domingo, 1 de outubro de 2017

Os Trapalhões: Fábio Villa Verde


Fábio Villa Verde
Ator


Quais as suas lembranças do filme Os Vagabundos Trapalhões?
Esse foi meu primeiro filme e já de cara com um dos maiores fenômenos da nossa história: Renato Aragão. Vale a lembrança que naquela época o cinema nacional era praticamente “nulo”, enquanto o Renato produzia dois filmes por ano.

Como surgiu o convite para trabalhar com o quarteto?
Fui escolhido através de testes e fiquei muito feliz e honrado em fazer parte do elenco do filme. Trabalhei com o Renato, e ele sempre foi muito carinhoso e atencioso comigo. O filme abordava, já naquela época, a temática do menor abandonado e sua preocupação com a adoção das crianças carentes

Como foi a sua participação no filme?
Fiz um menino de família rica, mas que, “empobrecida de amor”, acaba por fazer com que o menor fugisse para às ruas em busca de amor e atenção. O nome do personagem era Pedrinho, ele era fã de super-heróis e, sonhando em conhecer seu ídolo, o Super-Homem, acaba indo morar nas ruas. Então, conhece o Bonga (Renato) e seus amigos. Todos vagabundos, mas com um coração rico em amor, que era tudo que o Pedrinho buscava.

Os Vagabundos Trapalhões está inserido em um momento de preocupação com temáticas sociais do grupo. Isso ficou explícito, durante as filmagens?
O Renato sempre teve uma preocupação muito grande com a crianças e os menos favorecidos. Isso é o que vivenciei nos filmes dele. Todas as estreias eram destinadas às entidades e às crianças carentes de atenção. Algo que ele o faz até hoje, vide o Criança Esperança.

Renato Aragão retoma seu personagem Bonga, de Bonga, O Vagabundo (1969), agora acompanhado dos três Trapalhões, para narrar a história de um grupo de vagabundos (esse termo está associado à pobreza principalmente) que acolhe crianças abandonadas e que as direciona para famílias ricas. Recorda-se da repercussão do filme?
A lembrança que tenho é que o filme foi uma das maiores bilheterias da época, um grande sucesso.

A grande bilheteria desse filme confirma o grande potencial de comunicação com o público (através do humor e do auxílio do poder televisivo), até mesmo no tratamento de questões nacionais mais delicadas. É uma participação efetiva do quarteto num projeto de cinema que vai além da mera diversão e da atualização do cinema hegemônico. Na sua análise, qual é a importância histórica que Os Trapalhões possuem no nosso cinema?
Sem dúvida, o Renato Aragão é um dos nomes mais importantes da nossa história cinematográfica.

Quais as lembranças de bastidores do filme?
Clima de diversão com profissionalismo. Foi muito importante fazer parte dessa fase do nosso cinema e poder trabalhar com o Renato.

Que tem a falar do quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Todos eram muito amáveis comigo. Adorava o Mauro (Zacarias), o Mussum contador de piadas. O Dedé era mais sério; mas, ainda assim, um amor de pessoa. O Renato era muito carinhoso e atencioso, preocupava-se, em todos os detalhes, com meu bem-estar no set.

Onde esse filme foi filmado?
No Rio de Janeiro, Teresópolis.

Quem era o maior comediante do grupo?
O potencial de todos era enorme, e a química dos quatro funcionava que era uma maravilha.

Quem era o maior ator do grupo?
Acho que os quatro desempenhavam cada um o seu papel determinado para o sucesso do quarteto.

Você trabalhou com o quarteto em outras oportunidades. Renato Aragão sempre gostou de criar vínculo com determinados profissionais. Com você, não foi diferente. Conte como isso aconteceu.
Sou muito agradecido e tenho um carinho muito grande por ter tido a honra de contar com a confiança do Renato no meu trabalho. Agradeço a Deus cada passo na minha carreira.

