Denise
Fontoura
Montadora
Como
surgiu o convite para trabalhar com Os
Trapalhões?
Lembro
que naquela época Os Trapalhões resolveram
mudar a equipe de montagem de seus filmes e começaram a contratar profissionais
mais jovens no mercado. Estavam querendo inovar na linguagem e no ritmo de seus
filmes. Eu fui uma delas.
Antes
de iniciar essa parceria profissional com eles, você já acompanhava os seus filmes?
Sim.
Eu sempre tive vontade de trabalhar com eles. Meus filhos eram pequenos na
época, sempre íamos nas pré-estreias.
Como
surgiu o convite para trabalhar em Atrapalhando
a Suate? Em algum momento, Renato Aragão tentou
demovê-la da ideia de ingressar na equipe desse filme?
Essa
briga foi por conta que o Renato sempre queria a autoria e os créditos de tudo
para ele. Os outros três não estavam satisfeitos com esse império dos Aragões e
resolveram se separar. O Dedé me ligou, explicou-me o que estava acontecendo, disse
que os três iam partir para uma empreitada e perguntou se podiam contar comigo.
Eu disse que sim.
A
DeMuZa Produções foi criada com o intuito de apenas gerir os negócios dos três
humoristas (Dedé, Zacarias e Mussum)?
Sim,
a DeMuZa foi a empresa criada pelos três para gerir seus trabalhos e filmes (shows, filmes, comerciais
etc.).
Na
sua análise, por que a separação durou apenas seis meses?
Com
o sucesso de Atrapalhando a Suate,
o Renato viu que os três podiam caminhar sem ele, reviu os contratos e a paz
foi selada novamente. Os quatro juntos tinham mais força, mesmo que os filme
feitos na separação tenham sido sucesso para ambos.
Houve
sequelas da separação? Teve receio de ser retaliada por ter trabalhado com o
trio dissidente?
Que
eu me lembre não houve sequelas. Foi como toda separação de casamento de muitos
anos: necessária para renovar a relação.
Tião
Macalé atua nesse filme, ele que era considerado o quinto Trapalhão. Quais as
lembranças dele?
Sempre
muito solícito nos sets de
filmagem, muito agradável a convivência com ele.
Os Trapalhões e o Mágico de Oróz foi
produzido em conjunto com a Renato Aragão Produções (de Renato Aragão) e a DeMuZa
Cinematográfica (fundada por Dedé, Mussum e Zacarias). Foi o primeiro filme do
quarteto assim que eles reataram. Havia algum resquício daquela separação nas
filmagens? Chegou a constatar algo?
Depois
da reconciliação, a paz foi selada e correu tudo bem.
Quais
as suas recordações dos bastidores desse filme?
Como
em todos os filmes deles, o clima das filmagens era sempre de muito
profissionalismo e alegria de todo mundo. Trabalhar com Os Trapalhões sempre foi num
ótimo astral.
Você
trabalhou também no filme A
Filha dos Trapalhões. O filme aborda o
problema social dos compradores de bebês por quadrilhas especializadas. Vendem recém-nascidos
para famílias ricas, principalmente da Europa. Quais as suas lembranças de trabalho
nesse filme?
O
tema em si é de muita emoção, recordo-me de muita emoção no set e na montagem também.
Os Trapalhões moram
no meio de uma lagoa (Lagoa Rodrigo de Freitas), em uma moradia que lembra
muito uma palafita. O número da casa é o 36 (apesar de não terem vizinhos)
contendo ainda a frase “Venha
viver como você gosta.” Você se
recorda dessas referências?
Aquela
casa foi construída para o filme. Na sequência do tiroteio, foi muito
engraçado: um dos quatro, não me lembro qual deles agora, chegou a cair dentro d’água,
muitas lanchas passando, muita marola.
As
músicas desse filme foram lançadas no LP A Filha dos Trapalhões,
de 1984, que tinha participação especial do ator Arnaud Rodrigues com o personagem
Zé Paraíba. Arnaud já havia atuado no filme anterior, Os Trapalhões e o Mágico
de Oróz,
e seguiu compondo várias músicas para outros filmes do quarteto. Quais as suas
recordações de Arnaud? Como era a relação dele com o quarteto?
Arnaud
era muito querido, sempre muito alegre, fazia suas brincadeiras e sacaneava todo
mundo nas filmagens.
Quais
as suas recordações dos bastidores desse filme?
