domingo, 1 de outubro de 2017

Os Trapalhões: Evelise Aragão


Evelise Aragão
Assistente de edição


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
O convite para eu trabalhar com eles surgiu naturalmente, porque eu era de casa. Sou sobrinha do Renato. Eu estava estudando. Queria alguma coisa para ganhar dinheiro, enquanto eu estudava; e meu namorado trabalhava com ele. Trabalhei pouco, mas cresci convivendo com meu tio Renato. Ele é o irmão de meu pai com quem tive mais contato.

Antes de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus filmes?
Meu pai é um dos irmãos mais velhos dele. Foi para o Rio estudar Medicina, muito antes de ele chegar ao Rio. Inclusive, foi meu pai que os acolheu, quando ele chegou com a família ao Rio. Eles alugaram um apartamento na nossa rua, no Flamengo, em 1963. Eu tinha, então, seis anos de idade.

Quais as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Muita gente bacana, trabalhadora, divertida, uma escola de cinema para muitos.

Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens eram descontraídas?
Sim, sem dúvida, as filmagens eram descontraídas e sérias ao mesmo tempo. Eu ia pouco ao set, porque trabalhava na montagem; mas o Mussum cuidava para que ninguém parasse de rir.

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Muito frequentemente eu ia nos fins de semana para a casa do meu tio. Eu via o Dedé com frequência. Virou um amigo. O Mussum e o Zacarias, eu encontrava menos, em ocasiões como festas. O Dedé era com um irmão para o meu tio. O Zacarias era o mais sério. Muito formal nas reuniões, educadíssimo, uma pessoa muito agradável.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Muito interessante. Fazíamos filmagens das filas, nos divertimos muito.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Procede. Chatíssimo, tudo tem que ser visto e revisto.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Elitismo. Eles eram um quarteto inspirado em figuras populares e faziam um gênero tipo pastelão, sem engajamentos políticos. Acho isso positivo. Se os críticos os rejeitam deve ser porque eles não suprem determinada expectativa de engajamento político ou artístico, mas faziam um humor espontâneo e franco. Ganharam os corações das crianças, que cresceram os respeitando e, hoje em dia, você ouve em todos os setores da sociedade: “Trapalhões? Um clássico!

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Cinema para crianças, também apropriado para adultos que ainda têm em si a criança que foi.

Renato Aragão tem como característica o vínculo com pessoas com quem ele gosta de trabalhar. Muitos profissionais o acompanham até hoje, formando uma grande parceria. Ele sempre foi assim?
Sempre. Parecia um grande família: Dedé Santana, Roberto Guilherme e outros trabalharam mais de quarenta anos juntos.

Renato costuma também convidar familiares para trabalhar com ele. No seu caso, como foi o processo?
Eu estava sempre na casa dele. Meu namorado, que trabalhava em cinema e era muito amigo do meu primo mais velho, Paulo Aragão Neto, começou a trabalhar com eles nos filmes; eu fui de quebra. Fiz assistência de montagem; mas, depois, não segui a carreira em cinema.

Acredita que a família contribui de maneira substancial para a composição do trabalho do Renato? Ele considera todas as pessoas envolvidas na produção de um filme como uma família?
Ele é um artista de um circo moderno. Mas, como no circo, onde se vive a arte, respira arte, convive-se com os colegas dia a dia em torno da arte, você acaba misturando família com colegas e vira rápido uma grande família, gente que trabalha junto e se gosta, gente dedicada. A intimidade é grande nesse tipo de trabalho; trabalha-se sem hora para terminar, pela noite adentro. Vira facilmente uma grande família.

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
Não sou boa para contar histórias e ficava fechada na montagem, não ia muito ao set. Mas me lembro de algo que achei gozado. Foi quando, no estacionamento da produtora, o Dedé Santana passou por mim e meu marido (naquele tempo meu namorado) com um carro pequeno, esporte, de playboy. O carro estava entulhado de coisas: malas e alguns objetos de mobiliário. Um carro completamente inapropriado para mudanças. Ele tinha brigado com a mulher dele (acho que era a segunda, pelo menos a segunda que eu conheci) e disse para a gente que tinha saído de casa, pego algumas coisas que conseguiu carregar. Disse também que ia morar em outro lugar e que o resto da casa ficava para a mulher dele. Achei engraçado aquela cena de um carro esporte pequeno, moderno, sendo usado como caminhão de mudança. Ele era assim naquele tempo, um saltimbanco, uma graça de pessoa.