sexta-feira, 1 de março de 2013

Bruno Mazzeo




Você é roteirista desde 1991, escrevendo para diversos programas de humor. O que é necessário para se tornar um grande roteirista? 
Tendo o dom, acho que o mais importante é praticar. Escrever todo dia, nem que seja pra jogar fora. E disciplina, mesmo que dentro do caos. 

Como é o seu processo criativo? Como é feita a composição de ideias? 
Não existe um processo. Sento para escrever e torço para que a inspiração me pegue trabalhando. Até porque normalmente escrevo com prazos. 

Você se consolidou na TV paga antes de se expor na TV aberta. Atualmente a TV paga é o grande centro de experimentação, de inovação? Só é possível romper cânones ali? 
Me consolidei na paga como ator, porque como roteirista já tinha uma carreira na Globo, com programas como Sai de Baixo, A Diarista e Vida ao Vivo. A TV paga precisa de mais produtos, então acaba abrindo mais espaço. Mas acho que ela poderia ser um pouco mais ousada. 

Você escreveu e protagonizou a série ‘Cilada’, exibido pelo Multishow. Em 2007 o programa foi eleito pela equipe do jornal O Globo um dos dez melhores programas do ano, e entrou na lista das cem melhores séries de todos os tempos, elaborada pela revista Monet, através de um júri especializado. Qual era o diferencial do programa? 
Acho que o formato. Tanto que ganhamos prêmios internacionais em Budapeste e Barcelona justamente pelo "formato inovador". Tenho muito orgulho do formato, da mistura de linguagens. Quanto ao conteúdo, tratava de assuntos comuns a todos nós, por isso as pessoas se identificaram fazendo-o líder de audiência na época e hoje, mais de 3 anos depois de ter terminado, líder no Now. 

Em 2010 foi selecionado para o INPUT, festival realizado em Budapeste, que seleciona os mais inovadores programas da TV mundial. O que podemos considerar de inovação? 
Justamente a mistura. Tinha um amigo que brincava que o programa era o Chico Science do humor. Partíamos do stand up, tentando decifrar todas as ciladas que o ambiente escolhido trazia. Aí dramatizávamos a situação. Mas mantendo o comentário do stand up no fim ou início de algumas cenas, através daquele split de tela. Somava-se a isso os falsos depoimentos brincando com o jornalismo e os realities. 

Parte da crítica acredita que você esta criando um novo gênero no cinema nacional, a "neo-pornochanchada" --como definiu Fernanda Torres. O que tem a dizer sobre isso? Você se considera o criador do gênero ou um especialista nessa área? 
Nem criador nem especialista. Não penso nisso. Apenas conto as historias que tenho vontade. Fiz três filmes diferentes entre si e o quarto seguirá sendo diferente, buscando um filme infanto-juvenil. Mas tenho até dramas na lista pro futuro. 

O que é o "estilo Bruno Mazzeo" de fazer cinema? 
(risos) Não existe isso. É o "estilo o que o Bruno Mazzeo tiver com vontade de dizer naquele momento". 

Além de saber fazer cinema é preciso ter tino comercial? 
Com certeza se eu e meu sócio Augusto Casé (principalmente ele) não tivéssemos, não teríamos feito 3 filmes em 3 anos. Isso é muito raro e difícil. Tenho uma característica empreendedora, sempre fui assim. E me dei bem formando uma parceria com um cara mais pilhado que eu!


"E Aí Comeu?" é o terceiro sucesso consecutivo que leva seu nome, e atualmente todos os seus passos no cinema criam grande expectativa. Hoje o seu maior prazer está em fazer cinema? 
Não diria o maior prazer, mas um dos. Paralelamente fiz uma novela, tenho no momento duas peças em cartaz (como autor) e estou preparando meu primeiro monólogo para o teatro. Gosto de fazer trabalhos que me deem prazer, independente da mídia. 

Como surgiu a ideia de fazer "Muita Calma Nessa Hora"? 
Foi do Rick Nogueira, que procurou o Casé, que me procurou. O argumento, a ideia, veio do Rick, que tinha produzido a peça "Amigas" com a Luana Piovani. Na época eu escrevia o quadro da Tati, a adolescente que a Heloisa Perissé fazia no Fantástico. Por isso acharam que eu teria a cara do projeto. Já havia um primeiro tratamento, mas eu joguei fora quase tudo e recomeçamos. 

Pensadores, contemporâneos ou não, acreditam que todo artista deve vacilar, ficar inseguro antes e depois de fazer qualquer trabalho. Ao fazer "Cilada.com", quais foram as suas expectativas? 
Procuro não criar expectativas justamente para evitar decepções. O meu ideal é fazer um trabalho que me orgulhe. O resto é consequência, até porque não existem regras e métodos. For a as outras circunstâncias que interferem, como época, lançamentos internacionais, etc. 

