domingo, 1 de outubro de 2017

Os Trapalhões: Fabio Girão


Fabio Girão
Compositor


Como surgiu o convite para trabalhar com Os Trapalhões?
Conheci o Caxa Aragão, filho do Renato, quando ainda éramos adolescentes. Tornamo-nos amigos e fomos crescendo juntos musicalmente. Caxa foi convidado por Silvio Tendler, diretor de O Mundo Mágico dos Trapalhões, para assumir a trilha sonora do filme e estendeu o convite para mim e Papito Melo, em 1991. Considero esse meu primeiro trabalho como músico profissional.

Antes de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você já acompanhava os seus filmes?
Claro, ainda mais tendo todo o convívio familiar como background...

Sua função no organograma dos Trapalhões era mais direcionada às trilhas sonoras. Correto?
Eu não fazia parte do “organograma”. Era contratado por demanda, freelance.

Você compôs (com Caxa Aragão e Papito Melo) a trilha sonora do filme O Mundo Mágico dos Trapalhões. Fale a respeito desse trabalho.
Foi meu primeiro trabalho oficial como músico profissional, um laboratório para o que viria pela frente. Assistimos o copião do filme algumas vezes, para entender as “cenas-alvo” e respectivas minutagens e partimos para o processo de composição. Com as músicas compostas, convocamos alguns músicos e fomos para o estúdio gravá-las. Com as masters prontas, Sílvio Tendler, o diretor, montou a trilha sonora no filme. Grande aprendizado!

Você participou também, como instrumentista das trilhas sonoras dos filmes Os Trapalhões no Reino da Fantasia e Os Trapalhões no Rabo do Cometa. Nesses trabalhos você contou com a parceria do renomado músico Lenine. Que tem a falar do desenvolvimento desses dois trabalhos?
Eu e Caxa Aragão já trabalhávamos com Lenine desde 1992. Inclusive, em seus shows. Nessas duas trilhas, participei basicamente como músico executante (baixista), mas sempre me envolvendo com os arranjos das faixas. Em Os Trapalhões no Reino da Fantasia, encontrei as músicas compostas pelo Caxa, Lenine e Lula Queiroga e foi só colocar meu baixo. Em Os Trapalhões no Rabo do Cometa, já trabalhamos juntos como a banda Xarada.

No filme Os Trapalhões no Reino da Fantasia, você foi o baixista da banda paródia de heavy metal Heavy Traps. Mas a banda que você, Lenine, Lula Queiroga e Caxa Aragão tinham era a Xarada. Por que houve a mudança de nome?
Heavy Traps foi o nome colocado na cena filmada. Nós só percebemos isso depois... A banda Xarada foi formada logo depois dessa trilha, basicamente com os músicos que participaram das gravações. Além do Caxa, Duda Aragão, outro filho do Renato, era membro da banda, como baterista.

Gostaria que falasse a respeito do seu trabalho como compositor e instrumentista de algumas músicas da trilha sonora do filme O Trapalhão na Arca de Noé.
Nessa época, nossa banda, que acompanhava Lenine & Lula Queiroga (inclusive na gravação de seu primeiro disco, Baque Solto em 1983), estava trabalhando bastante dentro dos estúdios e a batizamos como banda Grótex. O convite para a trilha foi feito pelo Del Rangel e pelo Paulo Aragão, diretor e produtor executivo do filme. Compomos vários temas, a maioria instrumentais, para as cenas-alvo.

Quais as suas principais recordações de bastidores de trabalhos das trilhas dos Trapalhões?
Fazer O Mundo Mágico dos Trapalhões foi muito emocionante, meu batismo no mundo profissional, cenas e sensações que carrego para sempre. Foi legal também sentir a evolução durante o processo das trilhas seguintes. E a cena da Heavy Trap, junto com os quatro Trapalhões, é absolutamente inesquecível. Foi uma tarde super divertida no Retiro dos Artistas...

Como era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)? Eles chegavam a “palpitar” no seu trabalho como músico?
O meu contato extrapolou o caráter profissional, pois, como falei antes, eu era (e sou) muito amigo do Caxa Aragão e frequentava bastante a casa da família Aragão. O contato com o quarteto foi sempre muito cordial e com muita simplicidade daqueles artistas. Não havia palpites dos mesmos em relação ao meu trabalho como músico. Isso era tarefa mais dos respectivos diretores dos filmes.

Mussum era músico. Ele chegava a frequentar os estúdios onde as trilhas eram produzidas?
Não... nunca tivemos a presença de qualquer Trapalhão, durante as gravações.

Que representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram certeza de sucesso de bilheteria?
Representava um fantástico início de carreira profissional, bem remunerado e trazendo bastante prestígio. Confesso que pairava uma sensação geral de orgulho bom no nosso ambiente.

Quem era o maior comediante do grupo?
Não vejo quem possa ser “o maior” comediante... Os quatro se encaixavam perfeitamente, com suas características particulares: o Renato Aragão, o líder-gênio, um pouco mais sério e reservado nos bastidores; Dedé, com uma bagagem extraordinária, fazia o time jogar direito; Mussum, talvez o mais espontâneo e bagunceiro, engraçado o tempo todo; e Zacarias, um artista (com “A” maiúsculo) super talentoso.

Renato Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não participei muito das filmagens. Mas a percepção que tenho é que o Renato Aragão tinha tudo absolutamente sob seu controle.

Por que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados pelos Trapalhões?
Sempre houve aquela certa rejeição ao popular que dava (muito) certo. Talvez o fato de produzir os filmes independentemente tenha também um certo preço político... Lembro de uma certa virada, quando alguns formadores de opinião, como o Caetano Veloso, passaram a mencionar Os Trapalhões, inclusive em música (isso bem na época de O Mundo Mágico dos Trapalhões). A super bem cuidada produção de Os Saltimbancos Trapalhões, com Chico Buarque envolvido, também serviu como um upgrade.

Como classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Brasileiro... popular...

Gostaria que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha presenciado como testemunha ocular.
O que me vem a cabeça são as inúmeras peladas que joguei com eles, principalmente com o Renato Aragão, um craque de bola... Excelente jogador! Lembro também que Mussum quase quebrou minha perna, obviamente de forma involuntária, ao cair sentado com seu “forevis” em cima de mim... A partida foi interrompida, ficaram todos assustados! Mas, por sorte, foi apenas um susto...