sábado, 22 de setembro de 2012

Sara Antunes

Sara é uma das maiores expoentes das artes cênicas do país. É atriz, produtora e autora. Seu último trabalho é o monólogo ‘Negrinha’, adaptação baseada no conto de Monteiro Lobato.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Aceitei as oportunidades que me apareceram, como uma boa amante de cinema ávida por experiências.  E vou entendendo que o curta é como uma capsula que a gente toma, as vezes tão rápida..e o que conta é a reverberação no corpo.
Entender como aqueles instantes condensados podem marcar iluminar e comunicar. A experiência, o desafio da síntese, imprimir os mergulhos verticais em instantes, naqueles pequeninos momentos respirações e olhares capazes de darem o prisma de toda uma vida... isso para um ator é muito instigante não é? No ano passado, fiz três curtas tão lindos e tão diferentes! 
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Tanta coisa boa produzida no Brasil, tanta sensibilidade. Mas a mídia não esta muito no compasso da arte, mas da mercadoria, como bem sabemos,  naquilo que pode vender e convenhamos que curta não tem muito apelo comercial.
A prioridade da mídia é a superfície e não a formação cultural de um povo  ou seja, está coerente a seus propósitos, infelizmente.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público?
Fala-se muito que o cinema hoje padece com essa questão da exibição da obra, tanta coisa produzida de qualidade e tão pouco vista. É fato. A própria internet hoje é um veiculo tão forte e o curta se adequa ao tempo do computador, da televisão também, são veículos que não substituem  a experiência e o ritual de ver filme no cinema, mas podem ajudar na difusão! Mas para mim a grande questão não paira só na exibição, mas na formação de um público interessado. As coisas devem correr paralelas, mas não podemos olhar para a exibição e distribuição sem olhar com grandeza para a educação e a cultura.
Os problemas- acho que quase todos residem aí - é na base da pirâmide. Não na curva final do produto até chegar ao espectador... Mas, na própria formação dos sujeitos. Daquele que vê atiçar a fogueira do interesse pela arte em cada um, eis um desafio, porque o lugar da arte é o espelho, momentos de reflexão, sublimação, momentos fundamentais para a expansão de toda sociedade e todo ser humano.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
È claro que o curta por suas proporções é um portal para o longa, um convite de entrada para a empreitada, uma possibilidade de experiência. Mas se ele só for encarado assim pode ser perigoso do ponto de vista artístico.
A questão gira em torna da inviabilidade deste país em produzir cultura. O descaso e a falta de verba faz com que o curta seja uma escolha muito mais econômica do que artística. O resultado vai revelar essa nossa dificuldade de produção. E o artista não deveria estar submetido a esses imperativos econômicos, sem dúvida.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Voltamos a questão da produção. Se os meios fossem mais simples muitos artistas optariam pelo curta como opção puramente artística, atento ao material e a obra.  Como a decisão de um escritor quando opta por um conto ou um romance, um haikai ou uma poesia, são linguagens e opções estéticas que não deveriam ser hierarquizadas. Fazer um bom curta deveria ser tão desafiante como fazer um longa.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Dirigir ? Sou uma atriz-autora, tenho muitas ideias, penso muito mais em roteiros e argumentos do que na direção propriamente e com tanto cineasta bom espalhado pelo nosso Brasil... Parcerias sim, quem sabe? Ainda há muito que se fazer e gosto de portas abertas... e desafios!