Gostaria que falasse do cineasta J. B. Tanko, que dirigiu grandes clássicos do quarteto.
O J. B. Tanko representou um papel de grande importância no cenário cinematográfico nacional, sendo um dos maiores diretores dos filmes do Renato. Ele trabalhou na Cinelândia Filmes, na Atlântida e com o Herbert Richers. Com o Renato, foram mais de onze filmes.

Renato Aragão disse que O Trapalhão na Arca de Noé foi inspirado em Os Caçadores  da Arca Perdida, de Steven Spielberg. Procede essa informação?
Se ele mesmo disse isso, é claro que concordo.

O filme foi feito durante a separação dos Trapalhões, que durou apenas seis meses. Dedé Santana, Mussum e Zacarias fizeram, então, o filme Atrapalhando a Suate. Houve competição entre os dois filmes nos cinemas?
Nessa época foi muito interessante, pois a divisão do grupo, dividiu também a minha família. Enquanto eu filmava com o Renato, o meu irmão, Duda Villa Verde, fez o filme com os outros três. Participamos desse momento e torcemos muito para o retorno do grupo, para que todos ficassem bem, o que de fato acabou acontecendo meses depois. Nas bilheterias, o filme do Renato teve um retorno maior; mas é importante ressaltar que as duas produções foram bem-sucedidas.

Conte sobre o seu trabalho nesse filme.
Foi um filme lindo, ligado também às questões ecológicas. Isso no início dos anos 1980. Veja como o Renato sempre esteve à frente do seu tempo! Experiência maravilhosa!!!

Devido à separação do quarteto, não temeu ser retaliado por algum grupo por aderir a um lado nessa questão?
Eu era muito criança para lidar com esses detalhes, mas a lembrança que tenho até hoje é a de que sempre fui muito respeitado e amado por todos.

Fruto de um breve divórcio na carreira dos Trapalhões, esse filme marca o único esforço individual de Renato Aragão, depois da marca dos Trapalhões estar concretizada. No mesmo ano, Dedé, Mussum e Zacarias montaram uma produtora que realizou o filme Atrapalhando a Suate. Como nenhum dos dois filmes atingiu os resultados desejados, menos de um ano depois da briga os quatro já estariam juntos novamente realizando filmes como Os Trapalhões. Esse foi o principal motivo para a volta do quarteto?
Não sei responder essas questões. Não entro nos detalhes, apenas relembro a minha torcida e amor por todos eles.

Os problemas desse Trapalhão na Arca de Noé são muitos. A começar por um enredo que tenta ser didático (sobre a importância da proteção dos animais, bem de acordo com a expansão do pensamento ecológico que marca a década de 1980), mas que é confuso. Qual a sua análise a respeito disso?
Discordo da sua colocação. Não se esqueça de que os filmes são feitos para crianças, e a didática tem que ser direcionada a elas e não aos críticos. Sendo assim, a lembrança que ficou desse filme foi a de um filme preocupado com as questões ecológicas, pesca predatória, matança de jacarés no Pantanal etc. Essas mensagens são atuais e deveriam ter sido levadas mais a sério, mesmo que abordadas de forma lúdica.

Didi parece completamente fora do ambiente. Não há os companheiros de cena com os quais interagir e dar sentido ao personagem. Tenta-se colocar Sérgio Mallandro como um contraponto cômico. Qual é a sua análise a respeito?
Não tenho essa visão tão crítica. A leitura que fica é a de que, ainda sem os outros companheiros, o Renato se cercou de profissionais de grande valor: Gracindo Júnior, Nádia Lippi, Sérgio Mallandro, Dari Reis, Milton Moraes e tantos outros.

Quais as curiosidades desse filme que lhe vêm à memória?
Orgulho em ter feito parte do elenco desse filme, mesmo com a opinião desses críticos e mesmo com possíveis equívocos. Ressalto a capacidade de produção e o carisma do Renato para seguir o “fenômeno” que ele é até os dias de hoje.