Fábio
Villa Verde
Ator
Quais
as suas lembranças do filme Os
Vagabundos Trapalhões?
Esse
foi meu primeiro filme e já de cara com um dos maiores fenômenos da nossa história:
Renato Aragão. Vale a lembrança que naquela época o cinema nacional era
praticamente “nulo”,
enquanto o Renato produzia dois filmes por ano.
Como
surgiu o convite para trabalhar com o quarteto?
Fui
escolhido através de testes e fiquei muito feliz e honrado em fazer parte do elenco
do filme. Trabalhei com o Renato, e ele sempre foi muito carinhoso e atencioso
comigo. O filme abordava, já naquela época, a temática do menor abandonado e
sua preocupação com a adoção das crianças carentes
Como
foi a sua participação no filme?
Fiz
um menino de família rica, mas que, “empobrecida
de amor”, acaba por fazer com que o menor
fugisse para às ruas em busca de amor e atenção. O nome do personagem era
Pedrinho, ele era fã de super-heróis e, sonhando em conhecer seu ídolo, o
Super-Homem, acaba indo morar nas ruas. Então, conhece o Bonga (Renato) e seus
amigos. Todos vagabundos, mas com um coração rico em amor, que era tudo que o
Pedrinho buscava.
Os Vagabundos Trapalhões está
inserido em um momento de preocupação com temáticas sociais do grupo. Isso
ficou explícito, durante as filmagens?
O
Renato sempre teve uma preocupação muito grande com a crianças e os menos
favorecidos. Isso é o que vivenciei nos filmes dele. Todas as estreias eram destinadas
às entidades e às crianças carentes de atenção. Algo que ele o faz até hoje,
vide o Criança Esperança.
Renato
Aragão retoma seu personagem Bonga, de Bonga,
O Vagabundo (1969),
agora acompanhado dos três Trapalhões,
para narrar a história de um grupo de vagabundos (esse termo está associado à
pobreza principalmente) que acolhe crianças abandonadas e que as direciona para
famílias ricas. Recorda-se da repercussão do filme?
A
lembrança que tenho é que o filme foi uma das maiores bilheterias da época, um
grande sucesso.
A
grande bilheteria desse filme confirma o grande potencial de comunicação com o
público (através do humor e do auxílio do poder televisivo), até mesmo no
tratamento de questões nacionais mais delicadas. É uma participação efetiva do quarteto
num projeto de cinema que vai além da mera diversão e da atualização do cinema
hegemônico. Na sua análise, qual é a importância histórica que Os Trapalhões possuem
no nosso cinema?
Sem
dúvida, o Renato Aragão é um dos nomes mais importantes da nossa história cinematográfica.
Quais
as lembranças de bastidores do filme?
Clima
de diversão com profissionalismo. Foi muito importante fazer parte dessa fase
do nosso cinema e poder trabalhar com o Renato.
Que
tem a falar do quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Todos
eram muito amáveis comigo. Adorava o Mauro (Zacarias), o Mussum contador de
piadas. O Dedé era mais sério; mas, ainda assim, um amor de pessoa. O Renato
era muito carinhoso e atencioso, preocupava-se, em todos os detalhes, com meu
bem-estar no set.
Onde
esse filme foi filmado?
No
Rio de Janeiro, Teresópolis.
Quem
era o maior comediante do grupo?
O potencial
de todos era enorme, e a química dos quatro funcionava que era uma maravilha.
Quem
era o maior ator do grupo?
Acho
que os quatro desempenhavam cada um o seu papel determinado para o sucesso do
quarteto.
Você
trabalhou com o quarteto em outras oportunidades. Renato Aragão sempre gostou
de criar vínculo com determinados profissionais. Com você, não foi diferente. Conte
como isso aconteceu.
Sou
muito agradecido e tenho um carinho muito grande por ter tido a honra de contar
com a confiança do Renato no meu trabalho. Agradeço a Deus cada passo na minha
carreira.
Gostaria
que falasse do cineasta J. B. Tanko, que dirigiu grandes clássicos do quarteto.
