domingo, 9 de setembro de 2012

Adrian Cooper

Depoimento para o blog ‘Os Curtos Filmes’.
 
Como diretor (mas não me considerando como tal) fiz dois filmes; um curta e um media-metragem...sendo que o tempo de duração de cada filme foi determinado tanto pelo tamanho da ideia que queria expor, como pela quantidade de dinheiro disponível para realizá-lo. Na época não passou pela minha cabeça que eu estava me 'preparando' para dirigir um longa-metragem, tanto que nunca dirigi e acho que nunca vou dirigir... (mas, nunca diga nunca!!). Eu era, e queria ser um fotógrafo e eu amava o fazer do cinema como um todo. Acho que isso deve ser uma verdade para a maioria dos curtas-metragistas. 
 
Ao mesmo tempo, acho que um das funções do curta-metragem (mas certamente não a única) é ser um 'mordedor' para a coceira criativa de um jovem cineasta. A vontade de fazer cinema nasce cedo, mas a capacidade técnica de fazê-lo bem exige muito tempo de pratica e experiência - e na medida que fazer cinema custa muito dinheiro (algo dificílimo de conseguir) a opção para fazer um filme pequeno faz parte da necessidade pratica e evolutiva de um realizador. A existência e ampliação dos prêmios estímulos e a multiplicidade dos festivais dedicados a esse formato são exemplos do reconhecimento da importância do curta-metragem nesse processo.
 
Com isso não quero dizer que eu considero o curta só um espaço de aprendizagem, pois há curtas (e muitos) de grande valor artístico e técnico. É um formato ideal para a experimentação, para a síntese e o impulso poético, para a expressão de ideias que não caberiam ou se perderiam estendidas num filme de longa duração. O curta pode representar em cinema o mesmo rigor e beleza de um conto na literatura, e há importantíssimos escritores de contos que nunca escreveram ou quiseram escrever romances. Guardo comigo a lembrança de alguns curtas que me tocaram profundamente e que alimentaram minha vontade e entusiasmo de continuar a fazer cinema, apesar de todas as dificuldades.... e, sem duvida, fazer cinema é difícil.
 
Acho que essencialmente o cineasta é um artista, (opinião muito pessoal)... mas, entendemos que o cinema (como muitas expressões artísticas hoje em dia) é sobretudo e por natureza uma atividade comercial regida pelas leis, exigências, limitações e preconceitos do mercado. É muito difícil para o artista aprender se expressar dentro dessas condições...pois, exige uma capacidade e persistência extraordinária para seguir adiante nessa floresta complexa e escura (alguns diriam, nesse deserto!) sem se perder a visão e o impulso original. 
 
O curta-metragem é um dos caminhos para aprender essa difícil tarefa.... e como tal tem uma importância vital para a saúde e maturidade de nossos cineastas e nosso cinema.
 
Por fim, para concluir... Não penso atualmente em dirigir um curta, mas, a vontade de realizar um filme - seja do que tamanho, bitola, ou natureza - é um constante na minha vida, como uma coceira de mordida de carrapato que não para de coçar.
 
Adrian Cooper é fotógrafo e diretor de arte inglês radicado no Brasil desde 1975, é um dos raros profissionais de cinema que se alterna entre as duas funções.