eu brincava com o Paulinho dizendo que eles foram corresponsáveis pelo nosso casamento e ele brincava dizendo que era o corresponsável! Outra historinha engraçada em relação a isso foi que há uns dez anos fui numa festa onde a Luíza Brunet estava. Naquela época eu ainda tinha cabelos longos. Quando a vi, estávamos muito parecidas. Ambas com cabelos presos, vestido preto de um ombro só. As duas! (os dezessete centímetros de diferença ainda lá estavam também!). Aproximei-me dela e disse que gostaria de contar uma história que para mim sempre foi de grande orgulho. Contei que eu havia sido sua dublê no filme e ela foi muito simpática e achou muito engraçado tudo aquilo. Tiramos fotos juntas e quando ela olhou as fotos na máquina digital se espantou e mostrou pra filha dizendo: “Olha, Yasmim, ela é mais parecida comigo nas fotos do que eu mesma!!” Eu fico aqui pensando o que seria de minha vida se a Luíza não tivesse sido chamada para as tais fotos. Se ela não tivesse aceitado mesmo tendo feito um contrato, se não tivesse se ausentado das filmagens, eles não teriam precisado de mim, eu não teria tido essa experiência maravilhosa de contracenar com o quarteto mais famoso do Brasil e ter no currículo ter sido dirigida pelo Carlos Manga, não teria reaproximado os três amigos, não teria me aproximado de meu chefe, não teria me casado com ele, não teria tido a minha linda filha Marina e todos os bichinhos que tivemos juntos... Eu não teria viajado o que viajei e sido feliz como fui! E não teria sido chamada pra responder essas coisas e constar neste livro... O destino é muito doido mesmo.