quarta-feira, 2 de abril de 2014

Monica Nassif

Atriz.
 
Você é atriz e preparadora corporal de cinema e TV. O que mais falta ao seu currículo?
O que falta é poder atuar mais, mais oportunidades, o artista está sempre insatisfeito, quero muito fazer outro longa-metragem. Trabalhar com outros diretores.
 
Considera-se uma profissional completa?
Mesmo cantando, atuando e dançando, acredito que preciso me aprimorar em todos os sentidos sempre penso que não sei, ser completa é muito difícil.
 
Quais as suas principais recordações do filme ‘Lavoura Arcaica’?
Toda a preparação, o trabalho e o envolvimento das pessoas, o local, tudo foi inesquecível.
 
Muitos profissionais que trabalharam neste filme consideram este trabalho como um marco em suas carreiras. E com você?
Pra mim realmente foi um marco na minha carreira e na minha vida e acredito que muito mais que todos os outros pelo fato de não ter feito outro longa depois dele.
 
O filme foi realizado inteiramente em uma locação, em uma fazenda do interior de Minas Gerais. Nela, vocês (os atores) e a equipe técnica passaram nove semanas, durante as quais aprenderam a trabalhar a terra, ordenhar, fazer pão, bordar e dançar como uma família de origem libanesa. Toda essa preparação foi idealizada pelo Luiz Fernando Carvalho?
Foi, o Luiz Fernando sempre acreditou que a preparação ajuda muito o ator a construir seu personagem de forma mais profunda e a obra só ganha com isso, a preparação no Lavoura começou em caso um ano antes da nossa ida a fazenda, na minha casa, o Raul e o Léo iam até lá fazer aulas e íamos a lugares que fazem parte da cultura libanesa para pesquisa e aprofundamento, a Simone ia três vezes por semana para fazer aulas de dança, musica e atividades femininas. Na realidade ficamos dois meses preparando e dez semanas filmando. Depois ainda participei da gravação da trilha cantando as musicas das festas.
 
O filme não se tornou um sucesso de público e esteve em exibição em poucas salas de cinema no ano de sua estreia. Muitos atribuem isso à longa duração, à lentidão ocasionada pelas muitas cenas com ausência de diálogos, à fotografia quase abstrata em alguns momentos e à interpretação teatral. Você acha que o público brasileiro não está preparado para fruir um trabalho deste porte?
Acredito que exista um público específico para esse tipo de obra, mesmo fora do nosso país, são pessoas que conseguem ver arte livre de condições, como local, tempo, ritmo, trilha, volume e visual.
 
 
Mesmo consagrado, o ator Selton Mello sempre se refere ao filme Lavoura Arcaica como o seu melhor trabalho. Luiz Fernando Carvalho é sempre elogiado pelos atores, qual é o seu diferencial?
O valor que ele dá para atuação, sem maquiar com cenário, com luz, com trilha, com figurino. Ele está sempre aberto a sugestões do ator ou mesmo do artista envolvido na produção., desde que o mesmo mostre interesse e pesquisa na obra. Todos aprendem muito com ele, mesmo os mais experientes e ele também costuma dar oportunidade para muita gente nova em todas as áreas da atuação a área técnica,
 
Você continuou trabalhando com Luiz Fernando em “Hoje é dia de Maria”, gostaria que falasse desse trabalho.
Fiz como atriz Hoje é dia de Maria (primeira jornada), fazendo parte do elenco de apoio, onde conheci e trabalhei com ótimos atores, foi um trabalho feito com muito cuidado, muita pesquisa, o texto ótimo do Sofredini, os figurinos lindos de Luciana Buarque.
 