Lembro
bem que o filme foi montado na R. A. Produções, uma produtora com estúdio na
Avenida Airton Senna. Lá, eu passava a maior parte do dia e parte da noite,
trabalhando. A sala de montagem era perto do estúdio onde foi rodada a maior
parte do filme. Nos intervalos, o Dedé Santana ia sempre para a sala de montagem,
acompanhar o trabalho. Era ele quem acompanhava a montagem.
Como
era o seu contato com o quarteto (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias)?
Tinha
mais proximidade com o Dedé, pelo fato de ele acompanhar o trabalho de montagem.
Com os outros três, sempre era farra e brincadeiras.
Seguindo
a ideia de pegar carona no sucesso da literatura, cinema e televisão brasileira
para compor paródias, Os
Trapalhões chegaram em 1983 ao mundo do cangaço. A
fórmula foi tão pensada que aproveitaram até mesmo Nelson Xavier e Tânia Alves
para repetir o casal Lampião e Maria Bonita, que haviam interpretado no ano
anterior na minissérie da Rede Globo. Não, por acaso também, os mesmos
roteiristas da minissérie escreveram o roteiro do filme O Cangaceiro Trapalhão. Doc
Comparato e Aguinaldo Silva entraram no clima, para criar uma história
divertida que consegue misturar bem o cangaço com as trapalhadas do grupo. De
que se recorda desse trabalho?
Acredito
que essas características se devem ao fato de este filme ter sido dirigido por
Daniel Filho.
Os
efeitos especiais desse filme chamam a atenção, a coreografia na parede, o clima,
o figurino, o mundo encantado dentro do poço. Como foi trabalhar com esses
efeitos?
A
cada novo filme, Os Trapalhões inovavam
na linguagem. Conviver com essa linguagem foi muito bom, numa época em que os
efeitos especiais eram pouco usados no cinema brasileiro.
Como
foi trabalhar com Daniel Filho nessa produção?
Foi
enriquecedor. Ele sempre inova, a cada trabalho que faz.
Que
representava, naquele período, trabalhar num filme dos Trapalhões, que eram
certeza de sucesso de bilheteria?
Garantia
de trabalho durante o ano todo.
Que
tem a dizer do ator Carlos Kurt? Ele teve uma participação muito ativa no cinema
dos Trapalhões.
Assim
como Carlos Kurt, outros atores participavam de todos os filmes dos Trapalhões. Eram
classificados de elenco fixo... Sempre havia papel para esses atores.
Renato
Aragão tem fama de ser profissional de excelência, atento do roteiro ao cartaz
do filme, perfeccionista. Isso procede?
Procede.
Ele não só seguia à risca o roteiro, como inventava cacos na hora da filmagem.
É realmente um grande profissional. E, se não gostava de alguma coisa, mesmo
com o filme pronto, refazia, até ficar a seu gosto.
Acredita
que o cinema era a grande paixão do Renato, mais que a televisão? Na sua visão,
de onde vinha essa característica tão profissional do Renato? Dedé, Mussum e
Zacarias eram preocupados somente em atuar?
Acredito
que ser Trapalhão é
a grande paixão do Renato. Nos filmes, ele tinha oportunidades de
interpretação, o que nem sempre na televisão era possível, pela linguagem
diferenciada, pelo timming.
Só no cinema ele tinha esse espaço maior para interpretar.
Quem
era o maior comediante do grupo?
Cada
um tinha uma característica diferente. Os quatro eram ótimos comediantes.
Por
que, na sua visão, os críticos e a Academia rejeitam os filmes produzidos e estrelados
pelos Trapalhões?
Não sabia que não
gostavam deles.
Como
classifica o cinema feito pelos Trapalhões?
Magia,
comédia pura e pastelão de primeira linha.
Os Trapalhões sempre
“brincaram”
em parodiar filmes e clássicos estrangeiros de sucesso para o cinema. Que pensa
a respeito dessa linha que eles seguiram?
Um
ato de muita coragem deles que deu certo.
Gostaria
que contasse alguma curiosidade ou fato desconhecido do público que tenha
presenciado como testemunha ocular.
O
que tenho na memória é que aprendi muito com o cinema dos Trapalhões, cinema
profissional, feito com a dinâmica de televisão e com o resultado muito cinematográfico.
A cada filme que faziam, surpreendiam na linguagem, nas inovações simples e que
sempre deram certo. Foi muito bom trabalhar com eles, uma experiência muito
rica de emoções, porque eles faziam filmes infantis, dos quais os adultos é que
mais gostavam. A energia das crianças sempre esteve presente no astral dos Trapalhões.