Quais os cineastas que se inspira para produzir as suas obras? 
Gosto de muitos, desde os loucos da "Nova Hollywood" como Altman, Scorcese, Coppola, até Tarantino, Irmãos Coen, passando pelos gênios da comedia Woody Allen, Billy Wilder… Mais Cassavetes… é muita gente boa fornecendo fonte pra gente beber. 

Qual é o tipo de cinema que mais te alimenta e lhe dá base para criar? 
Tenho fases. E a cada filme é comum buscar referências, seja para personagens, seja para climas. No "E aí, comeu?" por exemplo, vimos muito "A Primeira Noite de um homem" e "Manhattan". 

Podemos considerar seus filmes como uma comedia erótica, com grosserias, mas com final edificante, do tipo que os americanos sabem fazer muito bem? 
Não acho nem eróticos, nem com grosserias. Quanto aos finais edificantes… tenho dúvidas. Hollywood já disse desdisse tanto isso…



Sua bilheteria sempre passa de um milhão de espectadores e a tendência é crescer ainda mais. É difícil competir consigo mesmo, tentando fazer com que o próximo filme faça maior sucesso que o anterior? 
Juro que se eu for pensar nisso, piro. Vai chegar a hora de um filme fazer menos que um milhão e eu não vou poder (e nem quero!) ficar triste com isso. 

Antigamente era muito comum artistas, cineastas e produtores “picharem” os seus pares (Sganzerla, Glauber Rocha, para citar dois nomes, faziam isso). Atualmente cria-se uma celeuma muito grande quando um artista fala – mal – do outro. Acredita que a arte está muito comportada? 
De cara lembrei de Claudio Assis e Domingos de Oliveira, que falaram mal dos meus filmes. Prefiro continuar só fazendo filmes. 

Você já relatou dificuldades em lidar com as "mídias sociais", algumas declarações que deu causaram grande impacto na imprensa e no público. Pensa em se afastar de vez delas? 
Já me afastei. Concordo com o Al Pacino que sempre diz que quanto menos o público souber sobre o artista, mais vai acreditar nos seus personagens. 

Além de escrever, atuar e produzir seus filmes, pensa também em trabalhar em projetos que não sejam seu? 
Ano que vem estreia um filme do Mauricio Farias, do qual só participo como ator. Nas duas novelas que fiz também foi assim. E no "Sob Nova Direção", seriado do qual participei por um ano só como ator. Gosto dos bons trabalhos. Lamentei muito não ter tido agenda pra aceitar fazer o Chimbinha num projeto muito bacana sobre a historia da banda Calypso. 

O que te faria aceitar participar de um filme? 
Roteiro, personagem, pessoas envolvidas, diretor que eu admire. Ou simplesmente um projeto pequeno de um amigo. 

Tem interesse em fazer curtas ou atuar neles? 
Já fiz uns três. Foi como ganhei inclusive meu único premio em cinema, como ator, num curta chamado "Quintas Intenções", do Mauricio Rizzo. 

Em algum momento será inevitável a sua ida á direção de um filme? 
Acho muito difícil eu dirigir um filme. Não tenho nem talento nem vocação. Gosto da função de produtor, de dar o corte final, de participar de todos os processos, desde o roteiro até o cartaz. Mas dirigir acho que eu realmente não saberia. 

No teatro, você já atuou, produziu, escreveu e dirigiu diversos espetáculos, como ‘Descontrole Remoto’ e ‘Os Famosos Quem?’.Recentemente entrou em cartaz na peça ‘Enfim, Nós’,ao lado de Fernanda Souza, texto seu em parceria com Cláudio Torres Gonzaga. O que é o teatro para você? 
É para onde eu volto sempre que preciso de um novo oxigênio. É para onde pretendo voltar ano que vem. Contato direto com o publico. 

‘Brasil 2020 - Socorro!!! O Futuro Chegou’ é a sua única incursão na literatura. Por que? 
Escrevi também um livro sobre o Vasco. Pensei em adaptar as crônicas que escrevia no meu finado blog. Cheguei a acertar com uma editora para lançar "Os Textos Que Escrevi de Graça", mas desisti. Pretendo escrever um romance, mas, para isso, ainda preciso comer muito feijão com arroz. 

‘Pé na Jaca’,‘Beleza Pura e ‘Cheias de Charme’ foram novelas que você atuou. Para uma mente inquieta, sempre envolvida em projetos, ingressar nessas produções não te “aprisiona”? 
Aprisiona no sentido do tempo. Mas me acrescenta muito, é um aprendizado muito grande. 

Para finalizar, gostaria que falasse como espera encontrar o panorama do audiovisual brasileiro daqui a uma década. 
Com as pessoas unidas em prol da cultura, respeitando as diferenças, sabendo que há espaço para todos e os mais variados formados. É nossa única chance de fazer um país melhor.