domingo, 12 de outubro de 2008

Luiz Zanin


Jornalista. Escreve matérias e críticas para o jornal ‘O Estado de S.Paulo’. Autor de livros como ‘Cinema de Novo - um Balanço Crítico da Retomada’ e ‘Fome de Bola - Cinema e Futebol no Brasil’.

Qual é a importância histórica que o curta-metragem tem no cinema brasileiro?
Dois curtas tiveram notável influência no desenvolvimento do Cinema Novo: Aruanda, de Linduarte Noronha, e Arraial do Cabo, de Paulo César Saraceni e Mário Carneiro. Um dos grandes filmes de Humberto Mauro é um curta: A Velha Fiar. Aliás, Mauro fez um sem número de curtas, entre eles Carro de Bois, que considero uma obra-prima. Um curta está entre os melhores filmes (de qualquer duração) já feitos neste país: Ilha das Flores, de Jorge Furtado.

Por que os curtas não tem espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
O problema do curta é o espaço. Não tem lançamento comercial e, como a lei do Curta não é cumprida, não entra nas sessões de cinema. A única janela para eles são os festivais. E então tem de disputar espaço com os longas, considerados mais nobres. É um preconceito a ser vencido.

É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Acontece em geral desse jeito. Mas o formato tem dignidade própria. Em tese, a duração de um filme deveria ser estabelecida em função daquilo que ele tem a apresentar. Mas há o problema comercial...

O curta-metragem é o grande movimento do cinema atual?
É sempre um espaço de respiração e de invenção, mais do que o longa. Este, que tem a vantagem da distribuição comercial, ao mesmo tempo sofre limitação, pois é mais caro, precisa tentar adivinhar o gosto do espectador, etc. Por outro lado, a desvantagem do curta (sua inexistência econômica) é também a fonte da sua maior liberdade. Veja só como a vida é complexa...

Pensa em sair momentaneamente da crítica e dirigir um curta futuramente?
Nunca pensei nisso. Mas, como dizem os jogadores de futebol, o futuro a Deus pertence.