Evelise
Aragão
Assistente de edição
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
O
convite para eu trabalhar com eles surgiu naturalmente, porque eu era de casa.
Sou sobrinha do Renato. Eu estava estudando. Queria alguma coisa para ganhar
dinheiro, enquanto eu estudava; e meu namorado trabalhava com ele. Trabalhei
pouco, mas cresci convivendo com meu tio Renato. Ele é o irmão de meu pai com
quem tive mais contato.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus
filmes?
Meu
pai é um dos irmãos mais velhos dele. Foi para o Rio estudar Medicina, muito
antes de ele chegar ao Rio. Inclusive, foi meu pai que os acolheu, quando ele
chegou com a família ao Rio. Eles alugaram um apartamento na nossa rua, no
Flamengo, em 1963. Eu tinha, então, seis anos de idade.
Quais
as suas principais recordações dos bastidores de filmagens com Os Trapalhões?
Muita
gente bacana, trabalhadora, divertida, uma escola de cinema para muitos.
Renato
Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias tinham como característica a irreverência. Até
nos bastidores das filmagens, eles brincavam muito. Isso procede? As filmagens
eram descontraídas?
Sim,
sem dúvida, as filmagens eram descontraídas e sérias ao mesmo tempo. Eu ia
pouco ao set,
porque trabalhava na montagem; mas o Mussum cuidava para que ninguém parasse de
rir.
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Muito
frequentemente eu ia nos fins de semana para a casa do meu tio. Eu via o Dedé
com frequência. Virou um amigo. O Mussum e o Zacarias, eu encontrava menos, em
ocasiões como festas. O Dedé era com um irmão para o meu tio. O Zacarias era o
mais sério. Muito formal nas reuniões, educadíssimo, uma pessoa muito
agradável.
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Muito
interessante. Fazíamos filmagens das filas, nos divertimos muito.
Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Procede.
Chatíssimo, tudo tem que ser visto e revisto.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e
estrelados pelos Trapalhões?
Elitismo.
Eles eram um quarteto inspirado em figuras populares e faziam um gênero tipo
pastelão, sem engajamentos políticos. Acho isso positivo. Se os críticos os
rejeitam deve ser porque eles não suprem determinada expectativa de engajamento
político ou artístico, mas faziam um humor espontâneo e franco. Ganharam os
corações das crianças, que cresceram os respeitando e, hoje em dia, você ouve
em todos os setores da sociedade: “Trapalhões?
Um clássico!”
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Cinema
para crianças, também apropriado para adultos que ainda têm em si a criança que
foi.
Renato
Aragão tem como característica o vínculo com pessoas com quem ele gosta de
trabalhar. Muitos profissionais o acompanham até hoje, formando uma grande
parceria. Ele sempre foi assim?
Sempre.
Parecia um grande família: Dedé Santana, Roberto Guilherme e outros trabalharam
mais de quarenta anos juntos.
Renato
costuma também convidar familiares para trabalhar com ele. No seu caso, como
foi o processo?
Eu
estava sempre na casa dele. Meu namorado, que trabalhava em cinema e era muito
amigo do meu primo mais velho, Paulo Aragão Neto, começou a trabalhar com eles
nos filmes; eu fui de quebra. Fiz assistência de montagem; mas, depois, não
segui a carreira em cinema.
Acredita
que a família contribui de maneira substancial para a composição do trabalho do
Renato? Ele considera todas as pessoas envolvidas na produção de um filme como
uma família?
Ele
é um artista de um circo moderno. Mas, como no circo, onde se vive a arte,
respira arte, convive-se com os colegas dia a dia em torno da arte, você acaba
misturando família com colegas e vira rápido uma grande família, gente que
trabalha junto e se gosta, gente dedicada. A intimidade é grande nesse tipo de
trabalho; trabalha-se sem hora para terminar, pela noite adentro. Vira
facilmente uma grande família.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
Não
sou boa para contar histórias e ficava fechada na montagem, não ia muito ao set. Mas me lembro de algo
que achei gozado. Foi quando, no estacionamento da produtora, o Dedé Santana
passou por mim e meu marido (naquele tempo meu namorado) com um carro pequeno,
esporte, de playboy.
O carro estava entulhado de coisas: malas e alguns objetos de mobiliário. Um
carro completamente inapropriado para mudanças. Ele tinha brigado com a mulher
dele (acho que era a segunda, pelo menos a segunda que eu conheci) e disse para
a gente que tinha saído de casa, pego algumas coisas que conseguiu carregar.
Disse também que ia morar em outro lugar e que o resto da casa ficava para a
mulher dele. Achei engraçado aquela cena de um carro esporte pequeno, moderno,
sendo usado como caminhão de mudança. Ele era assim naquele tempo, um
saltimbanco, uma graça de pessoa.