sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alice Assef


Alice é atriz, viveu a travesti Ana em "Amor em Quatro Atos", ao som de "O que será – À Flor da Pele", de Chico Buarque, microssérie inspirada nas canções do compositor.
 
O que te faz aceitar participar de trabalhos em curta-metragem?
Curtas-metragens são uma ótima forma de treinar cinema e imaginação. Por ter um formato menor e uma suposta conotação de exercício, o que reina é a liberdade da experimentação. E sem esse peso é como se o trabalho pudesse ser mais autoral para todos em suas respectivas áreas.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral? 
Essa pergunta é curiosa porque se vivemos atropelados pelo excesso de informação, se o que temos hoje é uma pandemia de déficit de atenção, se não sabemos mais prestar atenção nas coisas nem no que focar para que nosso tempo não seja desperdiçado, não seria o curta-metragem um ótimo formato para essa era? Ele apenas não foi descoberto ainda por um vício de comportamento de mercado.
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição dos curtas para atingir mais público
Para começar deveria haver uma divulgação maior. Os curtas poderiam ser colocados juntos, como em festivais, só que em circuito regular, talvez agrupados por temas afins. Dizem que não conseguimos focar numa mesma coisa por mais de 15 minutos consecutivos. Nesse caso, o espectador  se sentiria mais sagaz ao assistir histórias curtas sobre um tema que lhe interessasse. Ou talvez para todo longa devesse haver sua versão curta, após a sessão. Isso talvez conduzisse um público viciado a um novo hábito. Ou ainda, haver uma projeção de um curta antes de cada filme, como a Pixar faz com seus "curtinhas" antes de cada sessão... ideias.
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Enquanto os espectadores não tiverem o costume desse formato menor, acho difícil. As leis também não ajudam. Pelo que sei, um patrocínio de longa-metragem só sai pela Ancine se o cineasta tiver feito três curtas. Ou seja, o curta-metragem já é colocado como um lugar de exercício apenas, e não como um "gênero" artístico capaz de atingir grandes massas.
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Marginalizado, não diria, já que ele é um pré-requisito tanto em lei quanto em escola, mas talvez a lei imponha uma hierarquia nesse sentido. Além disso, criar um bom argumento é uma tarefa árdua. E imagino que para um cineasta deva ser muito difícil não querer tirar tudo dessa idéia. O artista quer esgotar tudo o que pode ser dito sobre um tema  a fim de que sua obra seja reconhecida e avalizada.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Apesar de levar jeito para direção de atores, me sinto muito insegura em contar uma história e ainda não me sinto capaz de defender uma estética para tal. Faço direção teatral na UFRJ. Quem sabe depois de me exercitar lá não crio coragem para pegar numa câmera?