Fafy
Siqueira
Atriz
Você
atuou no filme Uma Escola Atrapalhada.
Como e por quem recebeu o convite para atuar nesse filme? Como foi a
experiência?
O
convite partiu dos próprios Trapalhões.
Eles eram meus amiguinhos. Na época, eu era caçula. Sou da geração seguinte à da
Nair Bello. Consegui mostrar que sabia fazer humor. Os quatro deram muita força,
principalmente o Renato. Eles gostavam, quando imitava o Golias. A TV Globo não
gosta de colocar pessoas que não sejam da TV Globo, para ficar falando,
promovendo; mas o Renato permitia isso no programa dele.
Que
representava, naquele período, protagonizar um filme com Os Trapalhões, que
eram certeza de sucesso de bilheteria?
Foi
uma verdadeira faculdade. No cinema só trabalhei com Xuxa e Os Trapalhões. Chegava
cedo, prestava atenção no Renato. Eu estava muito feliz de estar no set, senti-me no primeiro
ano de faculdade. A única coisa chata no cinema é que se espera muito para
entrar em cena.
Quais
as suas lembranças do filme Uma
Escola Atrapalhada? Onde esse filme foi
filmado?
Foi
filmado no Colégio São José, na Tijuca. Sou de lá, conheço bem. Colégio muito
chique, católico, rico, limpo, animado. O Selton Mello atuou nesse filme, a
gente já percebia que ele iria longe. Tinha visitas interessantes, a Cristiana
Oliveira visitava a gente. Ela estava namorando o Rafael Ilha. Era uma festa.
Direção cênica de arte muito bonita, o jardim do colégio era lindo, e a
produção chegava até a colocar mais flores. Tem gente que vai, até hoje, ao
teatro me ver só por causa desse filme.
Quais
as lembranças de bastidores do filme? Como foi o seu contato com o quarteto?
A
gente se visitava. Eles passavam nos estúdios da Escolinha do Professor Raimundo.
Com Renato, era o que eu mais gostava de conversar. Ele me dava dicas, indicava
filmes. Foi ele quem me falou do filme Assim Era
a Atlântida.
O
filme foi o último com a participação de Zacarias, que faleceu naquele ano. A aparição
dele no filme é melancólica, muito magro, abatido, numa cena curta. Como foi o
seu contato com ele? Ele já estava doente?
Ele
estava ótimo. Ele estava doente, mas não passava isso. Fazia quarenta graus, durante
as filmagens.
Como
Didi, Dedé e Mussum compartilharam esse momento com o Zacarias?
Uma
coisa normal. Ninguém ficava falando “coitadinho”.
Hoje em dia, quem tem câncer é um evento. Mas, naquela época, ninguém ficava
falando; a mídia não estava nem aí.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Não
dá para fazer saber isso, é igual aos Beatles.
Renato
Aragão tem fama de ser perfeccionista. Isso procede? Ele acompanha tudo?
Ele
é centralizador. Nessa parte burocrática, eu me identifico com ele. Ele lançava
pessoas, deu ajuda para todos. Ele tem esse dom de produção, do fazer, da
resolução.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Preconceito.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Diversão
de primeira qualidade.
Gostaria
que falasse alguma curiosidade desse filme.
A
paixão maior que o Renato tinha por mim era por causa do Ronald Golias. O
Golias era o maior ídolo do Renato, ele pedia para imitar o Golias. Às vezes era
oito horas. Eu falava para ele: “Agora,
não dá.” E ele dizia, dando risada: “Tudo bem.” Outra
lembrança é que a produção pedia para ficarmos numa barraca, esperando a cena,
com o sol rachando a cabeça. O Mussum ficava molhado de suor, parecia uma
cachoeira.