“A pedra do reino”, outra produção em que você e Luiz Fernando trabalharam juntos, já não teve o mesmo impacto que “Hoje é dia de Maria”, o que você atribui isso?
Ele me deu essa nova oportunidade de exercer meu lado preparadora,  na minissérie 'A Pedra do Reino', ficamos três meses em Taperoá, na Paraíba,  onde trabalhei com os atores e figurantes e usando técnicas corporais e rítmicas para a construção dos personagem. Acredito que o que mais prejudicou a finalização foi o estilo de edição, infelizmente não posso falar muito a respeito, porque não participei nem de longe dessa parte, e também me pareceu muito equivocada a visão alegórica para um obra tão real.
 
Como foi a experiência de trabalho na TV Cultura?
Na TV Cultura fiz 'Piano e Ganzá' o mundo musical de Mario de Andrade com o grupo as Marias de Andrade e fiz parte da equipe de cenografia do 'Vila Sésamo', 'Cultura é currículo' e 'Almanaque Educação'. Em teatro fiz e faço muitas coisas, adultos, de rua e infantil.
 
Sua filmografia em curtas-metragens é muito interessante, gostaria que falasse sobre alguns trabalhos:
 
'Antes da Chuva' – o roteiro foi muito bem escrito, a equipe bem sintonizada e interessada, em que tudo funcionasse, mas não houve direção em muitos momentos.
 
'Scrapers' – essa produção foi muito melhor cuidada em comparação com a outra, e a direção foi ótima, todos gostaram muito de participar.
 
 
Como é a sua preparação para trabalhar em curtas-metragens que têm a síntese na sua essência?
Sempre peço o texto antes e procuro conversar com o diretor, claro que tudo depende do ator interessado e que busca referências para o seu personagem, fiz um outro curta depois, que ainda não foi mostrado e que tivemos até ensaios semanais.
 
Você canta e atua. Há um tempo profissionais com essas características sofriam preconceito. Como está a situação nos dias de hoje?
Hoje em dia existe uma valorização desse profissional, mas também tem preconceito com o tipo de interpretação, muitos acreditam que quem faz musicais não consegue fazer outra coisa e com outra medida de atuação. No meu caso agora o agravante são os poucos personagens com idade.
 
Acredita que um dia a população, de todas as regiões do Brasil, terá acesso igualitário à cultura?
Acredito que existe por parte principalmente dos artistas essa preocupação, que não depende só deles, mas isso já é um começo para mobilizarmos também os órgãos públicos sei também que muitas regiões não tem nem o que comer e beber.
 
 
O que tem a dizer para aquelas pessoas que pensam que sucesso na carreira de atriz é aparecer na televisão?
A cobertura que a mídia dá para alguém que apareceu apenas porque causou um transtorno para um grupo pequeno de pessoas é inacreditável, e a falta de esclarecimento de que isso não acrescenta nada na vida das pessoas é outra coisa que não dá pra entender. Acredito que isso abala a formação de quem está começando a fazer parte da sociedade e de quem “contribuir” não faz parte do vocabulário, essa pessoa aprende que ser honesto e bom não leva ao sucesso, que ganha pouco quem ensina, então as relações ficam sem base alguma, porque o que acontece quando encontramos pessoas no dia a dia é um ensinar e aprender, existe um interesse no outro,  em acrescentar alguma coisa ao outro e o que o outro pode acrescentar si mesmo, mas isso não dá “ibope” então sempre me perguntam qual novela fiz, porque não estou na TV, vivo do quê, profissionalmente faço o quê.....Para quem tem a arte como forma de manifestação o sucesso é a última coisa, ser bem sucedido e reconhecido no seu trabalho faz parte de todas as carreiras, e na arte não é diferente.
 
Encontrar o melhor trabalho, melhor remunerado (o que não acontece na TV)  muitas vezes é aquele que  visto apenas por alguns “sortudos”.
 
Para finalizar, gostaria de saber como analisa a produção audiovisual brasileira. Estamos vivendo um bom momento?
Sem duvida, o momento é muito especial para essa área, vejo e acompanho muitos trabalhos, e realmente temos que aproveitar e fazer com que só melhore! Fazendo trabalhos bem cuidados, profissionalmente inquestionáveis!