O J.
B. Tanko representou um papel de grande importância no cenário cinematográfico nacional,
sendo um dos maiores diretores dos filmes do Renato. Ele trabalhou na
Cinelândia Filmes, na Atlântida e com o Herbert Richers. Com o Renato, foram
mais de onze filmes.
Renato
Aragão disse que O Trapalhão
na Arca de Noé foi inspirado em Os Caçadores da
Arca Perdida, de Steven Spielberg. Procede essa
informação?
Se
ele mesmo disse isso, é claro que concordo.
O
filme foi feito durante a separação dos Trapalhões, que durou
apenas seis meses. Dedé Santana, Mussum e Zacarias fizeram, então, o filme Atrapalhando a Suate.
Houve competição entre os dois filmes nos cinemas?
Nessa
época foi muito interessante, pois a divisão do grupo, dividiu também a minha
família. Enquanto eu filmava com o Renato, o meu irmão, Duda Villa Verde, fez o
filme com os outros três. Participamos desse momento e torcemos muito para o
retorno do grupo, para que todos ficassem bem, o que de fato acabou acontecendo
meses depois. Nas bilheterias, o filme do Renato teve um retorno maior; mas é
importante ressaltar que as duas produções foram bem-sucedidas.
Conte
sobre o seu trabalho nesse filme.
Foi
um filme lindo, ligado também às questões ecológicas. Isso no início dos anos 1980.
Veja como o Renato sempre esteve à frente do seu tempo! Experiência maravilhosa!!!
Devido
à separação do quarteto, não temeu ser retaliado por algum grupo por aderir a
um lado nessa questão?
Eu
era muito criança para lidar com esses detalhes, mas a lembrança que tenho até
hoje é a de que sempre fui muito respeitado e amado por todos.
Fruto
de um breve divórcio na carreira dos Trapalhões,
esse filme marca o único esforço individual de Renato Aragão, depois da marca
dos Trapalhões estar
concretizada. No mesmo ano, Dedé, Mussum e Zacarias montaram uma produtora que
realizou o filme Atrapalhando
a Suate. Como nenhum dos dois filmes atingiu os
resultados desejados, menos de um ano depois da briga os quatro já estariam juntos
novamente realizando filmes como Os
Trapalhões. Esse foi o principal motivo para a
volta do quarteto?
Não
sei responder essas questões. Não entro nos detalhes, apenas relembro a minha
torcida e amor por todos eles.
Os
problemas desse Trapalhão na
Arca de Noé são muitos. A começar por um enredo que
tenta ser didático (sobre a importância da proteção dos animais, bem de acordo
com a expansão do pensamento ecológico que marca a década de 1980), mas que é
confuso. Qual a sua análise a respeito disso?
Discordo
da sua colocação. Não se esqueça de que os filmes são feitos para crianças, e a
didática tem que ser direcionada a elas e não aos críticos. Sendo assim, a
lembrança que ficou desse filme foi a de um filme preocupado com as questões ecológicas,
pesca predatória, matança de jacarés no Pantanal etc. Essas mensagens são
atuais e deveriam ter sido levadas mais a sério, mesmo que abordadas de forma
lúdica.
Didi
parece completamente fora do ambiente. Não há os companheiros de cena com os
quais interagir e dar sentido ao personagem. Tenta-se colocar Sérgio Mallandro como
um contraponto cômico. Qual é a sua análise a respeito?
Não
tenho essa visão tão crítica. A leitura que fica é a de que, ainda sem os
outros companheiros, o Renato se cercou de profissionais de grande valor:
Gracindo Júnior, Nádia Lippi, Sérgio Mallandro, Dari Reis, Milton Moraes e
tantos outros.
Quais
as curiosidades desse filme que lhe vêm à memória?
Orgulho
em ter feito parte do elenco desse filme, mesmo com a opinião desses críticos e
mesmo com possíveis equívocos. Ressalto a capacidade de produção e o carisma do
Renato para seguir o “fenômeno”
que ele é até os dias de hoje.