terça-feira, 23 de agosto de 2011

Verônica Stigger



Verônica é uma escritora, jornalista, professora e crítica de arte. 

Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 
A mídia em geral costuma dedicar seus espaços a filmes que integram o circuito comercial de exibição ou àqueles que se destacam nos principais festivais de cinema do país e do exterior e que, por esta razão, sugerem ter grandes chances de se tornar sucesso de público. Esse não é o caso do curta-metragem. E, por isso, os curtas acabam não recebendo a atenção que talvez merecessem dos jornais, das revistas, das televisões etc. 

Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público? 
A meu ver, precisamente porque os curtas estão mais ou menos livres da competição comercial e, por isso, podem se dar ao luxo de ser mais experimentais que os longas, seu lugar ideal de exibição tende a ser cada vez mais a internet (que, nos próximos anos, acredito, se imbricará com a televisão). Sites atraentes, bem-desenhados, com transmissões eficientes de vídeo: este me parece ser o caminho para os curtas atingirem um público cada vez maior – na verdade, potencialmente, um público planetário. 

O curta é um "primo" do conto? Quais os paralelos que podemos fazer com a literatura? 
Sim. Podemos pensar o curta como um primo do conto. O longa, por sua extensão, por sua gama maior de personagens, estaria mais próximo do romance e da novela, enquanto o curta, por sua brevidade, por sua concisão, se aproximaria mais do conto. No entanto, há uma série de adaptações de contos para longas-metragens que funcionam muito bem. Um exemplo: o conto Os mortos, de James Joyce, foi transposto para o cinema por John Huston (no Brasil, chamou-se Os vivos e os mortos). 

Qual é a sua opinião sobre as adaptações literárias no cinema? 
Depende da adaptação. Há as que são boas e as que são ruins. A adaptação de Os mortos, de Joyce, que citei anteriormente, é muito bem realizada. Quem faz uma bela brincadeira sobre essa questão é Spike Jonze, a partir de um roteiro de Charlie Kaufman, em seu filme Adaptação, filme, aliás, de que gosto muito. 

Acredita que funcionaria bem a adaptação de um romance num curta-metragem? 
Acho que seria um tremendo desafio. Mas se teria que escolher a dedo qual romance adaptar para o formato do curta-metragem ou, talvez, escolher apenas uma parte de um determinado romance para trabalhar.