Fabio
Girão
Compositor
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Conheci
o Caxa Aragão, filho do Renato, quando ainda éramos adolescentes. Tornamo-nos
amigos e fomos crescendo juntos musicalmente. Caxa foi convidado por Silvio
Tendler, diretor de O Mundo Mágico dos Trapalhões,
para assumir a trilha sonora do filme e estendeu o convite para mim e Papito
Melo, em 1991. Considero esse meu primeiro trabalho como músico profissional.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com Os Trapalhões, você
já acompanhava os seus filmes?
Claro,
ainda mais tendo todo o convívio familiar como background...
Sua
função no organograma dos Trapalhões
era mais direcionada às trilhas sonoras.
Correto?
Eu
não fazia parte do “organograma”.
Era contratado por demanda, freelance.
Você
compôs (com Caxa Aragão e Papito Melo) a trilha sonora do filme O Mundo Mágico dos Trapalhões.
Fale a respeito desse trabalho.
Foi
meu primeiro trabalho oficial como músico profissional, um laboratório para o
que viria pela frente. Assistimos o copião do filme algumas vezes, para
entender as “cenas-alvo”
e respectivas minutagens e partimos para o processo de composição. Com as
músicas compostas, convocamos alguns músicos e fomos para o estúdio gravá-las.
Com as masters prontas,
Sílvio Tendler, o diretor, montou a trilha sonora no filme. Grande aprendizado!
Você
participou também, como instrumentista das trilhas sonoras dos filmes Os Trapalhões no Reino da Fantasia e
Os Trapalhões no Rabo do Cometa.
Nesses trabalhos
você contou com a parceria do renomado músico Lenine. Que tem a falar do
desenvolvimento desses dois trabalhos?
Eu e
Caxa Aragão já trabalhávamos com Lenine desde 1992. Inclusive, em seus shows. Nessas duas trilhas,
participei basicamente como músico executante (baixista), mas sempre me
envolvendo com os arranjos das faixas. Em Os
Trapalhões no Reino
da Fantasia, encontrei as músicas compostas pelo
Caxa, Lenine e Lula Queiroga e foi só colocar meu baixo. Em Os Trapalhões no Rabo do Cometa,
já trabalhamos juntos como a banda Xarada.
No
filme Os Trapalhões no Reino da Fantasia,
você foi o baixista da banda paródia de heavy metal Heavy
Traps. Mas a banda que você, Lenine, Lula Queiroga e Caxa Aragão tinham era a
Xarada. Por que houve a mudança de nome?
Heavy
Traps foi o nome colocado na cena filmada. Nós só percebemos isso depois... A
banda Xarada foi formada logo depois dessa trilha, basicamente com os músicos
que participaram das gravações. Além do Caxa, Duda Aragão, outro filho do
Renato, era membro da banda, como baterista.
Gostaria
que falasse a respeito do seu trabalho como compositor e instrumentista de
algumas músicas da trilha sonora do filme O Trapalhão na Arca de Noé.
Nessa
época, nossa banda, que acompanhava Lenine & Lula Queiroga (inclusive na
gravação de seu primeiro disco, Baque
Solto em 1983), estava trabalhando bastante
dentro dos estúdios e a batizamos como banda Grótex. O convite para a trilha
foi feito pelo Del Rangel e pelo Paulo Aragão, diretor e produtor executivo do
filme. Compomos vários temas, a maioria instrumentais, para as cenas-alvo.
Quais
as suas principais recordações de bastidores de trabalhos das trilhas dos Trapalhões?
Fazer
O Mundo Mágico dos Trapalhões foi
muito emocionante, meu batismo no mundo profissional, cenas e sensações que
carrego para sempre. Foi legal também sentir a evolução durante o processo das
trilhas seguintes. E a cena da Heavy Trap, junto com os quatro Trapalhões, é
absolutamente inesquecível. Foi uma tarde super divertida no Retiro dos
Artistas...
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)? Eles chegavam
a “palpitar”
no seu trabalho como músico?
O
meu contato extrapolou o caráter profissional, pois, como falei antes, eu era
(e sou) muito amigo do Caxa Aragão e frequentava bastante a casa da família
Aragão. O contato com o quarteto foi sempre muito cordial e com muita
simplicidade daqueles artistas. Não havia palpites dos mesmos em relação ao meu
trabalho como músico. Isso era tarefa mais dos respectivos diretores dos
filmes.
Mussum
era músico. Ele chegava a frequentar os estúdios onde as trilhas eram
produzidas?
Não...
nunca tivemos a presença de qualquer Trapalhão,
durante as gravações.
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Representava
um fantástico início de carreira profissional, bem remunerado e trazendo
bastante prestígio. Confesso que pairava uma sensação geral de orgulho bom no
nosso ambiente.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Não
vejo quem possa ser “o maior”
comediante... Os quatro se encaixavam perfeitamente, com suas características
particulares: o Renato Aragão, o líder-gênio, um pouco mais sério e reservado
nos bastidores; Dedé, com uma bagagem extraordinária, fazia o time jogar
direito; Mussum, talvez o mais espontâneo e bagunceiro, engraçado o tempo todo;
e Zacarias, um artista (com “A”
maiúsculo) super talentoso.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Não
participei muito das filmagens. Mas a percepção que tenho é que o Renato Aragão
tinha tudo absolutamente sob seu controle.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Sempre
houve aquela certa rejeição ao popular que dava (muito) certo. Talvez o fato de
produzir os filmes independentemente tenha também um certo preço político... Lembro
de uma certa virada, quando alguns formadores de opinião, como o Caetano
Veloso, passaram a mencionar Os
Trapalhões, inclusive em música (isso bem na época
de O Mundo Mágico dos Trapalhões).
A super bem cuidada produção de Os
Saltimbancos Trapalhões, com Chico Buarque
envolvido, também serviu como um upgrade.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Brasileiro...
popular...
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
O
que me vem a cabeça são as inúmeras peladas que joguei com eles, principalmente
com o Renato Aragão, um craque de bola... Excelente jogador! Lembro também que
Mussum quase quebrou minha perna, obviamente de forma involuntária, ao cair
sentado com seu “forevis”
em cima de mim... A partida foi interrompida, ficaram todos assustados! Mas,
por sorte, foi apenas um susto...