quarta-feira, 17 de abril de 2013

Valentina Lattuada

Atriz, italiana. Sua personagem D. Eduarda na encenação do Centro de Pesquisa Teatral (CPT) na peça ‘Senhora dos Afogados’ foi considerada um dos pontos altos do espetáculo.
 
O que te faz aceitar participar de produções em curta-metragem?
Participo somente de projetos com bom roteiro, boa equipe técnica e bons artistas envolvidos, projetos que tenham um bom plano de ação e uma proposta artística consistente. Prezo muito a seriedade, profissionalismo, o entusiasmo e a criatividade, e considero muito importante a química e o trabalho de grupo entre todos os envolvidos.
 
Por que os curtas não têm espaço em críticas de jornais e atenção da mídia em geral?
Nos últimos anos aumentaram os festivais de curtas no mundo inteiro, assim como o espaço dedicado a esse tipo de produto cultural em festivais internacionais e nacionais. Mesmo assim às vezes a visibilidade alcança somente a classe artística ou os interessados num tema especifico. A crítica está dando mais atenção a produção de curtas mas não se alcança facilmente a mídia em geral e sobretudo o grande público... provavelmente por ainda ser considerada uma produção menor, pelos curtas terem uma vida útil de 2 anos (após os quais não são mais veiculados e nem aceitos em festivais), por não serem distribuídos em cinemas com os longas e por às vezes permanecerem numa linguagem experimental que agrada um público mais restrito. A produção está crescendo muito e está se especializando sempre mais, conseguindo obter também um financiamento maior, esses são pontos a favor, um estimulo e uma possibilidade de chamar a atenção sempre mais... quebrando preconceito..., é um caminho um pouco longo, youtube e internet em geral com certeza ajudam...
 
Na sua opinião, como deveria ser a exibição de curtas para atingir mais público?
Provavelmente deveria se voltar (como aconteceu por um breve período) a exibir um curta antes de cada longa no cinema, assim como deveria ter um programa semanal na TV aberta, ou um Box dentro de algum programa com alto ibope, que mostre as melhores produções de curtas (eu sou de Milão, Itália... e lá isso acontece... pelo menos acontecia até uns anos atrás...). Deveriam produzir DVDs para mais curtas e colocá-los a venda e para locação. Deveriam unir curtas a patrocinadores privados, enfim, muito pode ser feito...
 
É possível ser um cineasta só de curta-metragem? Vemos que o curta é sempre um trampolim para fazer um longa...
Se você é cineasta e é bom, vai chegar um certo momento que você vai chamar bastante atenção pelo teu trabalho, isso aumenta a possibilidade de você captar dinheiro para os teus projetos... isso quer dizer, que a um certo momento você vai poder e querer ampliar o teu raio de ação e contar uma história em 90 minutos e não em poucos... é natural... mesmo que você tenha paixão por curtas e você continue produzindo esse tipo de filme... se você tem a possibilidade de fazer um longa, você vai fazer!!!
 
O curta-metragem é marginalizado entre os próprios cineastas?
Sempre menos... se você é da área você reconhece qualidade onde a vê. Você pode ter muita mais moral como diretor ou ator de curtas legais (mesmo que menos vistos pela massa) do que um super ator ou super diretor de muitos filmes sem tanta qualidade e comprometimento artístico. O curta é sempre mais visto como uma linguagem própria, com seu valor e características próprias, estimula diálogo e curiosidade. É um campo de muitas possibilidades criativas... isso permite que seja reconhecido seu impacto...
 
Claro que é muito fácil você pegar uma câmera, começar a filmar e dizer que você é diretor de curtas... coisa que você não pode fazer com longa porque requer muito dinheiro... isso quer dizer que até que você não demonstre a qualidade do seu trabalho você vai gerar desconfiança... pois hoje em dia todo mundo é “ator”, “diretor”, etc... então o preconceito de quem é realmente ator e diretor, etc, aumenta... acho isso natural... assim como a seleção natural da grande quantidade de produção... não é marginalização, é peneira... mas o que é bom sempre sobressai... seja curta, longa, clipe, etc... apesar dos problemas com os patrocinadores e o grande público. E o que é ruim, apesar de ser produzido, fala por si.
 
Pensa em dirigir um curta futuramente?
Sim, se houver tempo e possibilidade, tenho algumas boas histórias pra contar...