quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Nilson Primitivo

Na contramão do cinema, Nilson assina produções improvisando técnicas, reaproveitando materiais e recria o cinema marginal com poesia e crítica da realidade.

O curta-metragem é um gênero underground no cinema?
Num certo sentido sim, já que não tem lançamento comercial. Como é trabalhar com a síntese no cinema?Mais fácil que fazer um longa metragem sem cansar o espectador, sem repetir formulas gastas no passado ou sem fazer "concessões" ao mercado.

Sua maneira de filmar é bastante peculiar. Conte sobre a sua técnica.
Eu faço meus filmes numa Bolex 16mm a corda, com sobra de ponta de negativo das produtoras amigas (Gullane filmes em S.P. e a Innova no Rio). Eu mesmo faço a revelação dos negativos. Depois projeto, filmo da parede e monto no computador. Pra mim o que interessa é a especificidade da imagem. Acho 16mm uma cor mais bonita que qualquer 35mm, qualquer foto, qualquer pintura, qualquer coisa.

Conte como foi filmar "Idade da Pedra", seu processo de criação, produção e direção.
"Idade da Pedra" começa com uma bronca antiga minha com a Folha de São Paulo. Quando o Glauber lançou "Idade da Terra" nego pra sacanear publicou o nome do filme como "Idade da Pedra". Passaram-se anos, mas eu contra-ataquei. Aí fui filmar no dia dos mortos um cantor meio obscuro da Jovem Guarda que é o Paulo Sergio. Nesse dia os fãs dele vão pra lá e fica, o dia todo com ele perto do tumulo cantando as musicas dele, etc. um troco bonito pra caramba. Tu sai de lá com inveja do morto. O resto são os absurdos que acontecem no meio do caminho: um filme que eu vi e roubei um trechinho da musica, uma demência ou outra mais engraçada que ouvi na rua, por ai vai.

Conte como foi filmar "Império das Pelúcias", seu processo de criação, produção e direção.
"Império Das Pelúcias" eu filmei numa puta mansão do meu amigo o marques Roberto Atayde. Foi um hino que eu quis fazer, eu e o Rodrigo Amarante pro nosso ídolo Erasmo Carlos. Tem o som do meu ex-padastro comprando a câmera super8, nas antiga, lá nos EUA. Ele que me deu minha primeira câmera.

Conte como foi filmar "Mais Velho", seu processo de criação, produção e direção.
"Mais Velho" foi meu primeiro filme. É a estória que eu vim contar, o filme mais importante. O resto acho que foi só pelas putadas que fizeram comigo por causa dele. Não topo sacanagem.

Conte como foi filmar "O Crack do Futuro", seu processo de criação, produção e direção.
"Crack do futuro" é sobre um argentino que vivia em Copacabana e lia a tua mão e tirava a tua sorte nas cartas. Ele mesmo se achava charlatão, mas as previsões dele todas davam certo.

Conte como foi filmar "Tesão em Saquarema", seu processo de criação, produção e direção.
Pois é, todo mundo ficava perguntando "como é, não vai terminar o ‘tesão’? Eu digo, "po, se terminar o 'tesão', como é que fica? É uma obra inacabada.

Conte como foi filmar "O Exú do Amor", seu processo de criação, produção e direção.
Bons tempos em que ainda se misturava macumba e Mao-Tse-Tung! Todo mundo fala mal do Mao, mas você veja a China o que é hoje.

Conte como foi filmar "Gru", seu processo de criação, produção e direção.
O "GRU" é um documentário sobre meus primeiros dias vividos em São Paulo em 2006, entre ciganos e camelôs.

Conte como foi filmar "Dez pro Inferno", seu processo de criação, produção e direção.
Foi um que deu errado a revelação. Fiquei puto e acabei fazendo um puta filme! Com raiva o sujeito pensa melhor.

Conte como foi filmar "Duelo das Loiras", seu processo de criação, produção e direção.
Filme da fase Rodrigo Amarante. Tem uma montagem de duas estórias uma a da TV outra que esta sendo contada pelo personagem. As duas são terríveis e reais.

Conte como foi filmar "Quando a verdade vai entrando", seu processo de criação, produção e direção.
Esse é um poema do meu amigo Paulo de Tarso, o Picanha, sobre os atentados do PCC em SP em 2006, acho. Filmei com a minha amiga a atriz Luciana Borghi e o ator Renato Borghi, criador do Teatro Oficina.

Pensa em dirigir um longa-metragem? Acha que teria dificuldade em trabalhar com mais de 30 minutos de filme?
Talvez, não descarto, depende da parada. Acho chato, desnecessário e inatual essa estória de filme com uma hora e meia, duas. Igual aula na faculdade, o cara começa a se repetir.

Qual é o seu próximo projeto?
To trabalhando com um biólogo, fazendo levantamento num manguezal em Santos. Tem um edital aí que estou esperando e tentando outros. Tem o making-off do Encarnação do Demônio, do Mojica, que chama "O Inferno não Vale Nada" que deve sair no DVD do Encarnação. Tem o do Marcelo Camelo que já deve vai sair também, é um making-off da gravação do disco dele. Tem do ultimo show do Los Hermanos nas lojas. É isso aí.